Vocabulário Variado

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KAREN

Eu estava muito triste com a perda do meu bebê e Thiago também. A gente vive falando sobre isso, sobre criação, sobre a possibilidade dele sair dessa vida torta que leva. E agora isso aconteceu.

Eu já tive outro aborto mas eu nem sábia que estava grávida quando rolei escada abaixo. Agora era diferente, me dói muito porque eu já até tinha ido em uma primeira consulta, e Deus sabe como eu sonho com um filho.

Mas é tudo em seu tempo, só que é difícil aceitar uma coisa desse tipo. Thiago está bolado também, mas o jeito é esperar e tentar novamente, mesmo que doa a perda de um serzinho tão inocente. 

Hoje eu vou ter alta e meu namorado está vindo me buscar, como não tinha um carro, o C.R emprestou o dele, assim como fez há uns dias atrás para as meninas poderem vir me ver.

O médico ginecologista me mandou repousar bastante, e agradeci por minha sogra estar em casa, ela iria cuidar de mim esses primeiros dias para o Thi trabalhar sossegado.

Ela sempre foi uma mãe pra mim, e eu procurava ajudar ela como tal.

Ela me disse que estava muito triste também e seria difícil perguntar como eu estava sem perguntar do neto também.

Nós choramos juntas, o colo dela era sempre o melhor e os concelhos também.





JULIANA

Fui ver a Karen no primeiro horário da manhã e descobri que ela teria alta hoje, ela estava bem triste e eu outra vez tentei animar, mas era difícil, eu queria me aproximar mais, porém, achei a situação complicada até por esse motivo não fui todos os dias, não queria que ela pensasse que eu estava esfregando minha gravidez na cara dela.

A neném passou o dia se mexendo muito, não mexendo normalmente ou chutando, era estranho, ela se contorcia demais.

Eu estava toda inchada pelo enorme calor do Rio e o peso, meus peitos parecias sacos com areia molhada, vivia cansada. Mesmo assim, perguntei outro dia na padaria se eles precisavam de alguém, não queria ficar aqui de favor sem fazer algo ou ajudar. Quando eles souberam quase me mataram, até o chato do C.R brigou comigo, pois mesmo com FP não concordando ele estava pagando minhas despesas.

Nick saiu e como fiquei sozinha em casa, fui no postinho daqui mesmo sem o  C.R saber, só pra me certificar que estava tudo bem.

A médica disse que bebês sentem as coisas que sentimos, a minha filha estava ótima de saúde, e era pra eu evitar brigas e tristeza pois passava tudo pra ela.

Nada é claro que o doutor Roberto já não tivesse me dito. Eu desci pra casa do Felipe outra vez e C.R me mandou algumas mensagens, eu respondi apenas sobre a bebê, queria esquecer um pouco de um "nós", que quase existiu.

F.P entrou em casa e eu estava no sofá de top e short. Fiquei meio envergonhada mas o calor era muito.

— Tu tá parecendo até um calango no sol, a barriga mó grande e o resto todo sequinho — Gargalhou.

— Cala essa boca ! — Ri também, mas me imaginei verde e com um copo de limonada na mão, assim como um meme que vi a um tempo atrás.

— Nicolly tá lá em cima ? — Foi pra cozinha e pegou uma garrafa de água gelada.

— Não, ela saiu, acho que foi resolver alguma coisa no centro e quando chegou foi no mercadinho — Me arrumei no sofá e mudei o canal da TV. — Só não fui com ela, porque não tô legal —

— Bele...te cuida viu. C.R que vai ficar na guarda hoje a noite, ele disse que tá com saudade — Dei de ombros.

— Entendi. Manda ele matar a saudade com a Natália — Revirei os olhos fazendo Felipe rir.
— Eu sei que não foi culpa dele, nem precisa falar. Mas achei muita falta de respeito oque ele fez depois, só que já estamos conversados — 

— Vocês são perturbados — Subiu as escadas cantando.

Eu fiquei no sofá por um tempo e minha amiga chegou, deixou as coisas na cozinha, e subiu.

Eu fui tomar outro banho e enquanto estava no chuveiro comecei a ouvir alguns barulhos específicos lá em cima e misericórdia eu não merecia isso, meu Deus. Eles estavam transando.

