— Aconteceu alguma coisa? — Stefani me pergunta assim que a porta se fecha, nos deixando sozinhas.
Eu engulo em seco. Faz tempo que estou tentando ter essa conversa com ela, e finalmente parece ser o momento certo.
— Eu só... — eu digo, enquanto me sento na poltrona que fica no canto esquerdo do nosso quarto. — Tem uma coisa que não sai da minha cabeça.
Ela ergue os olhos e chega mais perto de mim.
— Pode falar.
— Aquele dia, na ligação — eu começo. — Você não estava daquele jeito por causa do sonho da Luciana. Tinha outra coisa, não tinha?
Ela dá de ombros e encara o chão.
— Por que você acha isso?
— Eu não acho. Eu tenho certeza.
Sua respiração está pesada, e ela continua fitando os próprios pés. Parece não conseguir me olhar nos olhos.
— Ste... Pode confiar em mim — eu digo, baixinho.
— Adianta dizer que não era nada? — ela me pergunta, com um sorriso torto.
— Sei que tem alguma coisa errada — eu retruco. — Você não ficaria daquele jeito por causa de um sonho.
— É, tem outra coisa — Stefani diz. — Mas não importa agora.
Eu ergo o queixo dela, obrigando-a a olhar nos meus olhos.
— Claro que importa. Tudo que tem a ver com você importa. Tudo. Você tem noção do quanto é importante pra mim?
— My, tá tudo bem — ela fala. — Olha onde eu tô, e com quem eu tô... Não tenho motivos para estar triste.
— Mas tem alguma coisa te incomodando, eu sei — eu digo. — Eu sinto. Desde aquele dia.
Ela dá um meio sorriso. Isso parte o meu coração, porque sei que ela está tentando me convencer de que está tudo bem.
Mas eu não quero ser convencida. Quero ajudá-la, quero passear de barco com ela, quero ver os flamingos, quero tirar fotos, quero rir com as outras e aproveitar essa viagem ao máximo.E quero que ela esteja feliz de verdade quando fizermos tudo isso.
— As outras estão esperando — Stefani diz. — É melhor irmos.
— Tenho certeza que elas estão ótimas — eu falo. — Elas podem esperar um pouco.
O silêncio que se instala entre nós parece um abismo quase físico. Depois de alguns segundos eu retomo a fala, e digo:
— Eu... posso te falar uma coisa?
Ela assente. Continua com aquele jeito estranho de soltar o ar, como se seus pulmões estivessem se esforçando demais para que ela respire.
— Sei que pode parecer loucura, mas a verdade é que você simplesmente tomou um espaço gigante na minha vida em muito pouco tempo — eu começo, já sentindo meus olhos arderem e se encherem d'água. — E... é estranho porque eu sinto como se eu te conhecesse desde sempre, como se tivéssemos passado a vida inteira juntas, quando na verdade a gente se viu pessoalmente pela primeira vez há menos de 48 horas. — Eu inspiro fundo. — Mas isso não importa, porque mesmo quando estávamos longe eu te sentia mais perto de mim do que muita gente do meu dia dia, e hoje simplesmente não sei mais como seria minha vida sem as tuas mensagens, sem as nossas ligações, sem os nossos jogos online... — Um sorriso se forma na minha boca quase inconscientemente ao lembrar disso.
Os olhos dela estão enormes, e ela não pisca.
– Você tem noção disso? — eu continuo. — Quando você está mal eu fico mal, quando você está feliz eu sorrio junto, quando tem alguma coisa errada eu sinto de longe. Eu te amo tanto, o vínculo que a gente tem é tão importante pra mim que eu não consigo nem colocar em palavras o que você significa na minha vida. Então por favor, para de fazer tudo isso e me diz logo o que tá acontecendo, porque não sei quando vamos ter a chance de nos encontrar de novo e eu não quero perder nenhum segundo. Quero aproveitar ao máximo com você, com as meninas, com Pauriany... Isso é um sonho, entende? É um sonho do qual você faz parte.
Eu seco minhas bochechas com as mãos e olho para ela com um sorriso. Ela retribui o sorriso, e parece estar se segurando para não chorar também.
— Eu te amo, My — ela diz, bem baixinho. — Você também não faz ideia do quanto é importante na minha vida.
Eu seguro sua mão.
— Então me fala o que está acontecendo. Pode confiar em mim.
— Sei que posso — ela diz, e puxa o ar de novo. — É só... Eu estava um pouco nervosa. Ainda estou.
— Nervosa por quê? — eu pergunto.
Ela engole em seco.
— Porque eu estava prestes a encontrar vocês pessoalmente, e não sabia como ia ser, principalmente com você. Estava nervosa por encontrar você, porque eu...
A porta do nosso quarto se abre com um estrondo, impedindo Stefani de continuar a frase.
Gabriela enfia a cabeça pelo vão da porta.— Desculpa atrapalhar — ela diz. — Manoel pediu para eu apressar vocês. O barco para a ilha sai daqui a pouco.
— Vamos lá — Stefani diz, me lançando um olhar que eu não consigo interpretar. Meu coração acelera um pouco, mas eu não sei exatamente por qual motivo.
Eu me levanto da poltrona, um pouco contrariada, pego minhas coisas e sigo as duas em direção ao corredor do hotel.
Stefani fecha a porta do quarto, deixando lá dentro sua frase incompleta.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cosmos
أدب الهواةO que você faria por alguém que acabou de conhecer pessoalmente? Letícia, Mylenna, Gabriela, Raissa, Stefani e Luciana são garotas completamente diferentes: idades diferentes, cidades diferentes, vidas diferentes... Se conheceram através do fandom...