JULIANA
Eu estava atrasada para ir ao hospital e só de lembrar que C.R não teve sinais de melhora nessa semana que passou, meu dia piorava.
Eu estava mais desesperada a cada dia, ansiava muito pela melhora dele, mesmo assim tinha que vir para casa as vezes, mas eu não deixei de ir lá um só dia.
Os meninos visitavam ele e orávamos para que saísse logo daquele estado horrível, minha aflição era constante, mas também tinha que me preocupar com a neném e ser responsável pela saúde dela.
Nessa semana Rita foi visitar o Cláudio e me disse que não poderia ficar mais em casa, pelo fato de ter que cuidar da irmã também hospitalizada.
Eu fiquei ainda mais triste mas tive que aceitar, prometi pagar todos os dias dela.
ZL, se tornou uma ótima companhia assim como todos os amigos dele. FP também se aproximou bastante, percebi que ele comandava o morro tão bem quanto C.R.
Eu não sei por qual motivo, mas mesmo eu não entendendo nada dos assuntos da comunidade, ele me falava tudo que se passa ali.
Inclusive me deu uma enorme quantia de dinheiro, o mesmo disse que era o lucro da semana. Eu aproveitei e fiz o pagamento da Rita e também das contas de casa. Quando fui devolver o restante da grana, Felipe negou e disse que era do C.R e que eu podia usar.
Avisou que enquanto o amigo não voltasse ele ia dar os pagamentos do C.R diretamente em minha mãe pra terminar de comprar as coisas da Manu.Minhas amigas também não deixam de cuidar de mim e da minha bebê, estavam sempre pegando no meu pé e me lembrando de comer, das vitaminas e de ir dormir.
...
Peguei minha bolsa e saí correndo depois de trancar a porta, subi na garupa do ZL e logo coloquei o capacete.Chegamos após alguns pouquíssimos minutos no hospital e me deram a etiqueta de acompanhante e para ZL, de visitante.
Entrei no quarto olhando C.R bastante abatido. Me dói tanto entrar aqui todo dia e ver ele dessa forma, pálido, cheio de aparelhos pra ajudar a respirar e tudo mais.
Me aproximei sentindo meu coração apertar de uma forma gigante, mais que todos os outros dias. Segurei a mão dele e como de costume as lágrimas rolaram de meus olhos.
— Eu demorei tanto pra admitir isso...—
Me curvei deixando o rosto perto do dele. — Toda minha arrogância, pose de superior e meu orgulho idiota nunca me deixaram admitir, mas ouça, eu te amo...Volta pra gente, estamos com tanta saudades —Apertei a mão dele levemente e a coloquei sobre minha barriga, a neném pela primeira vez não chutou com o calor da mão dele e então o monitor multiparamétrico começou apitar descontroladamente.
De repente, o apito tomou um rumo só e seguiu ecoando pelo quarto. Aquilo entrou feito uma bomba em meus ouvidos.
ZL correu pra fora do quarto. Comecei a mexer o corpo do pai da minha filha, ele estava pálido e suas veias verdes se destacavam como nunca.
Fui puxada pra fora do quarto e os médicos ligaram o desfibrilador.
— NÃO !!!....NÃO DEIXA ELE MORRER, POR FAVOR, NÃO DEIXA.
DEUS, O SENHOR ME DISSE QUE NÃO IRIA ACONTECER ISSO !! —Eu chorava em desespero e quando me encostei na parede deixei meu corpo descer aos poucos até chegar no chão em prantos.
Os médicos demoraram pra sair do quarto e assim que fizeram isso, me levantei com certa dificuldade e ZL parou de andar de um lado para o outro.
— Como viram, ele teve uma parada cardíaca. Mas, conseguimos reanimá-lo, o corpo continua sem responder ou melhorar e partir de agora vocês podem acabar vendo algumas marcas onde o desfibrilador foi colocado, mas em breve vai sumir —
Suspirou.
— Eu sinto muito, mas ele está ocupando vagas aqui. Tem gente lá em baixo precisando de um leito aqui —
— Olha aqui, estamos pagando, ninguém tá de favor não, espero que não ouse nem tocar nesse tipo de assunto insolente outra vez.
