JULIANA
C.R chegou e foi pro banheiro, bateu a porta com força e eu senti uma pontada de medo, respirei fundo e mandei mensagem pra Nicolly. Avisei que o pai da minha filha tinha chegado e aparentemente estava nervoso, ela me pediu pra ficar com o celular por perto e que se ele fizesse qualquer coisa era pra eu correr pro outro quarto e que me trancasse lá até ela e FP chegarem.
Deixei o celular de lado e liguei o ar condicionado, logo depois a TV. Ouvi a porta do banheiro ser aberta e me concentrei.
Com certeza ele se trocou e veio pra cama, olhei de lado e C.R estava de costas sussurrando alguma coisa que eu não entendi direito.
Me levantei e fui até o banheiro, fechei a porta e assim que terminei de usar, olhei para um canto vendo a roupa dele no chão, tinha algumas manchas vermelhas, e eu como boa curiosa me aproximei pegando a camisa e logo a joguei aonde estava, confirmando que aquilo era sangue.
Lavei as mãos agoniada e sai do banheiro, Cláudio estava sentado na cama, e eu voltei a me deitar ouvindo que ele continuava sussurrando, assim que prestei atenção no que ele falava percebi que estava na verdade orando e pedindo perdão.
Nunca o vi fazer aquilo, pelo menos não comigo aqui.
Tentei me segurar e ficar quieta na minha, mas não consegui e toquei no ombro dele.
— Oque aconteceu ? — Perguntei e ele se virou com lágrimas nos olhos e eu fiquei meio pasma, me ajoelhei na cama indo até ele e toquei seu rosto. — Ei ? Porque está assim, oque houve, você tá bem ? —
Eu sabia que ele odiava chorar, principalmente na frente de outras pessoas, já tinha me contado que se sentia um fraco, mas acho que comigo foi diferente.
Se virou e ficou me encarando.
— Eu matei um cara, sou acostumado com isso, só que esse cara, foi meu amigo uma pá de tempo. Eu confiava nele, mas ele começou a me roubar, Juliana.
Porra, eu tenho que manter as regras aqui no morro, se não fizer isso, vai virar bagunça, e o foda que nem teve como mandar ele ralar do morro, eu tava com a mira na cabeça dele, eu chamei o Neguinho e ele chegou rápido demais. O Bruninho começou a ficar foda-se nem tentou nada, só foi confessando oque tava fazendo e poucas — Coçou a cabeça. — Eu fiquei puto e atirei, logo no Bruno, mais que merda. Ele cresceu comigo, Juliana, o irmão dele antes de morrer mandou a gente cuidar um do outro. Olha oque eu fiz com aquele drogado do caralho agora, puta merda —O fato dele estar chorando na minha frente me deixava super estranha, ele era tão idiota algumas vezes, outras carinhoso, e quando tá comandando o morro é grosso, estúpido, o sangue corre completamente gelado pelas veias dele e vê-lo desse jeito, eu nem sei oque falar.
Ele estava em desespero, falava extremamente rápido e não se conformava. O puxei abraçando seu corpo.
— Ei, se acalma, tá bom ? Sei que não deve ser fácil, mas tenta se acalmar. Eu estou aqui com você, e é como falou. Tem que manter as regras, independente de com quem for que as tenha que aplicar.
Outra coisa, não foi totalmente culpa sua, ele estava te roubando, não é mesmo ?. E tenho certeza de que cuidou dele até onde pôde — Acariciei o rosto dele secando as lágrimas que corria. C.R deitou a cabeça em meu colo e eu o encarei. — Se acalma, por favor, tá bom ? Eu estou aqui com você, sei que não sou importante, porém estou aqui — Respirei fundo e sorri de lado.— É tão estranho o jeito que você consegue me acalmar — Falou baixo e eu passei a mão em seu cabelo o dando um sorriso. — Para com isso, claro que você é importante — Pegou a minha outra mão e fechou os olhos.
