Cosmos

Vinte e sete

A sensação que eu tenho é que uma bomba explodiu no meio do saguão do hotel. Talvez uma bomba de verdade tivesse causado menos estrago.

Eu sinto meu corpo gelar. Penso em Manoel no primeiro dia de viagem, brincando com Luciana, rindo dos nossos surtos, filmando a chegada de Pauriany... Como alguém consegue manter um personagem por tanto tempo?

— Eu sabia — Mylenna murmura. — Sabia que tinha algo errado com esse cara. Não era ciúme, não era implicância, tinha alguma coisa me impedindo de gostar dele...

— Você tava certa o tempo todo — eu digo, sentindo a raiva tomar conta de mim. — Não acredito que confiei nele. Não acredito que gostava dele!

— Você não tem culpa, Ste. Ninguém ia imaginar isso — My fala.

Eu assinto, embora ache que ela esteja errada. Se a gente tivesse prestado mais atenção...

— Desgraçado — Luciana grita, pontuando a palavra com um soco no braço da poltrona. — Eu vou matar esse desgraçado!

— Então é por isso que não recebemos nenhum sinal de vida — Paula diz. Suas pupilas estão gigantes e encobrem quase todo o azul de seus olhos. — Esse tempo todo, a gente ficou esperando por uma notícia dele...

Ela balança a cabeça com pesar. Hari emite um longo suspiro ao lado dela. Sua boca está branca e os olhos se mantém fixos em um quadro abstrato atrás do recepcionista grosseiro.

— Meu celular — Hari fala, mas a cabeça parece estar em algum outro lugar bem distante. — Manoel levou meu celular com as provas.

— Filho da puta — Gabriela xinga. — O que a gente faz agora? Não tem ninguém procurando por Raíssa.

— Vocês têm que vir comigo — Alice anuncia. — Eu sei como ajudar.

— Não! A gente precisa fazer o que Manoel devia estar fazendo — Luciana grita e puxa Letícia pela mão em direção à saída do hotel.

Alice se posiciona na frente das duas.

— Não adianta sair por aqui — ela sussurra. — Manoel deu ordens para que ninguém deixasse vocês saírem do hotel.

Letícia solta a mão de Luciana e encara Alice.

— Ele fez o quê...? — ela pergunta, estalando os dedos nervosamente.

— Isso que você ouviu — Alice diz. — Podem tentar sair. Eles vão dizer que vocês não são autorizadas.

O desespero começa a tomar conta de mim. Todas nós começamos a falar ao mesmo tempo; o saguão é inundado pelos nossos gritos de indignação.

— Eles não podem nos prender aqui dentro! — Paula exclama.

Alice leva o indicador nos lábios em sinal de silêncio, e nos agrupa num cantinho mais reservado. Alguns hóspedes lançam olhares irritados a nós.

— Me escutem — ela pede. — Tem um jeito de sair sem sermos vistas, mas vocês precisam confiar em mim.

Eu olho para as meninas, me sentindo insegura. Pode ser uma armadilha.