Capítulo 15 - Harvey

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O mais perto que eu tive de um indício de homossexualidade, ou ao menos até onde eu conseguia me lembrar, foi na quinta feira, quando eu estava andando em direção à aula de inglês, e um garoto alto, recostado na parede, sorriu para mim.

— Hey. — Disse em seguida, olhando para minhas coxas. Ou talvez não fosse só para as coxas. Mas não me fez ficar constrangido, de forma alguma.

— Hey. — Sorri de canto de boca, analisando-o igualmente.

Mas foi só isso.

Quando me deitei para dormir, pensei bastante sobre isso. Eu ainda não conseguia entender o porquê de discriminarem pessoas que gostavam de pessoas do mesmo sexo, e, para mim, era cada vez mais difícil aceitar que as pessoas não sentiam o mínimo de atração por ambos os indivíduos de cromossomos XX e XY. Para mim, era algo tão normal quanto respirar, o fato de que meninos e meninas eram atraentes.

Tentei listar as coisas que eu achava atraentes em ambos. Não eram as mesmas, obviamente; eu gostava de garotas de cabelo curto e garotos de cabelo longo, por exemplo. Mas o que eu não podia negar era aquela atração imensurável por pernas delicadas e esbeltas.

Como as pernas de Viktor.

Fechei os olhos, mesmo estando no escuro, me esforçando para mentalizá-las. Eram pálidas, longas e finas, com joelhos ossudos e vermelhos. Tentei imaginar o quão roxo ficaria se eu mordesse-lhe as coxas. Ou aquele pescoço, aquele pomo de Adão definido em sua garganta.

Mal percebi quando minha mão adentrou minha calça, pois foi quase automático. Toquei-me com a ponta gelada dos dedos, sentindo um espasmo conhecido.

Eu tinha a impressão de que iria ficar viciado naquilo.

Foi quando meu celular começou a tocar, interrompendo todo o meu momento e fazendo-me estremecer de susto. Eu quase reclamei, até que vi o nome na tela e atendi prontamente.

Depois de combinarmos para nos encontrar na ponte, me vesti correndo, enquanto mentalizava uma série de coisas nojentas para deixar o meu pau menos duro. Felizmente, antes de eu sair de casa, já havia resolvido a situação, ao pensar no meu professor de Física de calcinha.

Cheguei antes dele dessa vez, mas não me importava em esperar. Observei a rua deserta e os postes que mal iluminava o ambiente. Ao longe, uma figura ruiva se aproximava, mas fingi não vê-lo até ele sentar do meu lado.

— Hey. — Disse ele, com o olhar distante, ao que sentava ao meu lado, as pernas para fora da ponte.

— Hey... — O observei por um tempo. Seus cabelos soltos e desgrenhados me davam vontade de arrumá-los, mas me contive. — Por que você quis...

— Eu queria me desculpar por ter mentido para você. Não é como se eu devesse isso, porque você já fez muito pior, na verdade. Só quero ficar de consciência limpa.

— Ah, sim. Tudo bem — Baixei a cabeça, e assim ficamos por alguns longos segundos. — Viktor, por que você me odeia? — Tomei coragem para perguntar, olhando-o novamente.

— Eu não te odeio, eu só não te suporto. — Disse, enquanto mexia em seu cabelo. — Não suporto nada do que você é ou faz.

— Por quê?

— Não é óbvio? Mesmo se você se ajoelhar em meus pés, nada será capaz de reparar o dano que você fez em mim. — Viktor virou o rosto; talvez estivesse chorando. De qualquer forma, não perguntei.

— Por favor, me diga tudo o que eu fiz. — Murmurei cuidadosamente.

— São tantas coisas, Harvey. — O menino limpou seus olhos com o casaco, confirmando minhas suspeitas. — Você era cruel com simplesmente todo mundo, apenas por ser. Se houvesse algo em alguém que você não gostava, nem que fosse um cabelo diferente, você implicava. E era tão covarde porque você trazia seus amigos para isso, até mesmo sua namorada. Você juntava pessoas para zoarem alguém e, se esse alguém ousasse te responder à altura, você e seus caras iam espancá-la ou humilhá-la de alguma forma. E por quê? Por que você sabia que podia.

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