Trinta

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O céu acima de nós está escurecendo rapidamente. Nuvens pretas e carregadas cobrem o sol; as árvores ao nosso redor balançam com o vento forte.

— Vem tempestade por aí – Paula diz, numa tentativa de nos distrair. Eu, ela e Letícia estamos no espaço entre o galpão e a casinha de fachada que encobre o cativeiro de Raíssa. Não faço a menor ideia de quanto tempo se passou desde que as outras desceram.

— Elas já deviam ter dado um sinal de vida — eu falo, tentando não imaginar no que pode estar acontecendo lá embaixo.

— Calma, Luh — Letícia pede. Já perdi as contas de quantas vezes ela me mandou ficar calma nessa viagem. — Você não disse que confiava na Alice?

— Eu confio nela. Só que tá demorando muito.

Ela concorda com a cabeça. Um trovão solitário ressoa ao longe, o que me faz tremer. A força do vento aumenta; algumas folhas se desprendem das árvores e voam em círculos.

— Acho que tem alguém vindo — Paula diz. Ela aponta para um vulto ao longe, abrindo o portão da cerca.

Eu corro em direção à porta do galpão, sem esperar para ver quem está se aproximando.

— Vamos descer! — eu exclamo. — Alice disse que a gente tinha que descer se alguém aparecesse.

Começo a sentir os efeitos do pânico assim que giro a maçaneta e coloco os pés no galpão. Eu olho para trás; Paula e Letícia continuam imóveis na parte de fora.

— Gente? — eu chamo. — Venham logo!

— Luciana... — Letícia murmura, sem virar pra mim.

Eu estreito os olhos e presto atenção na pessoa que entra no terreno. Meu estômago se embrulha assim que eu reconheço quem está se aproximando.

— Prínci... — A palavra morre na boca de Paula antes que ela termine, para o bem dos meus ouvidos. — O que ele tá fazendo aqui?

— Paula — eu chamo, alarmada. — A gente tem que descer. Vamos mandar mensagem pras meninas e...

— Não — Paula interrompe. Sua respiração está entrecortada. — Eu tenho que falar com ele. Tenho que saber o que ele tá fazendo aqui.

Eu seguro o braço dela e tento impedi-la de ir até Daniel, mas ela se solta de mim e começa a caminhar na direção dele.

— Pelo amor de Deus — eu insisto. Tenho que gritar para que ela me escute. — Volta aqui!

Ela para por um instante e me lança um olhar por cima do ombro. Esse tempo de hesitação é o suficiente para que Daniel se aproxime dela.

Meu corpo gela por um segundo.

Paula?! — Daniel balbucia. Sua voz desafina. Eu não consigo dizer qual dos dois está mais surpreso com o encontro. — O que você tá fazendo aqui?

— Te pergunto o mesmo — ela diz, quase sem mexer a boca.

— Deixa eu explicar... — ele começa.

— Explicar?! — ela praticamente grita. — Explicar o quê?

— Não é o que você tá pensando. — Ele se aproxima dela, mas ela recua.

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