Permaneci quieta e continuei o carinho, depois de um tempo daquele jeito comecei a sentir minha perna formigar.
— CR ? Minha perna está dormente —
Ele não respondeu, só então percebi que estava dormindo.
Sorri brincando com seus cabelos e me estiquei, logo me deitando, ele se arrumou me fazendo dar graças a Deus. Deitei em seu peito e dormimos assim.Acordei pela manhã ainda nos braços do pai da minha filha, olhei seu rosto e nem parecia aquela pessoa amargurada de ontem a noite.
Me sentei na cama calmamente e logo levantei, ouvi meu celular tocar e atendi rápidamente para não acordar ele.
— Bom dia.....—
— Bom dia....quem é ? —
— Já me esqueceu ? —
— Lucca ? É você ? —
— Sim linda, estou com saudade, pode me encontrar naquela sorveteria que íamos sempre ? —
— Lucca, não é uma boa ideia....eu estou grávida...E.... — Olhei C.R dormindo e fui interrompida.
— Eu sei, fui atrás de você quando saiu do internato, sua tia disse que estava grávida e que deveria ter morrido —
— Claro....minha tia....olha, okay, só um sorvete e eu venho embora o mais rápido possível —
— A uma da tarde, okay ? Beijos, tchau Juh —
Desliguei.
Lucca era um cara que eu ficava a quase um ano e meio atrás, eu cheguei a gostar muito dele, mas não deu certo, então, nos distanciamos.
Olhei C.R novamente e depois as horas, o relógio marcava onze da manhã, fui para o banheiro rapidamente e tomei um banho, sai e coloquei uma lingerie e um vestido preto colado que marcava bem a minha barriga.
Calcei uma sandália nude com pedrinhas, penteei meu cabelo o jogando para trás, fiz uma maquiagem leve e sai do quarto com minha bolsa.
Desci pra cozinha e o almoço já estava pronto.
— Onde vai toda linda assim ? — Rita me perguntou curiosa.
— Vou ver um conhecido....— Sorri pra Rita e a mesma se virou me servindo, eu logo abocanhei o garfo cheio de comida ouvindo ela falar.
— Menina.....toma cuidado, C.R não é flor que se cheira.....— Colocou suco em um copo e me observou sorrir e balançar a cabeça.
— Eu sei, meu amor, vou apenas pra esclarecer algumas coisas, não se preocupa, já, já estou aqui. Pode falar que eu não quis dizer onde fui, ou fala que eu disse que ia com a Nick.
E outra, a gente não tem nada sério, ele pode comer outras e eu não posso tomar um sorvete ? Com um amigo ? —Terminei de comer e saí de casa com a desaprovação de Rita.
Fui descendo o morro calmamente e assim que cheguei na entrada cumprimentei os meninos enquanto chamava um Uber. Agradeci a Deus por ele ter aceitado a corrida e chegado rapidamente, entrei no carro dando boa tarde e o motorista deu partida nos tirando da vista dos meninos.Mandei mensagem pra Nick a caminho da sorveteria. Disse a ela que iria encontrar Lucca na sorveteria que gostávamos de ir, perto do internato na Barra.
Pedi a ela que se perguntassem algo era pra dizer que não sabia de nada. Ela respondeu dizendo que estava brigada com Felipe e não queria piorar, me avisou que Cláudio não ia gostar nada daquilo. Mas eu falei pra não se preocupar e dizer que nem tinha falado comigo hoje, se quisesse podia até apagar as mensagens, assim ficaria mais convincente.
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Da Zona Sul pro Morro.
RomanceJuliana é uma garota mimada de dezessete anos, que vai ter seu mundo virado de cabeça pra baixo. Uma fuga do internato pra uma festa, nunca havia machucado ninguém, até agora. Mas ela vai conhecer o lugar onde passará o resto da vida, vai conhecer...