— Leona. — Murmurei baixinho, mesmo que, se eu falasse alto, o barulho do refeitório provavelmente ofuscaria minha voz.
— Hm?
Não sabia como ela conseguia comer aquela gororoba nojenta que a escola chamava de torta, porque sinceramente, tudo nela me fazia querer virar vegano. Eu brincava com aquela pseudo-comida, jogando-a de um lado para o outro com o garfo, apenas para enrolar de comê-la.
— Você, hm... Lê muita coisa erótica gay, não é? — Perguntei, com medo de olhá-la nos olhos, pois ela provavelmente tiraria uma com a minha cara. Mas Leona era uma boa amiga, eu repetia para mim, porque ela realmente era. Às vezes.
— Sim, por quê?
— E, tipo... como é que as coisas acontecem nelas? Tipo, como que eles...
— Ah, isso depende. — Ela me interrompeu, fazendo-me olhá-la. Levei o canudinho do suco aos meus lábios, tomando alguns goles, ao que Leona apoiou a cabeça em sua mão com uma neutralidade bizarra. — Vocé vai comer a bunda de Harvey ou Harvey vai comer a sua?
A bebida mal chegara em minha garganta e retornara em um refluxo que me fez tossir desesperadamente por cerca de cinco segundos. A cena deveria ter sido ridícula, e eu provavelmente estava um pimentão, tanto pelo engasgo quanto pelo constrangimento, então sequei meus lábios com a manga do moletom, aproveitando para esconder minha cara e não dar de bandeja aquele gostinho da vitória a ela.
— Porra, Leona! — Gritei, irritado por ela estar falando aquilo tão alto. E, bem, por ela estar falando aquilo.
— Ué, mas não é verdade?
— E você tem como falar mais alto, para todo mundo ouvir?
— Ah, okay. — A morena deu alguns goles em seu suco. — Ele definitivamente vai comer a sua bunda.
— Para com isso!
— O que foi? É fato. — Seu tom de indiferença chegava a me irritar. Estava prestes a gritar com ela e ir embora, quando a morena completou: — De qualquer forma, eu vou te mandar umas fanfics.
— Sério? — A olhei, esquecendo-me automaticamente do ocorrido há segundos atrás. — Vai me mandar as suas?
— Vai sonhando, gogoboy. Minhas fanfics são trancadas a sete chaves.
Resmunguei o primeiro xingamento que me veio à cabeça em resposta, a qual nem ao menos me lembro, e voltei para minha comida estranha, sem a coragem de colocá-la entre meus lábios.
Isso porque eu não queria olhar aquela pessoa que eu sabia que estava no refeitório também, não queria dá-lo aquele gosto. Talvez porque eu estava morrendo de vergonha do que havia acontecido no fim de semana, e de ter ficado completamente inebriado pela situação, como se eu não fosse eu.
— Hey. — Ouvi a voz de Noora a minha frente, interrompendo meus devaneios. Cheguei a ficar feliz, pois não queria ficar pensando demais a respeito daquilo, mas, para a minha desgraça, ela estava acompanhada de um certo indivíduo.
Nossos olhos se cruzaram imediatamente. E ele tinha aquele sorriso simpático e genérico no rosto, o mesmo que usava quando conversava com literalmente qualquer pessoa, aquele mesmo sorriso que me irritava para caralho.
— Podemos nos sentar aqui? — Perguntou ele, e sua falsa inocência na frente das pessoas quase me fez socá-lo, mas Leona respondeu um "hm, claro" antes que eu tivesse a chance de falar alguma coia. Eles então se sentaram, Harvey exatamente na minha frente, encostando propositalmente nossas pernas. — Então, do que estavam falando?
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Me Faça Lembrar ⚣
Romance(Completo) Harvey Wingarden tinha a vida que todos os garotos invejavam; era popular, namorava a menina mais bonita do colégio, e era filho único de uma família rica de Elburg. No entanto, após sair em uma viagem, os Wingarden sofreram um grave acid...