Vinte e dois

53 2 0
                                    

O despertador toca alto no quarto, anunciando o começo de mais um dia de viagem. Eu coço os olhos e me espreguiço, enquanto tento me adaptar à claridade que escapa das cortinas das janelas.

— Bom dia — diz Mylenna. — Alguém desliga isso, por favor.

Letícia estica o braço e pega um celular apoiado no criado-mudo ao seu lado, encerrando um áudio da Luciana gritando alguma coisa que o sono me impediu de compreender.

— De quem foi a ideia brilhante de usar a Luciana como despertador? — Letícia resmunga.

— Advinha — Luciana diz. — Quem mais faria isso?

— Só me vinguei daquela vez que você gritou no meu ouvido — Stefani retruca, a voz abafada pelo travesseiro.

— Obrigada por responderem meu bom dia — Mylenna diz, se levantando da cama. — Vocês são muito educadas.

— Bom dia, My — eu falo.

— Obrigada, Gabi — ela responde. — Bom dia pra você também.

— Bom dia pra todo mundo — Luciana diz, com um bocejo.

Eu me espreguiço uma última vez e empurro as cobertas.

O piso do quarto está gelado sob meus pés. Vou até a janela e abro as cortinas, deixando o sol fraco do início da manhã invadir nosso quarto.

— Ué, gente — Mylenna diz. — A Raíssa já levantou?

Eu volto o olhar para a cama ao lado da minha, onde deveria estar Raíssa. No entanto, a única coisa que tem ali é um bolo de cobertores amarrotados.

— Ela não tá no banheiro? — Stefani pergunta.

Letícia vai até o banheiro e espia lá dentro.

— Não — ela diz. — Tá vazio.

— Será que ela já foi tomar café? — Mylenna palpita.

— Sozinha? — eu falo. — A gente nem conhece esse hotel ainda.

— Então ela deve estar com Paula e Hari — Stefani diz. — Ela não mandou mensagem?

Mylenna pega o celular e passa os olhos rapidamente pela tela.

— Eu não recebi nada — ela diz.

— Stefani... — Luciana sussurra. Seu rosto está completamente pálido. — Meu sonho.

— Luh? — eu chamo. Ela cambaleia para o lado e se apoia no criado-mudo. — Tá tudo bem?

Ela assente, mas eu sei que é mentira. Stefani vai até onde ela está; seus olhos estão arregalados e ela parece estar tentando esconder alguma coisa.

— Cala a boca — Stefani diz. — Não pensa em besteira.

— Não... — Luciana insiste. — Da outra vez... — Ela hesita, e se senta na beirada de sua cama. — Da outra vez foi igualzinho.

Ela cobre o rosto com as mãos; consigo escutar soluços baixinhos e nervosos, o que me faz entrar em desespero.
Stefani se ajoelha na frente dela e ergue sua cabeça, obrigando-a a tirar as mãos do rosto.

— Para de enfiar coisa na cabeça — ela diz. — Chega.  Tá tudo bem.

— Gente, o que tá acontecendo? — Letícia pergunta. — De que sonho vocês estão falando?!

— Nada — Stefani responde. — Esqueçam isso. Vamos procurar a Raíssa.

Ela começa a se levantar, mas Luciana estende uma mão e a faz se ajoelhar de novo.

CosmosOnde histórias criam vida. Descubra agora