Terminei o banho e me troquei, peguei minha carteira e resolvi dar privacidade, até porque a casa nem era minha.
Sai mesmo com o tempo muito quente e fui descendo o morro, parei numa sorveteria, comprei uma paleta mexicana de brigadeiro com morango.

Fui até a pracinha e me sentei em um banco, tinham crianças brincando e correndo por ali, era incrível como elas transformavam pedrinhas e palitos nos melhores brinquedos com a imaginação.

Senti meu celular vibrando, era mais uma mensagem de C.R, eu já até sabia que era ele porque coloquei um vibrar diferente nas mensagens do mesmo. Assim, quando não queria ser incomodada nem olhava.

Visualizei e estava escrito simplesmente: "Cuidado". Estranhei obviamente e olhei para todos os cantos e não vi absolutamente ninguém.

Recebi outra mensagem dizendo "Em cima". Olhei para cima das casas e lá estava ele e os famosos olheiros que falava e eu nunca via, cada um em uma laje diferente.

Balancei a cabeça dando risada e ele fez o mesmo, me fez um sinal com a mão pra esperar e sumiu da vista, uns cinco minutos depois ele chegou e sentou-se ao meu lado.

— Como tu tá ? — Passou a mão em minha barriga.

— Até agora, bem. Só a Manu que tá se revirando toda —

Deixou a arma na cintura e tirou a camisa. Viu a minha cara de nojo com todo o suor e me deu um abraço.

— Gosto tanto de você —

— QUE NOJOOO, ACABEI DE TOMAR BANHOOO, SAII !! —

— Mano, sua cara é a pior, sua fresca — Riu me largando.

— Que foi, em ? — Perguntou ao ver que eu o encarava.

Passou a mão em meu rosto e jogou uma mecha de cabelo pra trás de minha orelha. Não sei exatamente oque aconteceu em pouquíssimos segundos, mas eu senti uma sensação extremamente ruim dentro do meu peito, deitei a cabeça no ombro e respirei pesado.

— Promete que não vai me deixar nunca ? Nunquinha ? Nem a nossa filha ? — Passei as mãos na barriga e voltei a olhá-lo.

— Para com isso, claro que não vou, eu dou muita mancada, mas, não vou deixar vocês duas....— Segurou meu rosto e beijou minha boca. — Nunquinha — Sorrimos.

Aquela sensação ruim amenizou e eu resolvi deixar oque passou pra trás. Sei lá, algo estalou na minha cabeça, era como se o fosse perder a qualquer instante.

— Ainda quer que eu volte ? — Segurei a mão do Cláudio e sorri fazendo bico ouvindo oque ele disse a seguir.

— Mentira ? Quer voltar ? E papa capim dos meus sonhos — Beijou meu pescoço. — Quero muito, venho te pegar amanhã cedo, assim a gente passa o dia junto, morô ? Vamo lá na praia dar uma relaxada, e a noite a gente fica suave, juntinhos igual pinto no lixo, pode ser, minha pitanguinha ? —

— Ai que horror, cara. Mas pode sim, e que apelido novo é esse ?? — Ri, confirmando que ele era bem aleatório.

— Gostou não ? Só pra saber é uma fruta muito boa, dona coisinha — Fez cara de nojo.

Ri e beijei ele.

— Já vou indo, seu vocabulário tá muito variado hoje e já está anoitecendo, tô morrendo de sono, pitanguinho — Levantei e fui puxada pelo braço caindo sentada no colo dele.

— Vai direto pra casa, o clima não tá muito legal, já mandei irem avisando os moradores. Se cuida e me liga —

— Por isso essa sensação.....—

— Que sensação ? —

— Não sei, uma angústia e preocupação. Por favor, se cuida —

— Ei, fica assim não, tá tudo bem, relaxa vai — Senti sua boca em meu pescoço.
Ele deixou um chupão e um beijo ali.

— Se cuida....— Me levantei pela segunda vez e fui subindo pra casa do F.P .

Espero que ele e Nick tenham terminado oque estavam fazendo, eu não queria atrapalhar mas não queria ouvir também.

Da Zona Sul pro Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora