JULIANA
Subi no cavalo que ele falou, na verdade era uma moto e bem mais bonita que a do Felipe no dia do baile.
Como conseguiam tanta grana pra uma moto dessas ? A claro ! Como pude me esquecer, ele trafica armas, drogas e rouba obviamente.
Me agarrei involuntáriamente no homem assim que ele acelerou aquela moto gigante, nos fazendo andar perigosamente em alta velocidade.
Quando ele parou na frente de uma grande casa eu fiquei impressionada de verdade. Linda, mesmo que só estivesse vendo por fora, não parecia que era dentro da favela.
Ele entrou e eu acompanhei, mal educado poderia ser gentil e me deixar entrar primeiro.
Olhei a casa por dentro, admito, fiquei de queixo caído, era luxuosa e bem decorada. Não tinha nada haver com os outro barracos e casas.Mudei o foco quando ele falou pra eu o seguir, vi o cara colocando uma arma que eu nem tenho ideia de qual seja o nome, em cima de uma prateleira perto da TV.
O segui pelas escadas até o primeiro andar, vi o meu novo quarto e entrei analisando tudo.
— Aí, Juliana, não tá tendo roupa pra tu, mas amanhã te descolo uma grana, como tu é paty, vai no shopping.
Ali é o banheiro, vou pegar uma camisa minha pra você —Apontou o banheiro vendo que eu estava impressionada com tudo que havia visto até ali. Só o olhar que me lançou já mostrava que se gabava mentalmente.
Saiu logo e me deixou ali, pensando em tudo, me encostei na parede mais próxima buscando uma ponta de irrealidade em tudo que aconteceu. Suspirei e fui até o banheiro, me despi e liguei o chuveiro.
C.R
Desci até o quarto da Rita e passei o que ia pegar daqui pra frente. Sai rápido de lá, me lembrando da camisa que fiquei de pegar pra burguesa.
Peguei uma camisa regata e sai do meu quarto, entrei no dela sem avisar e peguei a nojenta pelada, peladaça, como papai do céu mandou ela de lá do céu, pra vir aqui me presentear com essa visão, puta merda papai, que curvas.
A mina virou soltando um grito e se abraçando tentando esconder o corpo. Joguei a camisa pra ela picando minha mula de lá.
Estava na cozinha e lembrei de um bom lugar pra pedir uns sandubas, liguei e pedi um combo mozão, vem uma pá de batata frita e dois lanchão monstruoso, pedi mais dois lanches por fora e confirmei o pedido mandando trazerem uns chocolates pra burguesa.
Fui no quarto da Rita e perguntei se ela já tinha comido, ela disse que sim e eu não precisava me preocupar.
Voltei pra cozinha e não demorou muito pra Juliana descer as escadas com minha camisa.— Eai, vestido novo, paty ? De qual grife tu comprou ? — Deu uma risada frouxa e revirou os olhos, ela era mó gata, na moral.
— Ô Juliana, foi mal mesmo ter entrado no quarto —Ouvi ela dizer um "sem problemas" e olhei a boca dela com o corte saindo um pouco de sangue, abri a última gaveta do gabinete da cozinha e peguei um Band-aid. La ficava uma pá de coisa de primeiros socorros, Rita não deixava faltar nada.
Fui até Juliana cortando as pontas do curatico e ela se esquivou.— Fica quieta, carai — Ela parou, e eu passei o dorso da mão limpando o sangue, coloquei o curativo e a olhei. — Pronto, coisinha —
A campainha tocou e eu fui atender.
Paguei tudo e voltei pra dentro de casa sentindo o cheiro gostoso se espalhar. Antes mesmo de abrir os lanches e palhaça resolveu subir outra vez.— Tá achando que vai aonde, mina ? Senta esse rabo aqui que tu vai comer tudo —
Falei autoritário e ela voltou.
Se sentou ao meu lado e me observou comendo três lanches, quando parou de cuidar da vida dos outros o lanche dela já tinha ido pro estômago.
Pareceu só aí perceber que estava com uma baita fome mesmo, tomou Coca-Cola e eu abri outra sacola quase cheia de chocolate Trento. Entreguei e ela pareceu satisfeita, e olha que eu nem sabia nada sobre ela.Depois de tantos choros nesse dia, deu um sorriso.
— Obrigada, são meus preferidos. Vou.....subir agora —
— Aí, novinha, tu fica mais bonita com esse sorriso na boca, em ! —
Ela ficou parada parecendo uma tonta e eu abri uma cerveja que peguei na geladeira antes de sentar.
Resolvi deixar avisado.
— Dá uma atenção no que vou te dizer, meu quarto é na frente do seu, qualquer beó, é só bater lá. E toma aqui — Peguei minha carteira e tirei mil reais, entreguei liso na mão dela e lembrei da consulta que ia falar e peguei mais quatrocentos. — Ó, com esses quatrocentos, paga uma consulta pra ontem, lá nos hospital chique do asfalto, se for mais me avisa que te dou. E com os mil, compra umas roupas, só não dou mais porque Nick disse que amanhã já trás as suas trouxas. Boa noite pros dois aí —
Dei um tchau pra barriga dela e a chata subiu. Já eu, fui pro sofá, juro, até que tentei dormir na madrugada mas não deu, eu tava feliz e apavorado, será que seria um bom pai pro bacuri ? E se fosse menina ? Puta merda, menina não, da um trabalhado do caramba e vou ter que matar mais gente. Namorar ela não vai de jeito nenhum.
O dia amanheceu e eu senti uma ponta de sono. Como sempre fiquei todo contorcido, depois não sabia o porque de acordar todo doído depois.
Não sei quanto tempo depois ouvi passos e nem sabia se era sonho ou se já tava acordando. Senti a presença de alguém e segurei rapidamente quem quer que fosse.A minha percepção ainda estava desnorteada pelo sono, quando abri os olhos e vi Juliana, fui soltando seu braço.
— Desculpa aí, foi mal — Sou um puta vacilão.
— Eu não fiz nada, cara — Olhou o braço vermelho e suspirou. Ela também parecia não ter dormido, mas não era de felicidade, os olhos estavam inchados e vermelhos outra vez.
Com certeza lembrou de tudo que a bruxa velha da tia disse.— Eu só fui pegar a latinha pra por no lixo, você é doente ? —
— Já falei que foi mal, é surda ? — A mal educada mostrou o dedo. — Dá próxima eu quebro sua mão e coloco esse dedo na sua garganta — Arregalou os olhos e eu ri. — Tô zuando, coisa. Vem, vou te apresentar a Rita, pelo cheiro ela tá na cozinha —Juliana foi na frente toda estressadinha e deu de cara com Rita. Viu a mesa posta como se fosse um banquete e a senhora se aproximou.
— Bom dia, menina bonita, eu me chamo Rita, você é a Juliana, não é ? —
— Bom dia — Assentiu.
— Por acaso estava chorando ? — A nojenta se encolheu.
— Sente aqui, venha tomar café, tem que se alimentar bem pro neném crescer forte — Rita sorriu pra Juliana e puxou a cadeira.
— Isso aí, Ritinha, bota juízo na cabeça dessa perturbada —
Me olhou por uns segundos e riu.
— Tá fazendo teste pro circo ? Se ainda não, seria um bom momento pra começar e parar de encher — Olhou pra Rita. — Obrigada, vou aproveitar, está com uma cara ótima — Voltou a me olhar. — Idiota ! —
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Da Zona Sul pro Morro.
RomansaJuliana é uma garota mimada de dezessete anos, que vai ter seu mundo virado de cabeça pra baixo. Uma fuga do internato pra uma festa, nunca havia machucado ninguém, até agora. Mas ela vai conhecer o lugar onde passará o resto da vida, vai conhecer...