Dezenove

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A primeira coisa em que reparo quando abro os olhos é que estou completamente sozinha no quarto do hotel. As camas das meninas estão desfeitas e os pijamas se enrolam desajeitadamente entre as cobertas, como se todo mundo tivesse decidido sair às pressas.

Eu saio da minha cama e olho em volta, mas o único rosto que devolve o olhar a mim é o da Barbie gigante presa na mala da Luciana.

A porta do banheiro está fechada. Eu bato e pergunto se tem alguém ali, mas recebo o silêncio em resposta. Onde essas meninas se meteram?

Meio que respondendo à minha pergunta, meu celular começa a tocar.

É Stefani.

— Alô? — eu chamo.

— Oi, My — ela responde. Consigo ouvir vozes falando sem parar atrás dela. — Te acordei?

— Não — eu falo. — Acordei sozinha. Onde vocês estão?

— Estamos com Pauriany no quarto delas. A gente não quis te acordar, você tava dormindo tão bem...

— Ah. Tudo bem — eu digo. — Tô indo aí. Beijo.

— Beijo — ela responde, encerrando a ligação.

Eu respiro fundo e abro a mala, em busca das minhas roupas. Stefani ainda não disse o que queria me dizer, e isso me incomoda um pouco. A frase incompleta é como um fanstaminha entre nós, uma sombra que nos segue e me deixa com uma pulga atrás da orelha.

Meu celular volta a apitar, dessa vez o som é da chegada de várias mensagens. Eu rolo o dedo pela tela, mas meus olhos se concentram no visor que mostra a data e o horário.

9:02
Dia 25 de outubro de 2019.

25 de outubro de 2019, também conhecido como dia do meu aniversário.

Eu respondo algumas mensagens de parabéns e largo o celular na cômoda. Assim que termino de me arrumar, saio do quarto e vou em direção ao quarto das meninas. Não sei exatamente o que todo mundo está fazendo lá dentro, mas consigo ouvir o barulho delas de longe. Espero que os hóspedes dos quartos vizinhos estejam acordados e bem longe dali.

Eu bato na porta. Alguém manda todo mundo calar a boca, e todas começam a falar baixinho.

Alguns segundos depois, a porta se abre, revelando uma Hari de cabelo amarrado e pijamas.

— Bom dia — ela diz.

— Bom dia — eu respondo de volta. — O que vocês estão aprontando aí, hein?

Ela dá uma risadinha e se afasta da porta, me deixando entrar.

— Surpresa!

Eu quase caio pra trás ao ver o que tem dentro do quarto.

Uma mesinha está montada entre as camas de Paula e Hari. Em cima dela há um bolo lindo decorado por velinhas coloridas e flores. Docinhos, frutas e pãezinhos pontilham o restante da mesa. Balões estão espalhados pelo quarto, e as letras do meu nome estão coladas numa das paredes.

— Como que... como vocês fizeram isso?! — eu pergunto, engasgando de incredulidade. — Quando foi que vocês compraram essas coisas?

— Feliz aniversário, My — Luciana diz, me agarrando.

— Obrigada — eu digo. — Meu Deus, gente, muito obrigada. Não precisava de nada disso.

— Lógico que precisava — Stefani diz. — É seu aniversário.

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