A aula de biologia era uma ótima aula para dormir. E era a primeira aula da segunda feira, o que tornava as coisas ainda mais interessantes, uma vez que era o pior dia da semana.
Eu já estava no meu sétimo sono quando a professora De Brook me chamou, junto aos que também dormiam na aula; demorei a perceber que era um aviso, logo, fui impelido a prestar atenção ao que ela queria dizer, mesmo que estivesse prestes a voltar a sonhar.
— Hoje, vamos receber um aluno "novo" aqui. Na verdade, é um aluno antigo aqui no colégio, mas que ficou sem estudar por alguns meses, devido a uma questão médica.
Quanto mais ela falava, mais eu me desesperava, esquecendo por completo o sono, e a minha maior — e única — vontade era a de sair correndo daquela sala ou enfiar uma tesoura na minha jugular.
Porque eu sabia exatamente de quem ela estava falando.
— Enfim, eu peço que sejam gentis e o incluam.
Ah, eu não iria incluir porra nenhuma.
Ele adentrou a sala a passos lentos. Ao que entrava, olhava para toda a turma nervosamente, mas com aquela mesma cara de filho da puta que ele tinha. A única diferença, além do porte físico mais magro e das cicatrizes, era a bengala que usava para ajudar a se locomover, pois eu percebia que, mesmo sem gesso, ele mancava.
Suspirei, percebendo que ele se aproximaria e, inevitavelmente, ocuparia a carteira ao meu lado, pois não havia mais nenhum lugar livre. E foi exatamente o que ele fez.
O melhor, como pensei na hora, seria ignorá-lo por completo e voltar a dormir. Mas como exatamente eu conseguiria voltar a dormir, se aquele babaca estava do meu lado? E se ele fizesse algo comigo? Esse mero pensamento me obrigou a manter-me acordado, desenhando qualquer coisa no meu caderno, que, àquela altura, só servia para desenhar mesmo.
Passei a desenhar Sven, que estava distante, mas visível. Talvez esboçá-lo no papel me acalmasse; no entanto, não demorou cinco minutos para que Harvey fizesse alguma merda.
No caso, ele colocou a mão em meu ombro, me chamando.
— Que porra você quer? — Bufei, desvencilhando-me de seu toque, que encheu-me de uma raiva súbita.
— Você tem uma caneta? — O loiro parecia um tanto confuso, mas eu não iria cair naquela.
— Vai se foder, eu não vou te emprestar uma caneta! — Acabei falando alto demais, algo que percebi muito tarde; apenas quando notei o olhar fuzilante da professora De Brook sob mim, mostrando que eu estava nada mais nada menos que fodido.
— Eu quero que vocês se dividam em grupos. — Disse ela, ao invés de me dar uma bronca. Nessa, eu já estava levantado para me colar em Leona, quando ela completou: — Viktor, forme um grupo com Harvey.
— Não, professora, por favor. — Eu já estava a ponto de implorar, mas ela parecia irresoluta. A morena me olhou com aquela expressão fuzilante novamente, fazendo-me desistir de vez de fazê-la mudar de ideia.
— Hey, posso fazer parte do seu grupo? — Pediu uma voz que há tempos eu não escutava tão perto de mim; aquilo nunca havia acontecido antes, então quase cai para trás quando virei-me para ver Sven atrás de mim.
Deixa eu falar mais detalhadamente como ele era e por que eu era tão louco por aquele cara.
Sven era mais baixo que eu, a ponto de bater em minha clavícula — por mais que isso fosse por, obviamente, eu ser muito alto, em meus 1,83 de altura —. Seu cabelo era incrivelmente liso, com uma franja castanha escura mal cortada que, vez ou outra, cobria um de seus olhos. Não que fosse emo ou algo do tipo; era só ligeiramente desleixado com seu corte de cabelo, até porque vestia roupas geralmente coloridas. Seus olhos eram grandes e cinzentos, levemente azulados ao sol, e sua pele aparentava um pouco anêmica.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Me Faça Lembrar ⚣
Romance(Completo) Harvey Wingarden tinha a vida que todos os garotos invejavam; era popular, namorava a menina mais bonita do colégio, e era filho único de uma família rica de Elburg. No entanto, após sair em uma viagem, os Wingarden sofreram um grave acid...