Desde o "fatídico" acontecimento na casa de Lukas, fazia dias que eu não lhe mandava mensagens. Ele, por sua vez, mandou uma, apenas um pouco depois do ocorrido, perguntando-me se podíamos apenas esquecer o que aconteceu entre nós.
Mas eu não o respondi.
Não me levem a mal, pois não era por má intenção que eu o havia deixado no "vácuo". Eu precisava refletir sobre várias coisas que andava ignorando, na minha inútil insistência em pensar que, um dia, tudo aquilo sumiria, e eu viveria como se nada houvesse acontecido. Mas tudo pareceu explodir na minha cara, dando-me opção alguma além de dar atenção àquilo.
Durante alguns dias, quase uma semana se quisesse ser preciso, procurei escrever tudo o que eu sentia (ou ao menos pensava que sentia), racionalizando e externalizando o que precisava ser colocado para fora. Entre palavras e rabiscos, eu tentava entender, mas era uma mistura de sentimentos e pensamentos que me faziam entender que nem tudo era resumido em preto-e-branco; havia uma vasta área cinzenta no meio, cada uma com suas complexidades.
Por isso, no quinto dia, eu decidi visitar Lukas mais uma vez, nem que fosse uma última.
Acorrentei minha bicicleta e bati em sua porta, hesitante; ele não parecia bravo, mas será? De qualquer forma, minhas dúvidas não duraram por muito tempo, pois em questão de segundos ele me atendeu com um sorriso contido, quase triunfante, que me fazia questionar se era por minha causa ou por algo a mais.
— Você veio. Pensei que tinha desistido de mim. — Ele brincou, e foi a primeira vez que o vi brincar daquela forma. Não era a cara dele, nem a minha, falar aquele tipo de coisa, então algo muito bom aconteceu para que estivesse de tão bom humor.
— É, me desculpa... Eu meio que precisei de uns dias. Vim aqui pedir desculpas. Por tudo.
— Você não precisa pedir desculpas. — Seus olhos me fitavam cautelosamente, ao que ele abriu um espaço na porta, convidativo. — Vem, entra.
Eu o segui sem pensar muito sobre, e nos sentamos em seu sofá, onde "aquilo" havia acontecido. O breve pensamento me dava um frio na barriga, e não do tipo bom, mas tentei ignorar.
— Sabe, eu senti sua falta. — Disse ele, de um modo murmurado. — Eu não ligo para tudo aquilo, eu só... gosto de você.
Fitei seu rosto por alguns segundos, um pouco impressionado pela declaração tão súbita. Eu pensei que ele estava bravo comigo, e que tudo estava acabado, mas ele parecia querer mais. Seus olhos me fitavam de volta, sem sequer desviar o olhar, como uma estranha forma de tentar me provar a veridicidade do que estava dizendo.
— Eu ainda não o superei. — Disse em súbito, por não saber o que dizer além da verdade. — O que não significa que eu não queira ficar com você. Mas...
— Eu entendo. — Lukas me interrompeu. — Você pode... me usar. Pra esquecê-lo. Eu não ligo.
— Isso seria horrível, Lukas.
— Não, não seria. Eu quero isso. — Seu rosto não tinha uma expressão carinhosa, mas uma estranhamente determinada. — Quero te mostrar como eu sou melhor que ele.
Suspirei. Seria isso possível? Ou era mais uma das milhares de decisões merdas que eu iria fazer na minha vida? Eu costumava ser só um merdinha virgem, e agora eu seria um merdinha que usava e descartava pessoas? A parte mais egoísta do meu ser dizia para eu "tacar o foda-se" para tudo, já que Harvey me mandou esquecê-lo de vez. Mas agora eu já não tinha certeza se era certo.
— Lukas, eu...
Antes de eu poder completar minha frase, o garoto avançou em mim e roubou-me um beijo, chocando nossos lábios bruscamente, enquanto invadia minha boca com sua língua. Arregalei os olhos, completamente despreparado e sem saber o que fazer; aquelas coisas ainda eram tão estranhas para mim, e eu não me sentia o mesmo com ele de quando estava com Harvey, e talvez nunca sentiria. Seria certo tentar? Eu estaria me mutilando se tentasse transar com ele novamente? Ou seria eu um completo imbecil por isso?
Não pude resolver meus questionamentos naquela hora, pois a vibração do meu celular em meu bolso espantou todos os pensamentos que estavam na minha cabeça. Como eu não suportava que me ligassem, a única pessoa que faria tal coisa seria meu pai, que sequer sabia usar o celular direito.
Interrompi bruscamente aquele momento, afastando-me de Lukas com minhas mãos firmes em seu peitoral.
— Desculpa, eu preciso atender isso. — Murmurei, levando o telefone ao meu ouvido, sem nem precisar checar o número para saber quem era. — Pai?
— Viktor. — A voz do meu pai não estava tão calma como sempre, o que me fez estremecer. Se em algum momento meu pai não soa calmo e altruísta, eu podia ter certeza que algo aconteceu. — Você precisa vir pra casa agora. Precisamos conversar.
Aquelas duas últimas palavras foram os últimos golpes para me matar e enterrar ali mesmo.
— Me diz o que houve, por favor. — Eu já estava tremendo, e provavelmente meu rosto estava mais pálido que nunca. Ele pareceu hesitar, mas eu insisti mais uma vez: — pai, por favor.
— Você anda falando com Harvey esses dias?
— Não.
— Eu imaginei. Aconteceu uma coisa.
Levantei-me de imediato, quase que roboticamente, ao ouvir aquilo.
— Onde ele está?
— No hospital.
— Eu vou para lá. — Eu desliguei a ligação rapidamente, sem nem lembrar de me despedir. Bem, em minha defesa, eu estava tremendo, e meu pai provavelmente compreenderia. Virei-me para Lukas, que observava atentamente. — Eu preciso ir.
Quando estava me dirigindo à porta, no entanto, senti sua mão me segurar firmemente pelo pulso, apertando.
— Você vai para ele, não vai? — Sua voz tinha mudado de tom, e não estava mais cautelosa como antes. Na verdade, ele parecia murmurar entredentes, como um rugido. Virei-me para Lukas, cuja expressão mudou completamente.
— Eu preciso.
— E o que você é? A putinha dele? Você não lembra o que ele fez conosco?
— Não me chame assim. — Arranquei meu pulso do aperto de sua mão. — E ele mudou.
— O caralho! — Agora, suas mãos faziam questão de apertar meus dois braços, me imobilizando. — Ele merece tudo o que está acontecendo com ele! Ele merece apodrecer como o merdinha que ele é!
— Me solte. — Respirei fundo, tentando conter o medo que estava sentindo naquela situação. Eu já tinha sofrido muito nas mãos de muitas pessoas, mas ninguém nunca tinha me agredido tão explicitamente como Lukas estava fazendo.
Ao notar o que estava fazendo, ele me largou, mas não sem antes me olhar com a maior expressão de nojo que já me lançou.
— Você é tão merda quanto ele. Não acredito que gastei meu tempo com uma puta como você. Espero que vocês dois se fodam.
Eu nada mais respondi, pois a única coisa que pensei em fazer foi correr para fora dali. Meus braços e pulso provavelmente tinham marcas nítidas daquela "conversa", e eu iria para a polícia.
Mas eu tinha que passar no hospital antes.
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Me Faça Lembrar ⚣
Lãng mạn(Completo) Harvey Wingarden tinha a vida que todos os garotos invejavam; era popular, namorava a menina mais bonita do colégio, e era filho único de uma família rica de Elburg. No entanto, após sair em uma viagem, os Wingarden sofreram um grave acid...