Capítulo 33 - Lua Cheia

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Lua cheia - 2 de Setembro

Finalmente chegou o dia em que descobriríamos que tipo de efeito aquele tratamento nada inofensivo teria sobre a licantropia de papai.

Era um domingo e por isso Tonks estava em casa. Andrômeda também veio ficar com a gente e ao entardecer levaria Teddy para a casa dela de forma que quando anoitecesse apenas papai, Tonks e eu estaríamos ali.

Combinamos que seria mais seguro lidar com qualquer imprevisto sem precisar nos preocupar com uma criança em casa.

Ignorando a movimentação na cozinha, assim que acordei fui direto para o quarto de casal. Papai estava acordado, mas não tinha se levantado. Subi na cama e me deitei ao lado dele.

— Se aquela Lana que viajou no tempo para salvar você e a Tonks na Batalha de Hogwarts encontrasse comigo certamente eu apanharia muito por quase matar você — sorri para ele.

Papai se virou de lado para ficar de frente para mim — eu não estou tão mal assim.

— Quando foi a última vez que você se olhou no espelho?

Ele apenar riu em resposta.

— Está com medo?

— Mais preocupado e curioso do que com medo. E você, filha?

— Estou em pânico — de fato minhas mãos estavam frias e eu sentia um aperto no peito.

— Tudo bem ter medo às vezes, mas não precisa ficar assim — ele me puxou para mais perto e me abraçou. — Eu tenho certeza que irei sobreviver.

Aquele foi sem dúvida o Domingo mais longo da minha vida.

Papai não almoçou com a gente, mas isso já era esperado. Depois que terminei de lavar e guardar a louça, eu ainda me sentia muito culpada por ter arrastado a família para aquela loucura e tentava compensar fazendo de tudo um pouco, fui para o quintal brincar com Teddy. Nem toda a energia de um pequeno bruxo de 3 anos conseguiu me fazer esquecer o que estava por vir.

Tonks e Andrômeda nos surpreenderam no meio da tarde com um piquenique e eu aproveitei quando Teddy se distraiu com elas para ver papai. Já estava no início do corredor quando ouvi a voz dele me chamando da sala.

— Não vai encontrar ninguém lá dentro.

— Que bom ver você fora do quarto. Está se sentindo bem?

— Dentro das circunstâncias, acho que posso dizer que sim.

Ele estava no sofá com as pernas esticadas, um cobertor jogado sobre elas e um livro nas mãos.

— Comeu alguma coisa?

— Tomei uma xícara de chá.

Eu acompanhei seus olhos em direção à xícara vazia sobre a mesinha de centro.

— Ainda sinto que preciso te pedir desculpa por ter feito você passar por tudo isso depois de uma vida inteira sofrendo com a licantropia...

Papai repousou o livro fechado ao lado dele no sofá e esticou o braço me chamando para mais perto. Eu sentei na beira da mesinha, ao lado da xícara vazia de frente para ele.

— O desconforto desse mês não foi nada perto do que você planejou para mim.

— A gente ainda não sabe se vai dar algum resultado positivo, pai.

— Para mim isso não importa — um sorriso doce e sincero apareceu estampado no seu rosto.

— Só você mesmo... — sorri de volta.

— Agora, independente do resultado, acho que você deveria compartilhar o conhecimento que adquiriu preparando a poção tantas vezes.

— Compartilhar de que forma?

— Um livro — ele tocou o exemplar ao lado dele. — Bom, o interesse em lobisomens não é muito grande, mas um estudo sobre a poção, seus ingredientes, forma de preparo, reações adversas, sempre tem lugar na estante de bruxos e bruxas.

— Realmente não é uma má ideia! Estudei muita coisa sobre poções desde que comecei a me dedicar a aprender como preparar a wolfsbane. Inclusive alguns detalhes que passam despercebidos e podem ajudar na hora de preparar uma poção... Acho que posso até falar com o professor Slughorn para ter algumas ideias e a biblioteca de Hogwarts tem muito material que eu posso usar... — reparei que papai olhava para mim com um sorriso no rosto enquanto eu falava sem parar. — Acho que me empolguei — sorri.

A ideia do livro havia me animado e eu estava ansiosa para começar a reunir o material para escrevê-lo, mas a onda de animação foi passando à medida que o dia dava lugar à noite e o nascer da lua cheia estava cada vez mais perto.

Vovó já tinha ido para casa e levado Teddy com ela quando Tonks e eu nos juntamos a papai no quarto de casal.

— Filha, abra a janela, por favor.

— Mas pai...

— Dora, flutue a cama até perto da janela de forma que eu não precise ficar de pé para ter contato com a luz da lua de corpo inteiro.

— Remus...

— Eu quero uma das amarras para me prender à cama no caso de eu me transformar e perder a consciência.

— Impossível você perder a lucidez depois de tanta wolfsbane — retrucou Dora.

— Com vocês duas aqui e eu fora do quarto protegido, não quero correr nenhum risco.

Não havia como argumentar com papai decidido daquele jeito. Virei as costas e segui até a dispensa para buscar o que ele havia pedido enquanto Tonks deslizava a cama pelo quarto.

— Vai amarrar a perna ou o braço?

Papai esticou o braço direito — amarre a outra ponta no pé do roupeiro. Deve ser o suficiente para me segurar. Eu espero — a última frase saiu como um sussurro, mesmo assim Tonks e eu conseguimos ouvir. Apesar da probabilidade de papai se transformar em um lobo fora de controle ser mínima, nosso medo era quase palpável.

O quarto mergulhou num silêncio profundo enquanto esperávamos a lua jogar seus raios dentro do aposento. Papai sentado na lateral da cama, Tonks e eu de pé em frente à janela sem projetar nossas sombras sobre ele.

Como óleo viscoso se espalhando lentamente pelo chão, os raios lunares alcançaram o peitoril e escorregaram até a metade da parede para então se jogar no chão e arrastar vagarosamente até os pés descalços de papai. O corpo dele ficou teso quando isso aconteceu.

A luz prateada escalou as calças de seu pijama, subiu pela camisa fazendo cada botão refletir uma iridescência perolada e atingiu seu rosto brilhante por conta das lágrimas que escorriam por sua face.

— Remus, meu amor — Tonks foi a primeira a se aproximar dele. — A lua não te afetou.

Papai balançou a cabeça lentamente em negativa.

— Acho que você não vai precisar disso hoje — ainda extasiada com o que estava acontecendo diante dos meus olhos, me agachei ao lado de papai e desamarrei seu braço. Depois não resisti e me joguei para um abraço que ele retribuiu com entusiasmo.

— Obrigado — papai sussurrou no meu ouvido.

Quando me afastei fiquei um tempo apreciando ele e Tonks, agora de mãos dadas sorrindo um para o outro com um olhar apaixonado.

— Acho que vou até a casa da vovó contar a ela o que aconteceu — anunciei. — E talvez passe a noite por lá — dei um beijo na testa de papai. Quando passei por Tonks me despedi murmurando em seu ouvido — se precisar de mim envie seu patrono que eu volto voando.

Fechei a porta do dormitório de casal depois que saí. No meu quarto coloquei em uma mochila o que precisaria para passar a noite e depois de pegar minha vassoura, voei pela noite clara de lua cheia até a cada da vovó do outro lado do vale.

***
E foi assim a primeira noite. Com papai sem se transformar em lobisomem, quis deixar ele e Tonks terem esse momento juntos ao invés de fazer uma reunião de família. Agora é acompanhar os próximos dias até que a lua cheia desapareça do céu.

Livro 6 - Lana Lupin e o Menino de Cabelo AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora