Dezesseis

58 4 0
                                    

A água do chuveiro escorre pelo meu corpo, tirando todo o sal do mar do Caribe. Consigo ouvir o burburinho das conversas das meninas no quarto, e o som baixo de alguma música atravessa a fresta da porta que me separa delas, dando uma trilha sonora para o meu banho.

São quatro horas da tarde; o sol ainda está alto lá fora. O barco nos trouxe da ilha dos flamingos há alguns minutos, e temos pouco tempo para ficarmos prontas antes do próximo passeio.

Eu ouço batidas na porta principal do nosso quarto, que se sobrepõem à música e às conversas das meninas. Alguém se apressa em abri-la.

—  Oi — uma voz diz. Parece ser Manoel.

A voz de Stefani responde alguma coisa, mas não consigo entender direito.

— Trouxe sua mala — Manoel fala. Seu tom parece sério demais, ou é o barulho da água quente em minha cabeça que está distorcendo sua voz.

Eu desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Me esforço para ouvir o que estão dizendo enquanto me seco.

Stefani agradece Manoel e escuto o barulho de algo caindo no chão. Parecem papéis.

—  Tá tudo bem, Manoel? — Letícia pergunta.

Eu  visto minhas roupas rapidamente e abro a porta do banheiro. Me deparo com Manoel ajoelhado no chão no meio do quarto,  juntando um punhado de papéis que caíram de um envelope em papel pardo.

— Tudo certo —  ele diz. —  Desculpem, meninas.

— Oi — eu digo. — Quer ajuda?

— Ah, oi Raíssa. Não precisa, obrigado.

Ele se levanta e fecha rapidamente o envelope. Seu rosto está completamente pálido. Eu troco um olhar com as meninas, mas não dizemos uma palavra.

—  Nós vamos para o centrinho de Aruba — Manoel continua. — Paula e Hari precisam tirar umas fotos para uma campanha, então eu vou dar uma volta com vocês. Depois nos encontramos com elas para o jantar.

—  A gente não pode ver o ensaio? — Luciana pergunta.

—  Não — Manoel diz. — Só permitiram a entrada da equipe da campanha. Mas nosso passeio vai ser divertido. Volto para buscar vocês em quinze minutos.

Ele sai do quarto sem se despedir.

— Alguém mais achou que ele fosse desmaiar? — Mylenna pergunta.

— Parece que ele viu um fantasma — eu digo, um pouco incomodada. — O que será que aconteceu?

— Não sei, mas não consigo gostar dele — Mylenna fala.

— Já reparei  — Gabriela diz.

— Para com isso, ele é bem legal — Stefani diz, enquanto abre o zíper da mala. — Ah, que saudades das minhas coisas.

Ela esparrama os itens da mala pela cama, deixando sete pacotinhos de presente rolarem pelos cobertores. Eu pego um deles.

— O que é isso?  — eu pergunto. Ela arranca o pacote da minha mão.

— Presentes — ela diz. — Os maiores são para Pauriany. Os outros são pra vocês.

— Pra gente?  — Letícia pergunta.

— É, uai  — Stefani fala.

— Awn, vendo assim parece até que é fofa  — Luciana diz, apertando as bochechas dela.

— Eu sou fofa sim  — Stefani retruca.  — Muito fofa.

Ela pega os pacotinhos e enfia de volta na mala.

CosmosOnde histórias criam vida. Descubra agora