Trinta e seis

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É um dia quase normal no aeroporto de Curaçao. Pessoas passam apressadas pelas milhares de filas que formam caracóis em volta dos guichês, enquanto aviões chegam e partem a todo momento. Malas são despachadas, portões de embarque são abertos, abraços de despedida são dados. Guias turísticos seguram plaquinhas e aguardam na frente das áreas de desembarque, crianças passam a toda velocidade pelos corredores abarrotados de gente, seguidas pelos pais de cabelo em pé.

Seria um dia normal, se as pessoas não voltassem os olhares para o grupo parado na frente da tela de voos. Todos prestam atenção nelas, reconhecem dos jornais e da televisão: as brasileiras que pararam o Caribe nos últimos dias.

Raíssa olha para os horários dos voos com um misto de sentimentos. Cada uma das meninas vai fazer uma conexão diferente. Isso significa que cada uma vai entrar em um portão e tomar seu próprio rumo, voltar para sua cidade, retornar à sua rotina. Como Alice tinha dito, vão se tornar mais um nome na lista de chekouts.

— Então essa é a hora de dar tchau — Raíssa diz, sentindo a voz embargada. — Achei que esse momento não ia chegar.

— Eu também — Stefani concorda. — A gente esperou isso por tanto tempo, e agora acabou.

— Não sei como vocês aguentam isso toda vez que se encontram — Mylenna fala, se virando para Paula e Hari.

Hari sorri. Seus olhos estão brilhando.

— A gente não aguenta — ela confessa. — Choramos toda vez.

— Só você chora — Paula discorda. — Eu só fiquei com o olho molhado na última vez porque fiz xixi antes da despedida.

— Até parece, você fica é morrendo de saudades — Hari retruca, mostrando a língua.

Raíssa sente um nó se apertar no fundo da garganta. Ela não quer chorar na frente de todo mundo, mas está difícil segurar. Vai sentir falta dessas implicâncias ao vivo.

— Gente, se acalmem — Gabriela diz. — Ainda temos as ilhas Maldivas pela frente.

— Você profetizou, né? — Stefani comenta. — No dia do jantar de quatro meses.

— Ih, é mesmo — Luciana concorda. — Eu lembro. Ela disse que a gente ia comemorar o próximo mês nas ilhas Maldivas.

— Gabriela Tang — Letícia diz.

Gabriela dá uma risada.

— Já podem me contratar.

— Você podia me passar os números da Mega Sena — Paula sugere, com um meio sorriso.

Hari ergue as sobrancelhas. Parece realmente indignada.

— Não sei pra quê — ela fala. — Você já é milionária e mão de vaca. Vai ter dinheiro pro resto da vida.

— É impressionante como essa menina adora queimar o meu filme — Paula reclama com um beiço.

Um apito soa nos altos falantes espalhados pelo aeroporto, seguido de uma voz anasalada que anuncia um chamado para embarque. Hari levanta a cabeça na direção do som, preocupada.

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