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"Eu já estou aqui fora, Dani

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"Eu já estou aqui fora, Dani. Esperando no lugar combinado. Quero dizer, meu corpo está, minha alma já fugiu há tempos."

Elisa aguardava por esse momento desde que sua amiga contou sobre Hugo, o suposto cara certo. Para falar a verdade, Elisa aguardava por esse momento desde que se conhecia por gente, a ansiedade só havia aumentado com a possibilidade concreta do encontro. A garota acreditava que, finalmente resolvendo as questões amorosas de sua vida, todas as outras áreas encontrariam seu caminho também.

E podemos culpá-la? Grande parte da geração foi criada regada a Cinderella e Bela Adormecida. A era de Elsas e Moanas ainda está para acender, mas, enquanto isso, Elisa precisava quebrar o estereótipo do relacionamento salva vidas, mesmo que, para isso, precise entrar em um.

"Como assim, Lisa? Você já está aqui na biblioteca? A aula ainda nem começou! O Hugo ainda nem chegou, para falar a verdade!" Dani deveria ter imaginado que a ansiedade de Lisa estaria nesse nível. Talvez, tivesse sido melhor mentir sobre o horário, assim a amiga chegaria perto do momento correto. Tarde demais para pensar nisso agora.

"Dani, você não sabe o esforço que foi para mudar meu turno da livraria hoje. Depois, ainda passei umas boas horas colocando e tirando a roupa que havia escolhido. Para falar a verdade, ainda não tenho certeza se escolhi a melhor combinação. No fim das contas, quando eu finalmente estava pronta, ainda era muito cedo. Eu não podia ficar sentada lá em casa amassando minha blusa e aguardando o horário. Vai que o metrô resolvia parar? Você sabe muito bem como a linha amarela funciona, sempre dá piti no horário mais inusitado...."

Alisando pela milésima vez a blusa azul marinho escolhida a dedo para a ocasião, Lisa se questionou se sua bochecha parecia pouco natural com a quantidade de liptint que ela havia colocado. Ao menos os cachos decidiram dar uma trégua e estavam milimetricamente arrumados. Dessa vez, sua aparência estava muito mais discreta do que normalmente. Pelo que a garota conseguiu pesquisar sobre ele na internet, Hugo gostava de coisas mais básicas, e ela teve medo decepcionar logo em sua primeira impressão.

Elisa, você precisa se acalmar! Se não, vai colocar tudo a perder! É isso que você quer?

A pequena se questionou, em voz alta, enquanto andava de um lado para o outro no local combinado anteriormente. Dentro dos oito minutos em que estava lá, já havia contado todas as pedrinhas irregulares da calçada, verificado que o semáforo para pedestres fica verde por aproximadamente quarenta e seis segundos – tempo muito curto para uma senhorinha atravessar a rua – e atualizado o feed do Instagram cerca de quatro vezes – em nenhuma delas apareceu sequer uma foto diferente das que já havia visto.

Talvez, só talvez, Lisa realmente estivesse muito adiantada. O que ela ficaria fazendo por tanto tempo ali fora? Seu celular já dava sinais de que não teria bateria por muito tempo, então atualizar infinitamente o mesmo feed nas redes sociais estava fora de cogitação. O aparelho aguentaria mais uma hora ouvindo música em modo avião? Muito provavelmente não, mas a garota ativou a opção mesmo assim, somente para prevenir. E, como ela não queria parecer uma mochileira cheia de coisas na bolsa em direção ao próximo acampamento, havia deixado o Kindle em casa.

Apertando os olhos, Elisa conseguia ver o que parecia ser uma pequena galeria. A ideia de uma tomada disponível e um docinho para acalmar os nervos pareceu bastante sedutora e ela decidiu seguir até lá.

Com sorte, ela conseguiria chegar à faixa de pedestre enquanto o semáforo ainda estivesse aberto para travessia. Talvez, fosse com azar. No entanto, Elisa definitivamente chamaria de sorte, apesar de tudo.

No momento em que deu dois passos pela rua, a luz vermelha começou a piscar, indicando que a passagem dos carros seria liberada. Elisa parou três segundos para refletir se corria para chegar ao outro lado, ou se retornava para a calçada. Em um primeiro momento, ameaçou correr, mas decidiu que a escolha mais certa seria retornar.

Ainda de costas, começou a dar os primeiros passos para trás, mas não chegou a alcançar seu destino. Nesse curto espaço de tempo, uma bicicleta apareceu sabe-se lá de onde, e se chocou contra Lisa, fazendo com que a garota caísse de bunda no asfalto quente.

Mesmo que em baixa velocidade, o veículo foi capaz de fazer um estrago na autoestima de Elisa, que sentiu as bochechas corarem quando uma pequena roda de pessoas parou ao seu redor para verificar seu estado de saúde.

Em meio a tantos questionamentos sobre sua condição, a garota só conseguia pensar em como teria que desmarcar com Dani. De maneira nenhuma ela apareceria para conhecer Hugo com a calça toda suja de piche.               
"Você está bem? Por favor, me desculpe! Eu vi que o sinal estava fechando e resolvi passar, porque estou atrasado... Você surgiu do nada! Não estou dizendo que a culpa é sua, longe disso, a culpa é toda minha! Pelo menos, não vejo nada sangrando... Vem, eu te ajudo a levantar! Está tudo bem mesmo?" O rapaz, que parecia ser o responsável por toda a confusão, tagarelava sem controle, deixando sua ansiedade a mostra. Oferecendo a mão para que Elisa pudesse finalmente sair do meio da rua, ele questionou pela sétima vez se a menina estava bem.

"Estou bem sim, só meu ego ficou ferido." A garota informou, fazendo com que a maior parte dos curiosos ao redor se dissipasse. No entanto, assim que colocou os olhos no atropelador, desejou retirar suas palavras. Era Hugo. Ela sabia, pois Dani havia mostrado a foto que o garoto utilizava no WhatsApp.

O destino tem maneiras esquisitas de colocar pessoas em nossa vida. Precisava mesmo envolver um acidente e uma caída de bunda? Precisava ter dado uma resposta tão sincera antes mesmo de ver a cara da pessoa que estava perguntando?

Rindo, Hugo pediu desculpas mais uma vez e Elisa notou a única covinha que o garoto possuía no lado esquerdo do rosto. Uma assimetria perfeita.

"Eu não posso te deixar sozinha agora, depois de tudo o que aconteceu. Quero dizer, você ainda está tomada pela adrenalina do susto! Quando realmente passar é que saberemos se está tudo bem. Sei que provavelmente você não gostaria de ficar nem mais um segundo comigo, mas sinto muito. Não sairei do seu pé pela próxima uma hora e meia, ok?"

Elisa acenou com a cabeça, atordoada com tantas informações ao mesmo tempo.

"Só preciso cancelar uma aula que eu daria agora, mas é aqui na frente, na biblioteca. Você me espera sentada naquele banco ali, pode ser?"

Enquanto esperava por Hugo em frente a biblioteca, Lisa aproveitou para retirar o telefone do modo avião e recebeu instantaneamente uma mensagem da amiga:

"Então não fica esperando ai na frente! E se o Hugo resolve vir por esse caminho e te vê? O plano vai por água abaixo."

Tarde demais, Dani.

Você Vai Conhecer o Amor da Sua VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora