Um a mais, um a menos...

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NEGUINHO


Na moral, tá passando da hora daquela mina dar um pé na bunda do C.R, ele tava na mó preocupação com ela, esse babaca tá emocionado.
E outra, vai saber se o bastardinho é dele mesmo, ele é otário demais, e isso é desde sempre, sempre visou o bem da comunidade e depois a grana.


Eu não, eu primeiro viso grana e depois essa bosta de lugar, cada um trabalha pelo seu e não pelos outros, ele que é tonto.

O pai e o irmão dele deram um mole danado quando deixaram esse lugar pra ele antes de irem comer capim pela raiz.

Mas logo esse posto vai mudar, eu dei um salve no morro rival há uns dias atrás, já fizeram até uma visita aqui.
Só que o filho da puta que o Maicon mandou, além de errar o tiro ainda morreu, burro do caralho mesmo, é como dizem, se quer bem feito faça você mesmo e é isso eu vou fazer.

Logo as coisas vão ser diferentes, nem que eu mesmo tenha que matar o C.R. Primeiro vou dar um trato na puta dele que por sinal é bem gostosinha e depois um fim nele, até porque, um a mais e um a menos nesse lugar, não vai fazer falta e só assim vou poder comandar na paz.


Na cabeça da puta da Natalia ela ficava com C.R, ficava não, já estavam quase namorando. Mas ela tinha acabado de descobrir que ele ia ser pai, descobriu  por minha boca, é claro.

Ela ficou muito brava, eu contei que C.R levou a desgraçada lá pra casa dele, esse nunca tinha levado a burra da Natália lá.
A puta jurou que se eu visse a grávida, ia acabar com a raça da safada, mas que antes ia tirar uma bela de uma satisfação, disse também que sabia que C.R amava ela, e Juliana não ia tirar ele de seus braços, até porque filho não segurava homem, mas um bom chá sim, e dessa favela inteira, o melhor que ele já tomou foi o dela.

Eu rachei o bico e dei um trato nela, sempre pagava de mulher do chefe, mas era uma marmita de bandido completa.
Quando foi embora eu fumei um cigarro e estiquei as pernas vendo o dia amanhecer.


O babaca passou a noite em casa com a Juliana e me pediu pra cuidar durante a madrugada, antes de dizer que ia, já avisei outra vez que ele era um tonto e ia ficar mole porque aquela vaca, ele não falou mais nada e eu fui pro meu posto.

Quando o dia amanheceu ele apareceu e mandou cada mano pro seu lugar. No fim, mandou Felipe e Rafael cuidar dos carregamentos de armas e eu só fiquei olhando.

— Tá de TPM, caralho ? Tá achando que é quem pra falar daquele jeito, em ? — Perguntou depois que todo mundo saiu.


— Tava não, mano, mais na moral ? Tu vai quebrar a cara, se ela virar teu ponto fraco vão invadir essa porra aqui tá ligado ? —


— Maluco, cuida do teus beó que eu cuido dos meus, morô ? —


— Véi na boa, vai que esse filho nem é teu e tu já caiu de gaiato na historinha dela, parça. Deve ser igual as outras vagaba que se já comeu —


— Mano, cala essa boca filho da puta, a mina era virgem, VIRGEM, e o filho é meu sim.
Da próxima vez que chamar ela assim, vai se ver comigo — Levantou a barra da camisa mostrando a arma na cintura. — Morô ?? —


Fiquei puto quando ouvi ele falando aquelas merdas, se ela não fizesse isso eu mesmo ia dar um jeito do morro ser invadido outras vezes.


Os dias passaram e eu decidi ficar de olho nos dois, uma hora alguma coisa ia dar errado e eu ia entrar pra acabar com aquilo.





JULIANA

Acordei pela madrugada sentindo um baita enjoo, corri pro banheiro colocando todo o jantar da noite passada pra fora, senti uma mão quente na minhas costas após uma pausa no vômito.
C.R segurou meu cabelo me dizendo pra ter calma, virei a boca novamente e mais vômito.

Fiquei alguns minutos assim e me levantei, lavei a boca e fui deitar outra vez, ele saiu do quarto e eu me enrolei novamente sentindo o amargo do vômito ainda em minha garganta, fiquei quieta e encolhida torcendo para que aquilo sumisse logo, pois se continuasse era provável que eu vomitasse outra vez.


Vi C.R entrando novamente, mas com algumas balas e uma garrafinha de água, me deu e se deitou.

— Obrigado — Após beber metade da água da garrafa, chupei algumas balas e me deitei, porém não consegui mais pegar no sono, fiquei então observando o pai do meu bebê e imaginando algumas coisas.


Logo amanheceu, já era sábado e também.....meu aniversário, fazia meus tão esperados, porém, agora nem tanto, dezoito anos, fechei isso olhos soltando um suspiro.


A cama tremeu quando C.R se levantou e continuei quieta com os olhos fechados, senti ele passar a mão na minha barriga dando bom dia pro bebê e depois saiu do quarto.

Muito tempo depois me levantei da cama sem ânimo e ainda meio enjoada, tomei um banho e coloquei um vestido observando o pequeno volume na parte baixa da minha barriga.


Passei a mão e soltei um pequeno sorriso, era a primeira vez que eu pensava naquele bebê com carinho, afeto, até com amor e não com desgosto. Fiquei contente ao perceber isso e logo fui ao andar de baixo para comer alguma coisa.


Rita estava lá e quando me viu já veio me abraçar e servir o café, as vezes eu me sentia uma inútil, ela sempre fazia tanta coisa só e era raro me permitir ajudar.

— Juliana... —


— Oi, meu amor, pode falar —


— Eu queria resolver algumas coisas no shopping, mas não quero ir sozinha, minha pressão anda muito baixa, filha. Eu ando com muito medo de passar mal e estar sozinha —


Confesso que não estava muito animada pra sair, porém não deixaria ela ir só, logo ela que estava sendo a figura mais próxima da minha mãe em todos esses anos depois da morte dela.


— Eu vou com você, não se preocupa — Sorri.


— É sério ? Não vou te incomodar ? — Perguntou envergonhada.


— Claro que não, eu nunca faço nada aqui, não custa ir com você. E mesmo qie estivesse ocupada, pra você eu arrumaria tempo —


— Não fala assim que eu choro —


— É só a verdade — Terminei o café, beijei as bochechas dela e subi as escadas.
Peguei meu celular e calcei minhas sapatilhas, voltei pra cozinha esperando que a hora de sair chegasse.


Rita até me deixou ajudar ela com algumas coisas e também me ensinou a fazer torta de limão, logo eu que nem ovo frito sabia fazer.

Acabei contando do beijo e ela riu me dizendo que não demoraria pra ficarmos juntos, comunguei essas palavras e novamente ela riu.


— Para de brincadeira, é sério, eu não quero isso não —


— Menina, para. Tá na sua cara, cuspida e estampada que gosta dele —


— Não dá pra acreditar nas minhas palavras ?, Rita eu não vou virar mulher de bandido, não tenho vocação pra esse tipo de coisa —


— Juh, ninguém tem vocação, simplesmente acontece, aceitando ou negando, acontece. Mas aceitando é mais fácil —

Preferi me calar.

Da Zona Sul pro Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora