Abatedouro

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C.R

Olhei o relógio, os ponteiros já marcavam três e quarenta da madrugada.

Aquele lixo estava pendurado num gancho como um pedaço de carne no abatedouro, aliás, ele tava num abatedouro, no meu.

Esse lugar era exclusivo pra acabar com a raça de gente como ele.

— Tenho diversão hoje ! — Sorri com ódio e alguns meninos me olhavam, estavam todos armados prontos pra pipocarem ele.

O lugar cheirava a ódio desse traíra miserável.

Cheguei bem perto e soquei o saco dele que só tava coberto pela cueca. Neguinho gemeu de dor e eu peguei uma chave de fazer chupeta em carro já colocando nas partes dele, o lixo se contorceu.

— Liga o motor, ZL ! — Mandei e logo vi o escroto ser eletrocutado pelas bolas. — Desliga !! — Dei risada ouvindo ele gritando e peguei uma arma, pressionei contra a cueca dele.

— Não foi assim que disse que ia atirar na Juliana ? E MATAR ELA E MINHA FILHA ? —

Eu conhecia bem aquele drogado maldito, ele estava sentindo muita dor, mas não era afim de morrer, então ia apelar, mesmo odiando ia ter que me implorar. E aconteceu antes mesmo do que imaginei.

— MANO, POR FAVOR ! NÃO FAZ ISSO....FOI MAL, ISSO NÃO VAI ACONTECER DE NOVO, MORÔ ? EU SAIO ATÉ DO MORRO, TE PAGO O QUANTO QUISER, SÓ ME DEIXA VIVO ! —

— Adoro ouvir um estuprador de merda pedir por favor — Soquei a boca dele e o vir cuspindo um dente junto com sangue. — QUANDO ELA PEDIU POR FAVOR, VOCÊ NÃO PAROU PORQUE, EM ?? SEU FILHO DE UMA PUTA !! —

Atirei nas partes dele, o bosta começou a urrar de dor tentando se mexer. Vi o sangue jorrar e peguei o ferro que Felipe tava esquentando, coloquei no lugar do sangue e senti o cheiro de carne queimada subir junto com a fumaça.

— PELO AMOR DE DEUS, PARAAA !! — Gritou — NÃO, NÃO, NÃO FAZ ISSO, NÃO !!! — Urrou de dor me ouvindo gargalhar de seu sofrimento.

A cara dele tava toda machucada e cheia de sangue, o membro do corpo que ele mais valorizava já tinha sido destroçado, eu curtia muito aquilo tudo, o ódio que corria no meu sangue era maior que qualquer dor que ele poderia sentir.

— Pelo amor de Deus....me deixa ir, não me mata. Eu tô implorando....me perdoa — O safado já nem conseguia mais gritar de tanta dor, quase sussurrava.

— Quem perdoa é Deus, já eu, quero te mostrar o limbo, seu maldito.
Mesmo achando que você não podia nem tá falando o nome dele, vai pedindo perdão aí, que se for de verdade tu chega lá. Lembra do Dimas ? O ladrão da cruz ? Foi na última hora, em !. Então tenta aí — Com a mão espalmada bati na cara dele.

— Mas pede perdão lembrando que quando ela pediu pra você parar pelo nome de Deus, tu não deu a mínima —

Fiz uma fogueira num tambor de ferro e arrastei pra debaixo dos pés dele, abaixei o gancho e comecei a aumentar o foto com gasolina, joguei uns lixos lá dentro e ajudou a chama aumentar ainda mais. Isso fez com que os pés dele começassem a queimar.

Peguei a garrafa de gasolina e derramei na cabeça dele, vi o líquido escorrer pelo corpo e o fogo começou a se espalhar pelas pernas enquanto ele chorava pedindo socorro.

— VOCÊ NUNCA MAIS VAI MACHUCAR ALGUÉM — Virei pra trás e olhei todos, um dos meus crias abaixou e começou a vomitar.

— Que fique de lição. O próximo traíra vai ser comido por piranha.
Na minha favela não tem estuprador, aqui esse tipo de coisa não passa, e se mexer com a Juliana ou ameaçar minha filha, já sabem ! — Falei alto por que lixo tava ardendo no fogo e gritando feito puta.

Todo mundo concordou enquanto ouvia os últimos gritos do Neguinho, ele dizia berrando e mesmo queimando ainda ria "FUI EU !! FUI EU !! ".

Minha conclusão foi uma só, as últimas invasões que aconteceram na favela tinha o dedo dele.

Joguei mais combustível e o fogo subiu de uma só vez, eu estava satisfeito, pude ouvir ele urrando até a morte, cuspi naquele monte de merda queimada e começaram a atirar no corpo. A gente sabia que ele já nem sentia mais nada, olhando de fora podiam dizer que nem fazia sentido. Mas só quem abomina esse tipo de atitude sabe a paz que dá ao sentir que pode fazer justiça.

Avisei que eu não ia trabalhar hoje, os mais chegados falaram pra eu ir ficar com a Juh.

Mesmo ela tendo amizade com poucos aqui, pelo menos na minha frente o pessoal já gostava dela.

Dispensei Felipe, ZL, Thiago, Caio, Rafael e mais alguns vapores e fomos embora.

Cheguei em casa e dispensei os seguranças, deixei só dois pra ficar fazendo ronda. Melhor prevenir do que remediar.

Olhei Juliana deitada com Nicolly no sofá, ela sentou me olhando meio paralisada.

JULIANA

Eu deitei com a Nick no sofá que mesmo passada me deu apoio e aguentou um tempo ainda, mas por estar de porre e assustada ela apagou primeiro.

Eu tentei, mas nada mais passava pela minha cabeça além do que aconteceu, eu remoía aquilo repetidamente e parecia que estava acontecendo outra vez.

Era pior a cada minuto, eu tinha vontade de bater minha cabeça na parede para as imagens pararem de passar.

Num dado momento, aquilo calou, eu respirei fundo, eu não digo que estava feliz, mas pude ouvir os gritos de desespero daquele desgraçado. E pode parecer cruel, mas sentia alívio e medo, ao saber que realmente C.R tinha coragem de fazer aquelas coisas.

Passado algum tempo eu ainda olhava a porta, então o vi entrar em casa.

— Os gritos eram dele ? —

Balançou a cabeça de maneira positiva e eu fechei os olhos. Felipe pediu licença e veio pra perto, me deu um leve abraço de conforto e solidariedade.

— Obrigada pelo lençol mais cedo — Ele concordou e abaixou beijando a cabeça de Nicolly para acordá-la.

Minha amiga resmungou mas despertou. Pareceu cair a ficha de que tudo era real e me olhou ainda mais assustada.

Me abraçou brevemente e eles foram embora.

C.R subiu e não demorou para voltar. Havia tomado banho e trocado de roupas.
Agora já não tinha mais sangue manchando sua pele.

Se sentou no sofá e me olhou.

— Quer que eu durmo no quarto ? Tem problema não — Segurei a mão dele.

— Fica....dorme aqui, não quero ficar sozinha — Ele se deitou outra vez e eu apoiei a cabeça em seu peito procurando uma boa posição. — Obrigado — Sussurrei.

— Xiuuu, tenta dormir, vai — Fechei os olhos e tentei dormir, o dia já tinha clareado e ele ficou ali, brincando com meus cabelos até dormir também.

De tempos em tempos meu corpo dava pulos, eu ainda estava extremamente assustada, e até acabava assuntando o pai da minha filha. Esse parecia não ligar, apenas tentava me acalmar e me fazia voltar a dormir.

Eu acho que consegui dormir um pouco, não sei bem a hora que o sono se aprofundou. Mas acordei com a Manu muito agitada e logo descobri o motivo, Cláudio estava conversando com ela, a mesma parecia saber claramente quem era o pai.

Passei a mão na cabeça dele e o mesmo sorriu ao me olhar.

— Eu vou cuidar de você pra sempre, de você e da nossa pequena — Disse me lançando um olhar firme.

— Tenho certeza que sim —

Recebi um carinho no rosto, ele passou a mão cautelosamente, sabia que estava dolorido. Deu um sorriso de lado e suspirou se voltando a minha barriga outra vez.

Me encolhi e fechei os olhou outra vez enquanto ouvia ele falar com a Manu em meu ventre. Só queria dormir até toda aquela angústia passar.

Eu ainda estava muito triste, aflita e machucada, mas sentia que ia ter seguir em frente pela minha filha que nasceria em breve.

Seria dolorido mastigar aquilo dia após dia, mas era necessário.

Da Zona Sul pro Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora