Capítulo 26 - Viktor

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— Que porra, Harvey?

Antes mesmo de fecharmos a porta, eu já estava praticamente gritando em seu rosto, que, aliás, possuía uma expressão confusa. O loiro piscou seus pequenos olhos algumas vezes e comprimiu os lábios antes de me responder, sua voz mansa.

— O que foi?

— É sério que você me pergunta isso? — Suspirei. — Eu pensei que viríamos sozinhos.

— É isso que está te incomodando? — As mãos de Harvey foram em direção a minha cintura, e, sem conseguir me desvencilhar, vi-me preso em seus braços contra a minha vontade, porque ele fedia a cerveja e maconha. — Oh, baby, eu não sabia que você queria ficar sozinho comigo... — E o filho da puta ainda sorria com aquela cara de inocente (que ele não era).

— Não venha com "baby" para cima de mim, e eu não estou puto por isso. — Após alguns tapas em seu peitoral, consegui desvencilhar-me dele. — Eu realmente pensei que viajaríamos sozinhos, e você não me avisou que chamaria os seus amigos. Agora, você está drogado, fedendo, e quer que eu fique de boa com isso? Vai se foder, Harvey. — Okay, talvez eu estivesse sendo um babaca, mas ele não podia me culpar por estar puto.

— Eu não estou drogado. — Respondeu-me ele, sério, mas seus olhos vermelhos o denunciavam. — Desculpa, eu pensei que você gostaria da companhia do Sven... — Sua expressão tornou-se subitamente melancólica quando Harvey desviou seus olhos para o chão.

— E por que eu gostaria da companhia dele, hein, Harvey? O que você quer dizer com isso? — Cruzei os braços.

— Bem, porque ele gosta de você, e você gosta dele há um bom tempo... Então...

— Espera. — O interrompi com um riso amargo. — Você acha que Sven gosta de mim?

— É o que parece...

— Harvey, ele gosta de você.

O menor piscou algumas vezes, sem compreender.

— O quê?

— Quando eu e ele saímos, ele me disse que não podia estar comigo porque ele gostava de alguém. — Suspirei calmamente. — De onde você tirou essa ideia estúpida?

— Mas ele não gosta de mim. Ele me confessou que gostava de outra pessoa.

— Então, se ele não gosta de mim e nem de você... — O olhei por um tempo, franzindo o cenho, quando nós dois, quase ao mesmo tempo, tivemos uma epifania.

Abrimos a porta calmamente a fim de espiar a sala de estar, onde, confirmando nosso pensamento conjunto, Sven e Noora estavam apoiando-se um no outro, chapados demais para notar o quão próximos estavam, e conversando sobre alguma coisa que não consegui ouvir. Eu e Harvey nos olhamos por alguns segundos antes de fechar a porta com cuidado.

— É, acho que estamos presos nesse quarto. — Harvey foi o primeiro a falar. Suspirei, pois eu ainda estava chateado com ele, mas, por respeito ao momento de Sven, eu ficaria naquele quarto, que era bem amplo, então eu teria espaço para ficar afastado de Harvey.

As paredes eram inteiramente preenchidas com um papel de parede vermelho, quase vinho, estampado com algumas listras mais claras e finas. Havia um pequeno sofá marrom encostado em uma parede, e, paralelamente, uma larga cama de casal, com uma cômoda à sua frente e duas mesas de cabeceira aos seus lados, cada um portando um abajur. Um tapete de pelo cobria boa parte do quarto, com exceção de uma estante comprida de madeira rústica, que ficava no canto do cômodo. No mais, uma porta em frente à cama que provavelmente levaria ao banheiro, e alguns quadros antigos.

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