🎖 Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad.
Elisa sofre de uma condição não muito grave e bastante comum na sociedade, chamada de Síndrome do Garoto Perfeito.
Se você apresenta sintomas como: paixonite aguda por perso...
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Elisa abriu mais uma vez o aplicativo de seu banco no celular, como quem torce para que, na vigésima quinta tentativa, o saldo negativo magicamente se transformasse em um milhão de reais.
Na verdade, ela não precisava de tanto. Cento e cinquenta e quatro reais e vinte centavos, para ser exata. E isso já incluindo o valor do metrô. Mas não, infelizmente esse não era seu momento de sorte, ninguém havia transferido essa quantia de dinheiro por engano a ela.
A garota verificou novamente também o pote de gorjetas que, aparentemente, sofria do mesmo mal da conta bancária: excesso de realidade. Ali, havia somente o valor para o transporte e olhe lá.
Enquanto cogitava a possibilidade de pedir a quantia a seus pais, seus pensamentos se movimentavam em busca da mentira perfeita. Desde que terminou o terceiro colegial e decidiu trabalhar como barista na Café com Letra, cafeteria dentro de uma famosa livraria na Avenida Paulista, ao invés de cursar uma faculdade, o relacionamento com seus progenitores não era como costumava ser. Portanto, talvez não fosse a melhor solução revelar o real motivo pelo qual ela precisava do dinheiro agora.
Mesmo assim, a garota digitou e apagou a mensagem algumas vezes antes de finalmente deixar o celular de lado. Ela não daria o braço a torcer somente para ouvir de novo de sua mãe que estava desperdiçando os melhores anos de sua vida atrás de um balcão, enquanto deveria mesmo era estar numa sala de aula estudando para crescer. Não, se ela ouvisse esse discurso mais uma vez, não aguentaria até a mãe virar as costas para revirar os olhos, e isso só pioraria tudo.
O problema é que sua mãe não entendia de verdade. Como iria se dedicar a algo, se não possuía vocação nenhuma? Elisa se perguntava porque ela não nasceu sabendo cantar, como todas as artistas que ela admirava e haviam entrado na Disney logo pequenas. Ou então escrever, como Meg Cabot. Ela aceitaria até ser Youtuber, se não tivesse tanta vergonha das câmeras.
Mas nada disso era para ela.
Muito menos ser médica, advogada ou engenheira. Sabe quando você sente lá dentro, bem no fundo, que nasceu para ser especial? Elisa simplesmente sabia disso. A vez dela iria chegar, definitivamente. Então, para que ela precisaria fazer um curso de uma profissão que não exerceria, enquanto poderia gastar esse tempo resolvendo a outra ponta solta em sua vida? Na verdade, para Elisa, essa outra questão era a que realmente estava empacando sua evolução.
Enquanto assistia aquele canal esquisito de conspiração no YouTube durante sua pausa de dez minutos no trabalho, a garota conheceu Miss Minfítica e teve um vislumbre de sua vida do futuro, ou melhor, teve um vislumbre da cartomante dizendo exatamente o que ela gostaria de ouvir. E tudo isso pela bagatela de cento e cinquenta reais mais o valor do transporte, já que a mulher atendia no cafundó do Judas, mais conhecido como Osasco.
Mais do que rápido, a garota pegou seu aparelho e agendou uma consulta com a leitora de tarot para a próxima quarta-feira. Ansiosa como era, ela não havia contabilizado o fato de que seu salário só chegaria em duas semanas, e que seus pais estavam revoltados a ponto de não a comprarem um mísero sapato novo quando ela solicitou, que dirá patrocinarem esoterismo.
Sendo assim, ela possuía exatos quatro reais e trinta e cinco centavos de gorjeta, em torno de cinquenta e seis horas livres – sem contar as pausas para o café –, e trinta e duas músicas de uma playlist de filmes clichês para pensar na solução e arrecadar esse valor.
No entanto, valeria a pena.
Com uma certeza que havia sentido poucas vezes na vida e correndo o risco de gastar a primeira música de sua playlist à toa, Elisa adentrou os túneis da estação Consolação com um sorriso no rosto e o coração palpitando no peito. Sixpence None The Richer gritava sobre beijos em seus ouvidos, e ela se achou a própria Kate Hudson em Como Perder Um Homem em Dez Dias.
Como a maior parte das meninas de sua idade, Lisa sentia que não havia nascido na época certa e por isso escolheu os anos 90 para idolatrar. E, quando digo idolatrar, me refiro aos macacões jeans, os allstars coloridos e as irreverentes comédias românticas que povoavam a rotina da garota – sem mencionar sua queda por todos os membros de Hanson, caras que ela fazia questão de ignorar que haviam envelhecido e provavelmente já estavam casados e com filhos. O maior receio de sua mãe era pensar na crise de identidade que a garota enfrentaria quando se desse conta de que todas as outras meninas também usam scrunchies nos cabelos, e sua a originalidade não passa de mais uma estratégia de venda da mídia para lucrar ainda mais com os adolescentes.
No trajeto até sua casa, passaram pela cabeça de Elisa as ideias mais absurdas para arrecadar a quantia desejada. Desde promover um bingo para idosas, até virar uma blogueira com milhões de seguidores em menos de cinco dias. Quando ela praticamente estava perdendo a esperança – e provavelmente o orgulho, pois precisaria realmente pedir o dinheiro aos pais – um cartaz do novo filme de Noah Centineo apareceu em sua frente nos anúncios do metrô, e como mágica, ela soube o que fazer.
Assim como na história do filme, ela venderia um encontro. Mas obviamente não com ela: um encontro com seu irmão.
Felipe era tudo que as colegas de classe da garota sonhavam. Com três anos a mais que Elisa, o garoto sempre arrancou suspiros das demais meninas, que se debatiam para cair no mesmo grupo que ela dos trabalhos e poder passar a tarde toda observando o Deus Grego do Colégio Santa Cecília.
E é claro que isso só acrescentava mais um ponto na lista de azares de Elisa. Quem raios quer ter o menino mais bonito do colégio como irmão? Se você está se questionando sobre os amigos do garoto, esqueça: não há nenhum que valha a pena mencionar, ela já havia verificado até os primos dos amigos, e não um único com mínimo potencial sequer.
Elisa precisou somente aguardar que seu celular tivesse sinal novamente ao sair da estação, para que pudesse encaminhar uma mensagem à Dani contando do plano e pedindo ajuda. Se tudo desse certo, muito antes do prazo de cinco dias, ela teria o valor em mãos e ainda haveria em torno de dois meses, quando seu irmão voltaria para casa de férias da faculdade, para convence-lo de que a ganhadora do leilão era sua alma gêmea, ou pelo menos digna de algumas horinhas de atenção.
Dá para acreditar que ela teve essa ideia genial antes mesmo do fim da playlist?
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Eu estou ansiosa em um nível que não dá para descrever!
Me conta, o que você achou até agora? ❤️
Mas espera! Antes disso, quero que você saiba o quão importante é sua presença por aqui, e como eu fico feliz por ter dado uma chance a esse livro! De verdade! Do fundo do meu coração (:
Agora que os devidos agradecimentos foram feitos, e você já me contou absolutamente toda a sua opinião sobre esse capítulo, queria perguntar se você já deu uma olhada nas músicas do livro.
Como você já deve ter notado, Elisa é uma amante dos anos 90 e seus clichês, e haverão várias citações de música pelo caminho. Aproveita para seguir a playlist e ficar por dentro! Estou adicionando o link num comentário aqui do lado, ok? (:
E não esquece de incluí-lo na sua biblioteca! Todas as sextas teremos capítulo novo (:
