Sete

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— Por que é que tá demorando tanto? — eu pergunto, roendo a minha última unha sobrevivente enquanto caminho de um lado para o outro.  — Por que ela não voltou ainda?

— Não passaram nem três minutos, Luciana — Mylenna fala, ao mesmo tempo que o segundo chamado para o nosso voo ecoa nos alto-falantes — Calma.

— Não se preocupem, meninas — Manoel diz, mas uma ruga no meio de sua testa denuncia que ele próprio está preocupado. — Como eu disse antes, o que estão fazendo é procedimento padrão.

— Mas a Gabriela não usa drogas — eu digo.

— Eu sei, só que somos um grupo grande que chama a atenção, e eles sempre escolhem algumas pessoas para verificar — Manoel fala. — Apenas fiquem calmas.

— Mas e se a gente perder o voo? — Raíssa pergunta.

— Não vamos perder — Manoel diz. — E se perdermos, eu peço para alguém do aeroporto no Caribe guardar nossas malas até conseguirmos o próximo voo. O máximo que pode acontecer é chegarmos depois de Paula e Hari.

— Não, não, não — eu digo. — A gente tem que chegar antes pra conseguir filmar a chegada delas.

— Mas vocês vão passar uma semana inteira com elas — Manoel diz. — Pra que filmar a chegada?

Eu volto a andar de um lado para o outro.

— Ei, Luh — Letícia me chama. — Vem aqui.

Ela estende uma mão para mim e abre um espaço entre ela e Stefani no banco em que está sentada. Eu me sento ao seu lado, e ela segura minha mão.

— Respira fundo — Letícia diz, baixinho. —Fica calma.

Eu relaxo minha cabeça no ombro dela e começo a respirar enquanto conto mentalmente até dez.

— Vai ter alguém esperando por Paula e Hari se elas chegarem antes de nós? — Mylenna pergunta.

— Não — Manoel fala. — Era para nós esperarmos as duas. Elas vão chegar sozinhas.

— Não — eu digo. — Não, de jeito nenhum! Não vou deixar minhas filhas perdidas no Caribe sozinhas.

Eu começo a me levantar de novo, mas Letícia empurra meu ombro para que eu continue no mesmo lugar.

— Suas filhas? — Manoel pergunta, com um meio sorriso. — Que eu saiba, foi você quem veio com uma mala da Barbie para cá.

Mas quem esse cara pensa que é?!
Eu inspiro fundo para não falar nenhuma besteira, e me concentro na minha respiração. Só não grito com Manoel porque é ele quem está nos levando para viajar com Pauriany.

— Já gostei de você, Manoel — Stefani diz.

Eu a encaro e ergo minha sobrancelha, mas não digo uma palavra. Ela revira os olhos.

— Ai, Luciana, você sabe que eu te amo, né? — ela diz, enrolando um braço em volta do meu pescoço. Sinto Letícia segurar mais forte a minha mão, e sorrio internamente com esse gesto dela.

— Também te amo, Stefani — eu digo. —Apesar de querer te matar às vezes.

— Mas falando sério agora, a Paula e a Hari são mulheres já — Manoel diz. — Estão acostumadíssimas a viajar sozinhas. Não se preocupem tanto.

— A gente quer ver a chegada delas — Letícia diz. — Por favor. Temos que chegar antes.

Manoel parece estar se divertindo com o nosso desespero.

— Confiem em mim. Ninguém vai perder voo nenhum.

— Não vão mesmo — uma voz fala atrás de mim.

Eu me viro e vejo Gabriela. Ela se aproxima de nós.

— Ah, graças a Deus — eu digo, e corro para abraçá-la. — Graças a Deus. O que foi que aconteceu lá dentro?

— Nada demais — ela diz. — Só me revistaram inteira e fizeram umas perguntas.

— Tá, mas você vai com a gente, né? — Raíssa pergunta.

— Claro que vou — Gabriela afirma. — Por que não iria?

O som do último chamado para o nosso voo impede que qualquer uma de nós responda. Nós nos levantamos apressadamente até o local do embarque.

Antes de colocar os pés no corredor que leva ao avião, dou uma última olhada para o aeroporto ao meu redor e me despeço silenciosamente do Brasil.
Sei que estou caminhando rumo à melhor semana da minha vida.

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