Capítulo 32 - Viktor

292 32 57
                                    

— Algo aconteceu entre vocês dois? — A voz de Lukas me despertou para a realidade, o que me fez notar o quanto encarava o que anteriormente achava que era o vazio, mas que, como um ímã, meu olhar havia sido atraído por uma figura baixa de cabelos dourados, que, aliás, parecia inquieto com algo. Olhei para Lukas, sentado ao meu lado sem expressão em seu rosto.

— Não... nada. — Murmurei, apoiando o rosto em minha mão. O refeitório era um dos únicos lugares no colégio em que eu via Harvey, pois nós tínhamos aulas quase que completamente distintas, e eu havia começado a matar as aulas de Educação Física desde o dia em que ele me abordou no vestiário. Leona me chamava de covarde, e acredito eu que ela guardava certo rancor enorme de mim por estar tão imerso em minha confusão que acabava por não dar-lhe a devida atenção, mas eu sentia que era muita coisa para me preocupar. Além disso, minhas notas só caíam, e eu não conseguia ter a motivação necessária para mudar isso.

— Você sabe que pode falar qualquer coisa comigo, não sabe? — O garoto alto me abordou com um olhar cuidadoso e uma voz gentil, mas vaga. 

— Lukas. 

— Hm?

— Como era o colégio militar? — Talvez aquilo fosse uma forma de mudar de assunto, mas não era como se eu não estivesse de fato interessado. Além disso, eu havia descoberto algo importante sobre Lukas: ele adorava falar sobre si mesmo. Não de uma forma arrogante, mas talvez por ser o único assunto que ele tinha comigo, já que não tínhamos mais nada em comum. Além, claro, da nossa sexualidade.

— Bem, se meu pai me colocou lá para eu "deixar de ser viado", ele falhou miseravelmente. — O loiro me respondeu com um riso fraco. — Os dormitórios eram enormes e tinham vários beliches, o que era uma merda para a sua privacidade, e para estudar. Mas ninguém estava muito interessado em estudar, então basicamente os passatempos eram divididos entre medir sua força com seus colegas e chupar o pau deles. — Ele havia dito aquilo em um tom de brincadeira, mas eu não duvidava que fosse mesmo assim. Eu ri, e logo ficamos sem assunto novamente, o que deixou um clima totalmente estranho em nossa mesa, pois nós dois já havíamos acabado as próprias refeições.

Mas o silêncio não durou muito tempo, pois, em súbito, pudemos escutar um estrondo um pouco mais à nossa frente, quase no mesmo lugar em que Harvey se encontrava anteriormente. Não pensei que fosse ele no início, mas então escutei sua voz e me levantei automaticamente para ver o que estava acontecendo.

Uma rodinha de pessoas se formou ao redor do que estava havendo, e eu sabia que não demoraria muito tempo para que os funcionários do colégio aparecessem para resolver o que quer que fosse aquilo. Uma parte minha desejou que chegassem logo, mas, ao ver a cabeleira loira em meio a toda aquela multidão de estudantes gritando uns com os outros para que suas vozes se tornassem audíveis em meio àquela bagunça... 

— Que porra, Harvey?! — A voz de Markus surgiu, mais alta e descontrolada que a do loiro, que, pelo que eu pude ver, o derrubou no chão na base do soco. — Para com essa merda!

— Agora você quer que eu pare?! — O estrondo do punho de Harvey contra o corpo do outro não cessava, e, ao que me desvencilhei das pessoas que atrapalhavam minha visão, enxerguei Markus tentando inutilmente revidar. — Não é bom ser humilhado, é? — Então, Harvey fez o mais improvável. 

Ele sorriu.

Mas aquele não era o sorriso dele. Era um sorriso amargo e vingativo.

Logo antes dele levar um soco certeiro em seu olho. Não por parte de Markus, mas por um dos amigos do mais alto; tão covarde que precisava de outros pra lutar suas próprias lutas.

Me Faça Lembrar ⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora