— Bom dia, bela adormecida.
O mundo está embaçado quando abro os olhos. Eu pisco para tentar focalizar as imagens ao meu redor, mas meus óculos fazem falta. Tento mover minhas mãos para procurá-los, e descubro que elas estão amarradas atrás da cadeira onde estou sentada.
Não tenho a menor ideia de quanto tempo passei aqui; minha última memória se resume a uma conversa confusa com Manoel... Algo sobre o céu, saudade e cativeiros.
Eu olho para quem me desejou bom dia e, apesar da confusão mental e da miopia, reconheço o sorriso debochado e a testa infinita na hora.
— Doc?! — balbucio. — O que você...?
— Paulo — ele corta. — Me respeita, Raíssa.
Eu me remexo na cadeira, na esperança de me soltar das cordas que me prendem. Paulo dá uma gargalhada áspera e me encara com aqueles olhos irônicos que eu tive que suportar em tantos stories.
— Eu solto você, se quiser — ele diz. Apesar de tudo, sua voz me impede de levá-lo a sério. — Você não tem como escapar, de qualquer forma.
Ele vem até mim e solta as amarras. Eu giro meus punhos e tornozelos, que parecem enferrujados. Por algum motivo, não estou tão surpresa assim em vê-lo.
— Meus óculos. Cadê?
Ele dá de ombros.
— Você já estava sem eles quando chegou.
Sinto uma pontada no estômago quando ele diz isso. Além de estar em um lugar totalmente desconhecido com uma péssima companhia, não consigo enxergar direito.
Eu estreito meus olhos e identifico uma série de caixas de papelão atrás de Paulo, encobertas por uma lona preta rasgada. A parede no canto direito está descascando e as lascas de tinta que caem dela se misturam a uma engenhoca qualquer que minha visão limitada não reconhece. Ao lado da cadeira onde estou sentada há uma cama velha e rasgada, sem travesseiros ou cobertas.
A luz do sol entra por pequenos buracos feitos numa grade que fica atrás de mim, o único indício de claridade do lugar - o que me faz perceber que deve ter amanhecido há pouco tempo.
— Que lugar é esse? — eu pergunto, depois de longos instantes de silêncio desconfortável. — O que eu tô fazendo aqui?
— Algum lugar deserto do Caribe — Paulo diz. — Espero que se sinta em casa. Fizeram um lanche para você.
Assim que ele termina de falar, um homem de máscara preta aparece segurando uma bandeja onde repousam um copo d'água e uma maçã escurecida.
— Aqui — o homem fala, apoiando a bandeja em cima das minhas pernas.
Eu reconheço sua voz na hora.
— Não quero — digo, afastando a bandeja do meu nariz o máximo possível. — Por que você tá de máscara? Sei que é o Sapo.
— O Daniel é tímido — Paulo responde por ele. — Por que ninguém nos chama pelo nome?!
— Ah sim, muito tímido. Já reparei — eu resmungo. — O que vocês vão fazer comigo? Cadê Manoel?
A expressão de Paulo cintila de um jeito sombrio; seu sorriso se alarga e seus olhos passam por mim como se estivessem me estudando.
— Você não parece com medo — ele observa. — Não está nem tentando fugir.
— Ué, você disse que não tem como fugir — eu falo, me surpreendendo com a calma na minha voz. Estou tentando ganhar tempo enquanto ele fala comigo.
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Cosmos
FanfictionO que você faria por alguém que acabou de conhecer pessoalmente? Letícia, Mylenna, Gabriela, Raissa, Stefani e Luciana são garotas completamente diferentes: idades diferentes, cidades diferentes, vidas diferentes... Se conheceram através do fandom...