Ele vai melhorar, eu sei que vai, passe o tempo que passar, se mexerem naqueles aparelhos ou não cumprirem o juramento de vocês, eu mesma mato um por um ! —Disse entre dentes morta de ódio e entrei novamente no quarto, me sentei na poltrona e acariciei os cabelos do C.R, suspirei e sussurrei.
— Não vou deixar ninguém mexer com esses aparelhos, meu amor —
Horas depois, ZL foi embora e eu continuei ali o resto do dia e a noite inteira.
Como havia trazido algumas peças de roupa, não sairia daqui por uns dias.Alguns dos outros amigos vieram para ver C.R e quando foram embora, aproveitei a carona e desci com eles até a lanchonete para comer alguma coisa.
Retornei sozinha para o quarto e peguei Natália do lado da cama, eu só podia estar delirando.
— Oque acha que esta fazendo aqui ? —
Me aproximei encarando ela com seriedade.
— Ele me prometeu que não faria isso.....aquele desgraçado...— Passou a mão no rosto dele.
— Meu amor.....estou sentindo tanto a sua falta — Ignorava minha presença.— Ele quem ? Quem prometeu que não faria isso, Natália ? —
— Ele vai morrer e a culpa é minha, meu amor vai morrer —
Ouvi ela chamando ele de amor novamente, na mesma hora meu estômago embrulhou e eu me aproximei puxando seu cabelo.
— Fala vagabunda....ISSO É CULPA SUA ? — Dei um tapa no rosto dela com muita raiva, só por uma hipótese daquela ter passado pela minha cabeça.
— O Roger, sua idiota ! Eu fiz isso pra ter fama lá no morro, queria ser a mulher do patrão. Mas ele me prometeu que não causaria grandes danos no Cláudio —
Eu larguei ela calmamente.
— Não.....você não fez isso ! — Abaixei com agilidade e peguei a arma do C.R em minha bolsa, que estava na poltrona ao lado da cama.
Destravei e apontei pra Natália.
— Não se mexe, eu não tô brincando, se fizer qualquer movimento brusco eu vou te matar ! —
O ódio percorria meu corpo inteiro, ela andou até a porta tentando achar a maçaneta enquanto me olhava.
— EU TÔ FALANDO PRA NÃO SE MEXER, SUA VAGABUNDA ! — Berrei e em pensamento pedi a Deus para que ninguém viesse pra cá.
— Você espalhou boatos sobre meu caráter pelo morro, C.R não me conta para me poupar e também quem não me conhece finge gostar de mim quando ele está por perto. Mas, eu vejo a cara das mães e mulheres ali. Os homens falam todo tipo merda e dizem que eu gostei do que Neguinho fez.
Até aí, tudo bem, Natália, mas você fez isso, você é a culpada e eles vão saber ! —Ergui o braço.
— Se você tentar abrir essa porra dessa porta, eu vou atirar, não pense que eu não sei. Eu vi o pai da minha filha montando e desmontando varias armas todos os dias, eu posso muito bem começar a treinar tiro ao alvo com você —
Peguei o celular com outra mão enquanto mantinha firme a que segurava a arma.
Liguei pro Felipe pedindo pra ele vir o mais rápido possível.
Mantive Natália na mira todo o tempo e logo Felipe e ZL adentraram o quarto e ficaram surpresos ao verem a cena.
Guardei a arma me sentindo segura com a presença deles e contei tudo.
Levaram Natália, a mesma estava em completo desespero, aquela nojenta sabe bem oque acontece com esse tipo de gente na comunidade, oque fizerem vai ser muito bem feito, cretina.
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Da Zona Sul pro Morro.
RomanceJuliana é uma garota mimada de dezessete anos, que vai ter seu mundo virado de cabeça pra baixo. Uma fuga do internato pra uma festa, nunca havia machucado ninguém, até agora. Mas ela vai conhecer o lugar onde passará o resto da vida, vai conhecer...