Nove

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A primeira coisa que vejo assim que o piloto avisa que vamos pousar é a praia – uma enorme praia cheia de turistas de todos os cantos do mundo, que não parecem se importar com a aproximação de um avião enorme e barulhento acima de suas cabeças.

— Nós vamos pousar aqui? — eu pergunto para Stefani. — No meio de todo mundo?

— Você não ouviu o moço falar, Gabriela? A pista de pouso do aeroporto fica bem perto da praia — Stefani responde.

Eu desvio os olhos da janela, incomodada com a ideia de um avião estar tão próximo a milhares de pessoas.

— É bom que assim já entramos no clima da viagem — Mylenna diz.

Eu sinto o avião tocar o solo ao mesmo tempo que a aeromoça começa a metralhar um monte de recomendações. Nós esperamos até sermos liberadas para sair dos nossos assentos e nos juntamos a Luciana, Raíssa, Letícia e Manoel.

— Fizeram boa viagem? — Manoel pergunta.

— A Letícia e a Raíssa dormiram a viagem inteira, e eu fiquei vendo filme — Luciana diz.

— Eu acordei na hora da turbulência, mas depois consegui dormir também — Stefani fala.

— E você, Gabriela? — Manoel pergunta. Ele está me olhando com uma cara estranha.

— O que tem eu? — eu pergunto de volta.

— Você tá verde — Raíssa fala.

— Quer ir ao banheiro? — Manoel pergunta. — Eu espero vocês.

— Não gente, eu tô ótima — eu digo. — Vamos logo.

Eu começo a descer as escadas para sair logo do avião e pisar em terra firme. Os outros me acompanham.

O aeroporto é maravilhoso, todo rodeado de janelas de vidro presas a uma estrutura branca metálica. Um letreiro enorme e dourado adorna a entrada.

Princess Juliana Internacional Airport.

Meu Deus. Eu estou realmente no Caribe. E estou prestes a conhecer Pauriany pessoalmente.

— Vamos por ali — Manoel diz, e aponta para um local cheio de esteiras que carregam malas de um lado para o outro.

— Qual é a esteira do nosso voo? — Raíssa pergunta.

— Não precisa nem de indicação — Letícia diz, com um sorriso. — Olha lá a mala da Luciana.

Ela aponta para uma esteira no canto esquerdo do salão, e eu vejo de longe o rosto gigante da Barbie enquadrado pela mala rosa. A mala começa a passear pela esteira; Luciana vai até ela.

— Viu? — ela diz. — Muito mais prático. Não tem como confundir.

Aos poucos, nossas malas vão surgindo também. Nós nos apressamos para pegá-las.

— Gente, cadê a minha mala? — Stefani pergunta. — Não acho de jeito nenhum.

Ela caminha de um lado para o outro e olha cada mala que passa por ela.

— Eu avisei — Luciana diz. — Isso é o que dá trazer uma mala sem graça.

Stefani revira os olhos.

— Me ajudem logo — ela pede.

Nós nós dividimos e procuramos a mala de Stefani pela esteira novamente, mas tudo o que vemos são malas pretas quase idênticas.

— Você não sabe qual delas é? — Raíssa pergunta.

— Não — Stefani diz. — Tenho medo de pegar a mala errada.

— O jeito é esperar até todo mundo pegar a sua — Manoel fala. — A última vai ser a da Stefani.

E é o que fazemos. Esperamos as malas sumirem uma a uma na esteira, até sobrar apenas uma mala solitária.

— Ah, graças a Deus — Stefani diz, e abraça a mala como se ela fosse um bebê. — Agora vamos.

— Temos que correr — Manoel alerta. — O avião das meninas já deve ter pousado.

— Ai, meu Deus — Luciana murmura. — Meu Deus, meu Deus.

Nós seguimos Manoel pelo aeroporto lotado, em busca do lugar onde Paula e Hari vão desembarcar.

— Eu não tô bem — Luciana diz. — Meu Deus, eu vou passar mal.

— Eu também vou — eu digo. Sinto minhas mãos tremerem e minha boca ficar seca.

— Fiquem calmas, meninas — Manoel pede.

— Já estou com pena de você, Manoel — Raíssa fala. — Vai ter que conter muitos surtos ainda.

Ele ri.

— Já estou acostumado.

O portão do desembarque se abre. Várias pessoas começam a sair. Eu movo os olhos pela multidão.

— Meu Deus, é agora — Stefani diz.

— Ali! — Luciana grita. — Ali, ali!

Ela aponta para duas meninas de braços dados que se aproximam de nós. Meu coração acelera de um jeito que eu nem imaginava ser possível.

— Os bracinhos delas — Mylenna sussurra para nós — Meu Deus, os bracinhos delas!

— Filma, Manoel — Letícia praticamente ordena. Ela entrega o celular nas mãos de Manoel, que começa a gravar.

— Meu Deus, não tô preparada — Luciana diz.

— Se acalmem, gente — eu digo, embora eu mesma não esteja calma. — Vamos nos comportar na frente delas.

— Paula, Hari? — Manoel chama.

Elas se viram para nós, e eu congelo ao ver o sorriso das duas.

— Eu vou morrer — Raíssa sussurra para mim.

— Fica bem viva aí — eu digo.

— Oi, meninas! — Paula diz, se desvencilhando do braço de Hari para vir até nós.

— Oie — Hari fala.

Depois disso, tudo parece se passar como um borrão. Hari e Paula nos cumprimentam, nos abraçam e nos beijam, e nós começamos a falar todas ao mesmo tempo. Só consigo me lembrar de ver Manoel rindo, meio afastado da cena; do sorriso de Hari, do cheirinho de Paula que ficou em mim depois que ela me abraçou.
O resto é uma confusão de lágrimas, risos e palavras.
Eu sinto meu coração se aquecer. Essa viagem vai ser inesquecível.

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