Pai ??

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JULIANA


Quando eu enfim levantei daquela calçada fomos pro carro e eles iam me levar de volta, mas o problema era, de volta pra onde ? Eu não poderia entrar mais no internato, então Nick teve uma ideia, mas eu morreria, com certeza.

— Juh......você só tem um lugar pra ir e não tem escolha, ou é lá ou é de baixo da ponte.......fica na casa do C.R —


Fitei ela por um tempo.

— Na favela ? Amiga......não, não, por favor......aquele marginal não — Tentei dizer mais alguma coisa, mas foi inútil.


Ela respirou fundo e continuei a falar não me dando chances de palpitar.


— Tenho que ser dura, me desculpa, mas você VAI...independente se gosta ou não, se tem luxo ou não, agora está grávida, mesmo se não estivesse não ficaria na rua, tá entendendo ? Vamos falar com ele ! —

Meus olhos marejaram, passei a mão na barriga com raiva, como se quisesse arrancar com as próprias mãos.


—  Logo não estarei mais, não é ? Eu vou pedir dinheiro pra ele e faço um aborto.....volto pra casa da minha tia e terei todo o dinheiro novamente — Sorri. — É isso, simples ! —


— Amiga, me parte o coração, mas você ainda não entendeu. A sua tia não gosta de você.....você vai fazer isso e depois ? Nem motivo pra ficar na casa dele você vai ter mais, você não sabe fazer nada da vida.
Até para trabalhar e se sustentar levaria algum tempo...não tô falando pra te humilhar, mas para e pensa comigo. Ela já usou aquele dinheiro e pelo que me lembro, oque sobrou da sua pensão desse mês, foram trezentos reais, não dá nem pra alugar uma casa.
Sei que gosta de luxo, mas olha, esquece essa sua tia, é o melhor a se fazer —


Apenas balancei a cabeça positivamente e fiquei quieta, minha amiga me puxou pra um abraço e em seguida tirou seu elástico do cabelo, arrumou o meu que estava todo desgrenhado num rabo de cavalo alto.

Dei um sorriso e percebemos que tínhamos chegado quando o namoradinho dela parou o carro na frente de uma casa lá no morro, Nicolly pareceu não conhecer aquela casa.


Falando nele, o namorado da Nick, me olhava de um jeito estranho, parecia com raiva e eu diria até desconfiado. Sem dúvidas devia estar se perguntando se o filho era do amigo mesmo. Mas apesar da carranca não disse nada durante o caminho.


— Bora ! — Falou repentino e saiu do veículo.

Eu não acredito que estou nesse lugar nojento de novo, eu tinha ânsia de vômito só de olhar.......mas era o único lugar que eu poderia ficar até fazer o aborto.

Tive alguns flashes daquela noite há dois meses atrás assim que vi uma enorme tatuagem nas costas de um cara bem grande e forte que estava ajudando a descarregar um caminhão e distribuir algo que não vi bem oque pra aglomeração de pessoas, deduzi ser comida.

O homem se virou e pude ver que era o próprio a quem eu temia. Observei a arma em sua cintura e aquilo me deu calafrios, Felipe falou pra sairmos do carro outra vez e assim fizemos.




C.R

Estava ajudando a descarregar o caminhão de cesta básica pro pessoal e mandando estocar uma outra parte, pra que quem não soube da notícia pudesse ir procurar depois.

Ouvi um assobio de aviso e me virei, vi o Felipe, a Nick e uma menina que pelo jeito brigou com alguém. Mas espera.....era a patricinha que eu comi aquele dia ?.

O Felipe veio na minha direção e falou um bagulho que eu ainda não entendi direito, ele voltou pra onde elas estavam e foi entrando com as duas lá no meu escritório.
Puta merda, só dava beó pra minha vida ultimamente.

Pedi pro Rafinha assumir meu lugar, coloquei minha camisa no ombro e fui atrás do FP.
Vi uma pá de gente na rua pagando de Zé povinho.


Quando entrei vi todo mundo com cara de bunda e Nick soltou tudo de uma vez, porque a tal da Juliana só chorava.
Eu fiquei meio travado, meio feliz e meio na desconfiança. Meu mega voltou a trabalhar e entendi o porque dos olhos inchados e a boca machucada.

— Então, quer dizer que vou virar pai ?? Como vou saber se é meu mesmo esse bacuri aí ? —


— Meu Deus, eu acabei de falar tim tim por tim tim e que ela era virgem, mas parece que de todas as palavras você só não entendeu virgem, me dá forças, pai —

Arqueei as sobrancelhas, essa mina era cheia do deboche.

— C.Rzinho, ela era VIRGEM, ela odeia mentiras, ela nem pra cá queria vir, ela não saiu com mais ninguém, ela nem esse filho quer ter porque o pai é você.
A tia vagabunda e ladra, expulsou ela, bloqueou qualquer possível entrada dela no internato, roubou a herança todinha, nem uma escova de dentes essa menina tem agora......captou ? —
Me olhou falando lentamente.
— Eu estou explicando na mais perfeita e harmoniosa calma pra entrar nesse cerebrozinho de azeitona —


— Vou te dar um peteleco, vacilona — Felipe riu. — Suave, entendi —


— Bom...eu não quero esse bebê, não vou ficar com ele, só me dá uma grana que eu aborto e tá tudo certo...por favor, é claro — Juliana abriu a boca e se eu não tivesse olhando ela, pelo rumo da prosa, diria que tava era drogada.


Me levantei batendo na mesa.

— Mina, se tá me tirando ? A minha mãe tentou me abortar até os oito meses, isso me dá desgosto dela até hoje.
Eu não vou deixar, eu tenho o direito sobre ele, já que é meu filho, não acha ? —


Ela pareceu pensar, mas pela cara de pilantra, não desistiria da ideia


— Tudo bem, então. A única coisa que eu odeio é esse lugar mas já que não tenho pra onde ir, eu fico, né... —
Suspirou eu fiquei frente a frente levando a mão até seu rosto e apertando o seu maxilar. Eu exalava ódio e ela desprezo.


— C.R, não, ela tá grávida, por favor, pensa bem. Solta ela — Nick me pediu.


— Olha, não me testa não, na moral, é pro seu bem, se não tem oque falar, amarra a língua e enfia na boca, fecha ela e vai se lascar com bastante força.
Garota.......te comi, engravidei você, tô assumindo a criança e vou te levar pra minha casa. Mas não vem de caô pra cima da minha comunidade, porque ainda vou matar você, por causa dessa tua língua grande — Falei entre dentes e soltei a nojenta.


Ela colocou a mão no corte da boca que provavelmente doía e os seus olhos marejarem. Respirou fundo e ouviu Nick a chamando, essa logo se despediu porque já era noite, disse que amanhã passava aqui pra trazer roupas e os documentos pra marcar consulta logo.


— Eu só queria que fosse mentira — Falou baixo. — Eu imagino que estou em algum tipo de pesadelo horrível ou alucinação. Será que é realmente verdade tudo que eu estou passando ? Ou eu estou apenas começando a pagar meus pecados em vida ? — Perguntou chorando.


— Se não mudar esse teu jeito, tudo só vai piorar e eu vou fazer questão de contribuir pra isso —


— C.R !! Qual é ? Alivia — Nick chamou minha atenção e abraçou a Zé ruela. Me pediu pra ter paciência e despediu de vez.

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