Capítulo 29 - O mês mais longo da minha vida

115 14 1
                                    

23 de Agosto

A situação de papai não melhorou nos dias que se seguiram e eu me sentia cada vez mais arrependida de ter tido aquela ideia. A relutância dele em abandonar o experimento me deixou de mãos atadas. Aos 25 dias de tratamento começaram a aparecer as dores.

Enquanto eu terminava de dar comida a Teddy, Tonks voltava do quarto de casal com um prato de mingau praticamente intocado.

— Ele não conseguiu comer nada, Dora?

— Só algumas colheradas..., mas me pediu para deixar o copo de suco lá.

Suspirei alto.

— Papai dodói? — perguntou Teddy.

— Está sim meu amor, mas ele vai ficar bem logo — sorri para ele.

— Lana, eu preciso ir trabalhar. Você consegue cuidar dos dois ou quer que eu peça a minha mãe para vir te ajudar?

— Não precisa incomodar ela não, Dora. Eu dou conta de tudo sozinha. Fico de olho nos meninos — sorri tentando parecer confiante.

— Então eu já vou. Tentarei não chegar muito tarde.

Tonks voltou ao quarto para se despedir de papai e quando passou pela cozinha, Teddy e eu ganhamos um beijo cada. Quando viu a mãe saindo, meu irmão começou a franzir o rosto preparando o choro.

— Não, não, não, não — falei imitando a voz de um bebê. — Mamãe foi trabalhar, mas daqui a pouco volta. E a gente ficou em casa para cuidar do papai.

— Papai?

— Sim, ele está em casa — peguei Teddy no colo e fui em direção ao quarto de casal.

Quando abri a porta quase não o enxerguei debaixo dos cobertores e pelo som de sua respiração, ele estava dormindo.

— Papai!

— Sim — sussurrei. — Mas vamos falar baixinho porque ele está dormindo.

Querer que uma criança de três anos fique em silêncio é algo impossível. Acabei levando Teddy para o lado de fora da casa a fim de dar algumas horas de silêncio e tranquilidade para papai. Minha sorte é que com magia e criatividade, tudo por ali podia virar brinquedo.

Achei que não fosse aguentar a animação do meu irmão e já estava quase pensando em pedir ajuda da vovó quando ele reclamou que estava com fome. Fomos para dentro de casa e preparei um leite com chocolate e dei para ele comer com alguns biscoitos. Aparentemente o cansaço não era só meu e quando terminou, Teddy pegou um livrinho cheio de figuras de animais que folheou até dormir no sofá.

Aproveitei a folga para ver como papai estava. Preparei uma xícara de leite com chocolate para ele e levei junto alguns biscoitos na esperança que ele comesse também. Como não sabia se papai ainda dormia, tentei fazer o mínimo de barulho possível. O quarto ainda estava na penumbra quando entrei.

Deixei a xícara com os biscoitos sobre o pires ao lado do copo de suco vazio que Tonks deixara ali mais cedo e abaixei ao lado da cama. Toquei o rosto dele com carinho e percebi o quanto estava molhado de suor. Levantei e peguei uma toalha de mão em uma das gavetas da cômoda e voltei para perto dele.

— Pai, — sussurrei enquanto secava seu rosto. — Você precisa tentar comer mais alguma coisa. Eu trouxe leite e biscoitos.

Papai abriu os olhos, ameaçou um sorriso e começou a se ajeitar para levantar. Eu levantei e dei alguns passos para trás para dar mais espaço a ele, mas assim que seus pés tocaram no chão, papai fechou os olhos novamente e eu me aproximei.

— O que aconteceu?

— Fiquei um pouco tonto — a voz dele saiu rouca.

— Você está fraco, melhor continuar na cama.

Papai concordou e eu afastei os cobertores para que ele se virasse e esticasse as pernas sobre o colchão.

— Você está com febre? — encostei minha mão na testa dele assim que sentei ao seu lado.

— Acho que não. É só fraqueza por estar me alimentando pouco.

— Vamos parar com isso, pai.

— Não Lana. Me dê a xícara por favor.

Lamentei o jeito irredutível de papai com um suspiro alto antes de atender seu pedido. Logo que tomou o primeiro gole, ele fez uma careta.

— Está ruim? Posso preparar outro se quiser.

— Não tem nada de errado com o leite, foi só uma pontada de dor no estômago.

Ele colocou a xícara sobre o colo e eu coloquei minha mão por cima da dele.

— Pai, deu errado. Não tem a menor justificativa para continuar esse tratamento.

— Só vamos ter certeza disso na lua cheia — por impulso papai terminou de beber todo leite o que acabou por desencadear uma crise de dor que o fez dobrar o corpo para frente.

Eu tirei a xícara da mão dele e coloquei de volta sobre o pires antes de abraça-lo com carinho. Se eu pudesse pegaria toda aquela dor para mim. Eu bem que merecia por estar o fazendo sofrer daquele jeito. Não consegui conter as lágrimas e ele percebeu.

— Não chore, eu vou ficar bem.

— Me perdoa por te fazer sofrer. Foi muita imprudência minha esse experimento.

Papai conseguiu se sentar encostado na cama e olhou para mim.

— Você só me faz sofrer quando está em perigo, filha. Isso aqui é só uma dorzinha que vai passar.

— Tem alguma poção que eu possa fazer para ajudar?

— Conheço algumas, mas tenho medo que interfiram na wolfsbane.

— Assim que terminarmos você vai tomar alguma que te cure dessas dores.

— Com prazer — ele sorriu, dessa vez mais animado. — Vou me esforçar para conseguir comer mais um pouquinho. Talvez melhore dessa fraqueza.

Sorri de volta.

— Já que é assim, melhor eu começar os preparativos para o jantar. Tonks deve chegar logo para terminar.

— Se quiser eu posso ajudar...

— Nada disso, pode continuar aí descansando. Quer que eu traga um livro para você ler?

— Papai cordô! — ouvi o grito animado do meu irmão parado perto da porta.

— Pode ser um livro de animais ou de figurar coloridas — papai riu.

— Você faz companhia para o papai enquanto eu preparo o jantar? — perguntei a Teddy.

— SIM! — ele correu para perto da cama e começou a escalar.

Como ainda não tinha altura suficiente, o ajudei a terminar de subir.

— Biscoito! — Teddy apontou para o pires sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama.

— Só um para não atrapalhar o jantar — papai deu a guloseima ao filho. — Eu também vou comer um, e a Lana come o outro.

— Pode comer esse também, pai.

— Vai atrapalhar o jantar — retrucou Teddy.

— Seu irmão tem razão — papai sorriu com o apoio que teve.

Eu peguei o biscoito e comi. Conjurei um feitiço que trouxe vários dos livros do meu irmão para junto deles.

— Qual você quer ler com o papai?

— Esse! — Teddy apontou para um dos livros coloridos sobre a cama.

— Se precisarem de mim é só chamar — levantei e me encaminhei para a cozinha.

***
O que eu mais quero é que esse experimento acabe logo. Não parei para pensar o quanto papai poderia sofrer, fui imprudente demais.

Livro 6 - Lana Lupin e o Menino de Cabelo AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora