Capítulo 11 - Harvey

446 56 44
                                    

Quando acordei e notei que Viktor não mais estava lá, uma sensação de vazio me percorreu. Desci as escadas, esperançoso de que ele pudesse estar cozinhando, por mais que não houvesse cheiro algum; no entanto, mesmo que ele não estivesse lá, não demorei a notar as comidas prontas na geladeira, cada par com uma etiqueta de um dia de semana. Me vi sorrindo comigo mesmo, mesmo sem saber direito o porquê.

Mesmo não estando com a mínima vontade de sair de casa, decidi, ainda assim, ir comprar um celular para mim. Mas, pela minha preguiça em me manter na rua por muito tempo, especialmente por estar muito frio, pesquisei as lojas e os endereços que eu poderia ir, e não demorei nem ao menos 5 minutos para escolher um modelo simples e voltar para casa. Era um Samsung branco, mas honestamente, eu nem estava me importando.

Demorei um pouco para mandar uma mensagem para Viktor, avisando de meu número novo. Isso porque eu ainda me sentia inseguro em falar com ele, mesmo que houvesse me ajudado num momento tão delicado; ainda sentia que, se eu me aproximasse demais, ele iria acabar me matando.

Para: Viktor

Hey, é o Harvey aqui. Como você mandou, comprei um celular :)

Enviei a mensagem com um nervosismo e inquietação incomum. Levantei, coloquei uma marmita para esquentar no microondas, nada. Chequei o volume de meu celular. O microondas apitou, coloquei o conteúdo da marmita em um prato. Era espaguete ao molho de tomate. Coloquei a primeira garfada na boca, já começando a ficar mal humorado, quando finalmente o celular apitou, avisando-me de ter recebido uma mensagem.

De: Viktor

Bem vindo à modernidade. :)

Sorri comigo mesmo enquanto guardava o celular no bolso.

Talvez Viktor Fontaine não fosse tão bruto assim.

***

— Faltam duas semanas para a apresentação, e nós só temos um slide. — Leona ajeitou seus óculos, com uma expressão de desdém. — Se continuar assim, teremos três slides no máximo. Que ótimo.

— Em minha defesa e de Sven, a gente só pode fazer os slides quando recebermos as pesquisas, e só você entregou uma parte. — Noora olhou diretamente para mim, de uma forma mais que acusadora.

— Vocês fizeram alguma pesquisa nesse fim de semana? — Leona olhou para mim, e depois para Viktor, que respondemos ambos balançando a cabeça em negação. — Cara, vocês são foda!

— Desculpa, eu... — Murmurei, envergonhado, pois sabia que estava errado. Mas, antes que eu pudesse me explicar, Viktor, que estava desenhando, esticou sua coluna e me interrompeu.

— Harvey estava doente. — Seu tom era sério e sincero, de uma forma como nunca havia falado com Leona antes (ao menos não na minha frente). — E eu esqueci, mas vou compensar por isso, juro.

— É melhor que compense mesmo, ou eu corto esse objeto homo-sexual que você tem entre as pernas. Não foda a minha nota em biologia. — A morena deu de ombros, desinteressada. — Agora, vão os dois para a biblioteca, ou eu coloco no relatório que vocês não fizeram nada.

Leona falava como se fosse nossa mãe. Achei um tanto engraçado, especialmente quando Viktor abriu a boca para protestar, mas não fiz nenhuma questão de questionar a ameaça da garota; portanto, me levantei rapidamente.

— Sim, senhora.

Eu estaria mentindo se dissesse que estava indo para a biblioteca à contragosto. Não sabia como dialogar com as pessoas do meu grupo e, naquele quesito, eu era melhor obedecendo ordens que liderando; além disso, era uma ótima oportunidade de conversar com Viktor, pois eu tinha a leve impressão de que ele estava me ignorando. Isso porque, desde antes da professora de Biologia pedir para que reuníssemos os grupos das apresentação, eu havia notado que ele não me olhava diretamente nos olhos, e não se sentou no seu lugar de sempre também.

Me Faça Lembrar ⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora