Capítulo 21 - Uma lição de presente

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1999

— BOM DIA! — cumprimentou papai em voz alta ao passar pela porta do meu quarto. Virei para o meio da cama e encontrei Tonks olhando para mim.

— Ele sabe — comentei. Só esse esforço fez minha cabeça latejar de dor.

Tonks apenas concordou com um aceno de cabeça.

— A gente levanta agora ou finge que não ouviu? — sussurrei.

— Acho que ignorar ele vai ser pior.

Virei de lado e sentei na cama. Senti como se meu cérebro estivesse à deriva batendo com força nas paredes do crânio.

— Que dor é essa? — coloquei as mãos na testa.

— Ressaca — Tonks levantou devagar.

— Nunca mais vou beber!

Ela riu enquanto se preparava para sair do quarto — se cada vez que alguém fala isso quando está de ressaca um trouxa descobrisse a magia, nosso mundo não seria mais segredo.

Virei de frente para ela e não contive a risada.

— Vou arranjar a poção que cura isso. Seu pai deve saber onde está.

— Dora — chamei antes que ela saísse do quarto. — Por que vocês têm isso em casa?

— A gente nem sempre percebe quando está passando dos limites com o vinho ou o hidromel.

Nunca tinha parado para pensar nos dois bebendo e conversando como um casal normal, mas era ingenuidade minha achar que eles não tinham um momento só deles quando os filhos não estavam por perto. Fiquei feliz com a constatação dessa amizade entre os dois.

Depois que Tonks saiu do quarto, reduzi a cama de volta para seu tamanho normal. Quase a deixei daquele jeito, porém o quarto ficou com bem menos espaço para andar. Guardei a roupa de cama e estiquei uma colcha sobre o colchão antes de separar uma roupa leve para ficar em casa e ir para o banho.

Quando terminei, fui para a cozinha com a intenção de tomar meu café e me deparei com Tonks e papai discutindo.

— Como assim não temos? Tenho certeza que sobrou na última vez que a gente bebeu.

— Não sei. Acabou — ele parecia não estar se importando com o fato. — Por que as duas não pegam o novo veículo da família e vão comprar no Beco Diagonal?

Respirei fundo, prendi o ar e depois soltei com um suspiro. Papai já sabia do carrinho de compras.

— Só para esclarecer eu não roubei aquele carrinho. Dupliquei um dos que estavam no mercado! — me defendi.

Tonks acenou para que eu não prosseguisse com o relato e falou:

— Não tem antídoto em casa. Melhor você comer alguma coisa para ajudar a dor a passar mais rápido.

Olhei para a mesa posta e me sentei ao lado de Teddy que estava concentrado em sua tigela de cereal.

— LANA! — gritou ele quando me viu.

— Fala mais baixo, por favor. A maninha está com a cabeça dodói.

— Dodói? — ele me olhou preocupado.

— Não se preocupe filho. Sua irmã vai ficar ótima! Por que não canta para ela aquela musiquinha que eu te ensinei?

Não acreditei que papai estava fazendo aquilo até ele começar a cantar junto com Teddy sobre um bruxo que tinha uma fazenda cheia de animais e imitar com ele o som que os bichos faziam.

— IAIAOUUU! — Teddy gritou a última estrofe e começou a rir batendo palmas.

— Que lindo amor! Adorei! — disse para ele e beijei sua bochecha tentando conter as lágrimas que enchiam meus olhos.

Nunca na minha vida eu desejara tanto agredir alguém fisicamente como eu queria me jogar sobre papai e bater nele naquele momento.

— Agora terminem o café — ele deu a ordem olhando para Teddy e eu.

Resolvi comer o mesmo que Tonks. Enchi meu como com suco de laranja e coloquei algumas torradas no prato. Não foi fácil colocar aquilo para dentro, mas me esforcei ao máximo.

— E o show foi bom? Vocês se divertiram bastante?

Eu realmente não estava com vontade de conversar, mas papai insistia.

— Nunca tinha me divertido tanto antes! Mal posso esperar o próximo!

Olhei para Tonks e trocamos um sorriso.

— Que bom! Fico feliz por vocês, filha.

Papai começou a cantarolar de novo a música que tinha ensinado a Teddy e meu irmão o acompanhou. Certeza que já tinha ouvido aquela música antes, mas meu cérebro parecia bloqueado para se lembrar de onde.

— Chega! — Tonks, que já havia terminado comer, levantou e pegou o filho que já havia esvaziado a tigela com cereal e estava sujo com ele até os cabelos. — Hora de tomar um banho para limpar essa sujeira do café mocinho.

A canção finalmente parou.

— Old McDonald agradece por deixar os animais da fazenda dele em paz — finalmente eu havia me lembrado de onde era a canção.

Papai sorriu balançando a cabeça em negativa e sentou à mesa de frente para mim no lugar onde Tonks estava minutos atrás.

— Filha, você sabe que eu não sou um pai severo que não te deixa fazer o que você quer, mas não acho certo beber desse jeito.

— Pai foi só a...

— Primeira vez, eu sei. E também sei que Dora não te obrigou a nada e você fez por que quis, estou certo?

— Está — o copo de suco de laranja já estava vazio, mas as torradas não estavam fáceis de descer.

— Não vou te proibir de beber, mesmo por que você já é maior de idade e responsável por todas as suas decisões, mas vou te dar um conselho de pai e amigo.

Ignorei as torradas e olhei para ele.

— Não faça disso um hábito. Vai acabar com sua saúde e machucar a nós todos.

— Prometo me esforçar para nunca mais exagerar desse jeito.

— Perfeito — ele sorriu satisfeito. — Agora beba isso.

Papai colocou um copo sobre a mesa e despejou dentro dele metade do líquido que havia em uma garrafinha que estava em seu bolso.

— O que é isso?

— A poção que Dora estava procurando. Em menos de cinco minutos você vai estar completamente recuperada como se nada tivesse acontecido.

Fiquei chocada com a revelação. Papai estava escondendo aquilo o tempo todo só para dar uma lição sobre bebedeira e ressaca. Ele sorriu, levantou da cadeira e seguiu em direção ao quarto de Teddy falar com Tonks levando consigo o restante da poção.

***
É, eu tive o que mereci. Entendo o lado o lado de papai e com certeza irei me esforçar para nunca mais fazer uma coisa dessas. Consigo me divertir sem me prejudicar tanto assim. E ainda estou ansiosa pelo próximo show! Vocês já passaram por alguma situação parecida? Contem nos comentários!

Livro 6 - Lana Lupin e o Menino de Cabelo AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora