Odeio ele.

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JULIANA

Fiquei sentada no chão tentando tomar fôlego. Abri a minha bolsa e peguei a bombinha, inalei sentindo o ar invadir meus pulmões e me encostei na parede chorando amargamente.

Será que se eu tivesse falado a verdade ele teria feito o contrário disso ? Não tenho ideia, só sei que odeio ele.

Passei a mão na boca limpando o sangue que escorria e fechei os olhos pela dor, com certeza estava inchada.

Me levantei com calma e fui até o banheiro, fiquei nua e liguei o chuveiro, tomei um longo banho e vesti apenas um blusão e uma calcinha, me sentei na cama e ouvi a porta, senti medo e as lágrimas tomaram conta de mim, outra vez.

— C.R por favor, chega, por favor !! —

Vi um corpo completamente diferente do de Claudio passar pela porta. Era a Rita, ela pareceu relaxar quando me viu.
A senhora segurava uma bandeja com água e gelo, parecia certeza que ele havia me machucado. Analisou meu rosto vermelho e os lábios inchados e roxos e com um corte lateral. Aquele maldito anel que ele usa.

Deixou a bandeja na cômoda e me abraçou. Não demorou para que eu caísse em prantos em seu ombro. Fechei os olhos imaginando os braços da minha mãe me envolvendo. Fiquei calada sentindo as lágrimas tomarem conta de qualquer palavra.

Um bom tempo depois ela se afastou e eu já havia parado de chorar, ela colocou um paninho com gelo em minha boca e tirou meus cabelos rosto.

— Ô menina, você disse que não ia demorar, eu te avisei, filha, eu te avisei — Passou a mão nos meus cabelo tentando me acalmar.

— Ele é um monstro, Rita — Sussurrei e tomei toda a água do copo.

— Ele odeia mentiras.....porque não falou a verdade de uma vez ?? —Respirei fundo e levantou começando a organizar o quarto. — Eu te falei, meu amor — Preferi não retrucar.

Suspirei e me deitei na cama, fechei os olhos tentando imaginar alguma solução razoável para aquele enorme problema, acabei apagando. Estava exausta.

Acordei com Cláudio do meu lado e me assustei. Peguei o celular olhando as horas eram duas e vinte da manhã.

C.R estava dormindo, pelo menos eu acho, fiquei olhando ele, enquanto um turbilhão de pensamentos passava pela minha cabeça.

Ele dormia, havia um travesseiro enorme ali, a arma dele estava em fácil alcance, era uma questão de segundos e meu Deus, no que eu estava pensando ?

Respirei fundo e fui até a porta, tentei abrir e ela continuou trancada.

— Tá querendo ir encontrar ele de novo ? — Me virei num pulo.

Por mais que eu estivesse com medo dele, eu não via hora melhor para confronta-lo, mesmo que correndo o risco de acontecer de novo eu comecei a falar.
Se ele viesse eu gritaria a Rita, essa semana ela não saía daqui mesmo.

— E se for ?.....vai vir me machucar de novo ? — Forcei o trinco novamente enquanto sentia seus olhos me encarando.

Ele tirou a chave da carteira fazendo questão de mostrar enquanto rodava o chaveiro no dedo.

— Não te machuquei por causa dele....E sim pelas suas mentiras. Porque não falou nada ? Porque não disse que ia encontrar um cara, que aliás tiveram uma coisa antes.....—

— Você falou que ia transar com aquela vagabunda antes de ontem ?. Me deixou sozinha aqui e foi lá "foder gostoso", né ? — Sorri irônica. — Eu vi a mensagem, não senti nada, mas quando você saiu desse quarto pra ir lá. Você deixou bem claro pra mim, que do mesmo jeito que tu pode, eu posso também......hoje eu tive forças pela primeira vez pra me defender, pra defender o morro, defender você. —
Falei com desgosto. — Mas eu cheguei, e a primeira coisa que senti foi impotência, fraqueza, tristeza e ódio —

Limpei meu rosto.

— Por favor.....tudo que eu quero, é matar um desejo dessa gravidez, então, por favor abre essa porta — Se levantou e abriu a porta, deixou a chave no trinco e eu sai.

Cheguei na cozinha e comecei a fuçar a geladeira a procura de algo que viesse saciar meus desejos de gravidez.

— Oh Senhor, será que não tem nada aqui ? — Bufei.

— Tá com desejo do que ?....fala aê — Me virei vendo o pai da minha filha encostado no batente com os braços cruzados.

— Eu não estou feliz com você, não mesmo, só vou falar por que não to aguentando. Quero comer sorvete de chocolate com um pedaço de mozarela e banana —

— Vai pro quarto —

— Vai me trancar outra vez ? — Ele revirou os olhos e eu sai.

Quando cheguei no cômodo ele apareceu também e vestiu uma camisa, pegou a carteira e a chaves da moto, colocou a arma na cintura e se virou para me olhar.

— Fica aqui, tá ? Eu já venho ! —

Ignorei oque ele disse e me deitei, liguei a TV e ele saiu, levantei a blusa e passei a mão na barriga. Senti algumas estrias que se formavam e bufei, era parte da gravidez, eu não podia fazer nada a não ser rezar pra não aparecerem outras.

Se passaram mais ou menos quarenta e cinco minutos e eu já estava me preocupando quando a porta foi aberta. Vi C.R com algumas sacolas e sorri.

— Me dá !! —

— Calma, deixa eu explicar. Mesmo indo de moto demorei, não tinha lugar aberto às três da manhã. Fui lá pro bairro dos seus pleyba e achei um mercado vinte e quatro horas — Bufei e de separar algumas sacolas me entrou apenas duas.

O vi mexer nas que ele pegou e sentou na cama abrindo um latinha de cerveja. Já eu, misturei tudo meio desesperada no pote de sorvete e comecei a comer.

Aquilo estava tão bom, era como se eu não tivesse comido há dias. Pude ver quando ele abriu uma caixa de chocolate e bebericou a cerveja.

— Deixa eu tomar um pouquinho ? —
Prendi o cabelo com a boca aguando, aquele cheiro estava me matando.

— Você tá grávida, não pode — Suspirei e ele me olhou. — Merda viu, só um pouquinho, não quero minha filha com a cara amarela — Me deu a latinha permitindo que tomasse apenas um pequeno gole, puxou da minha mão rapidamente e eu ri.

— Hmm, isso é muito bom — Sorri deixando o pote de sorvete de lado e peguei um bombom da caixa dele.
— Obrigado por ter saído essa hora —

Se aproximou tocando meu rosto.

— Me desculpa por ter feito isso — Passou o polegar levemente no corte feito por seu anel. — Eu tava cego de raiva, e antes do vapor dar notícias suas, achei que tinha ido abortar ou sei lá. Eu sou um idiota, foi mal, tô me sentindo um merda —

— C.R....Não faz isso, por favor — Tirei a mão dele do meu rosto e suspirei.
— Você já me bateu antes, eu perdoei porque estava drogado. Mas olha, deixa isso pra lá, eu não saio sem avisar mais, tá bom ? Mas deixa esse assunto de lado.
Hoje eu até falei pro babaca do Lucca, que você me leva pra cama até agora e ele nunca conseguiu, e também falei que lá no fundo eu sentia algo por você. Mas confesso que fiquei com muita dúvida depois de hoje, eu nunca odiei ninguém, e você suscitou isso dentro do meu corpo —

Concordou com minhas palavras e ficou quieto, pegou sua caixa de chocolate me fazendo revirar os olhos. Se deitou e eu voltei a comer meu sorvete.

Quando não aguentei mais, desci na cozinha e o guardei no congelador.
Lavei as mãos e voltei ao quarto.

Me deitei e quando achei que iria dormir, Cláudio se virou ficando frente a frente comigo e passou a mão em minha boca outra vez, vendo o que tinha feito ali. Depois de alguns minutos levou a mão para minha barriga e fechou os olhos.

Da Zona Sul pro Morro.Onde histórias criam vida. Descubra agora