"Eu estava pensando em você nesse segundo! Tive uma semana de prova tão puxada, que quase não consegui viver além dos livros. Mas acabou, finalmente. Você tá ocupada hoje?"
O que Elisa queria acreditar que seria a resposta do universo, chegou tão rápido que a pegou desprevenida. Claro que seu lado desastrado que a fez clicar sem intenção na opção "chamada" ao invés de na foto teve sua participação na história. E, quem sabe, às vezes não se tratava de um erro tão inocente assim. O que importa é que funcionou!
"Não! Eu estou livre (: O que você tem em mente?"
"Hambúrguer! Que tal? Na verdade, eu participo de um clube secreto de hambúrguer e acho que você poderia curtir! Tenho que ver se ainda há ingresso disponível para a noite de hoje, mas o que você acha? Excêntrico demais?"
Difícil um clube de hambúrguer ser excêntrico demais, quando a convidada literalmente saiu caçando loiros em potencial pela cidade. Mas quem precisa saber disso, não?
"Eu adorei a ideia! Onde fica?"
"É um local secreto, Lisa. Tem que manter o mistério, entende? O endereço é enviado algumas horas antes do evento. Mas podemos nos encontrar antes, e irmos juntos. O que acha? Eu sei, eu sei... Cada vez parece mais com um sequestro. Só que é um lugar público, eu juro que você não vai correr risco nenhum!"
Ok, inicialmente Elisa nem havia pensado nessa possibilidade. No entanto, quanto mais Hugo falava, pior ficava para ele. Mesmo que Dani o conhecesse, nenhuma das duas eram íntimas do garoto a ponto de saber se ele era realmente confiável. Droga, agora ela nem sequer podia perguntar a amiga o que achava da ideia.
"Elisa? Você está calada por que está pensando em uma desculpa para desistir?"
"Talvez, mas no fundo eu não quero."
"Ir?"
"Não! Desistir!"
"Bom, eu te passo o nome do lugar! O que acha? Dá um Google e me diz. Queria que fosse uma surpresa, mas aparentemente eu sou péssimo com isso."
Só que Elisa já havia pesquisado na internet, assim que ele citou o passeio. O nome só a fez confirmar que o resultado obtido anteriormente estava correto. O lugar era real, e parecia bastante divertido. São Paulo é engraçada, existem tantas experiencias perdidas por aí, algumas vezes não fazemos ideia nenhuma sobre o que acontece no outro quarteirão de nosso bairro.
Em meio a pensamentos sobre a toda uma parte cidade que ela ainda não conhecia, e trinta e oito combinações que ela experimentou – esse seria seu primeiro encontro real, não dava para escolher qualquer coisa, não é? - uma coisa que Lisa vem aprendendo, é que o tempo passa muito mais rápido quando se é adulto. Não há mais o horário da soneca. Ou as terças-feiras no parquinho. Ou o domingo panquecoso, como ela gostava de chamar o café da manhã de domingo que, obrigatoriamente, deveria ser panquecas.
Ansiar por esses momentos fazia os dias passarem vagarosamente. Agora que esses marcos não existem mais, o encontro com Hugo deveria ser um excelente substituto para o parquinho, mas não era isso que aconteceu. Virar adulto é sinônimo de viver sem tempo. Menos no trabalho! O trabalho é o único lugar que Elisa consegue sentir os segundos passando lentamente, às vezes até em estilo marcha ré.
Ao se dar conta de que já estava em torno de doze minutos atrasada, Lisa sabia que não poderia trocar de roupa mais uma vez. Afinal, ela não era o tipo de pessoa que deixava os outros esperando por horas - tirando BeetleJuice na calçada, isso foi um deslize. E provavelmente o garoto não esperou por horas, ninguém esperaria tanto tempo assim. O fato é que aquele vestido verde água com bolinhas brancas no estilo envelope deveria servir para o gasto. O que ela queria mesmo era combinar com seu all star amarelo, mas quem em sã consciência faria isso? Então pegou emprestada uma sapatilha nude de sua mãe, salpicou um pouco de liptint pelo rosto e prendeu o cabelo com cuidado, firme o suficiente para não chegar ensopada de calor, mas frouxo o suficiente para não amassar seus cachos.
"Uau!" Lisa pode ouvir Hugo dizer, assim que os dois se aproximaram. "Você está realmente linda, Elisa."
"Você também não fica para trás, viu?" A garota acrescentou, sentindo suas bochechas corarem. Ela era nova na arte do flerte. Pelo menos, na arte do flerte correspondido. Será que deveria ter dito somente obrigada? Talvez, o retorno ao elogio tenha soado falso dessa maneira. Mas era sincero! O cheiro de Hugo era basicamente palpável quando os dois estavam próximos, e Lisa gostaria que ele ficasse impregnado em sua pele, para que pudesse continuar sentindo até quando os dois não estivessem mais juntos. Além disso, ela tinha certeza de que aqueles quase dois metros de altura que Hugo chamava de corpo ficariam extremamente bem em qualquer roupa, até em uma tanguinha de praia – coisa que, para falar a verdade, Lisa acha o ó do borogodó, de uma maneira ruim, claro. Mas nele, provavelmente ficaria perfeito.
"Fiquei muito feliz por você ter aceitado sair comigo essa noite. Vamos andando até lá? Não é muito longe do metrô." Enquanto caminhavam em direção ao clube, Hugo segurou sua mão direta e entrelaçou seus dedos. Fez isso como se fosse a coisa mais natural do mundo, mesmo que, por dentro, Elisa estivesse tendo um piripaque de ansiedade. A garota observou seu rosto naquele segundo, e a única covinha apareceu novamente. Elas se encaixavam perfeitamente ali: a covinha, suas mãos, Elisa.
"Sabe, eu gosto desses restaurantes surpresas, que a gente não sabe o menu e etc. Na verdade, eu meio que me obrigo a gostar. Eu estudo medicina, como você já sabe, e fico pensando como nada na minha vida vai ser previsível. Nunca vou saber o que está para entrar pela porta do hospital, não é? Então, estou treinando para aproveitar o inesperado da melhor forma. Você é uma pessoa de planejamento, Lisa?"
A garota não sabia responder. Quem era ela naquele momento? Se gostava de planejamento, por que estava deixando a vida vagar por aí, sem tomar uma atitude? E se não gostava, o que estava fazendo para curtir o inesperado, ao invés de simplesmente viver todos os dias presos em uma rotina? Ao invés de soltar toda sua falta de resposta em Hugo, ela resolveu sair pela tangente.
"Como você escolheu medicina? Quero dizer, como você sabia que era isso o que queria fazer?" Quem sabe, a partir do que o garoto falasse, ela não conseguisse descobrir sua real vocação também.
"Eu não consigo me lembrar de quando essa ideia surgiu pela primeira vez em minha cabeça. Não há uma história trágica por trás nem nada, nenhum parente que eu quisesse salvar. Ela simplesmente sempre esteve ali, e eu não a ignorei."
Fácil, super fácil. Ajudou para caramba.
"Chegamos, Lisa." Hugo acrescentou, em frente a uma pequena escada que dava para uma casa de porta lilás, tão delicada que parecia até fazer parte de um cenário de filme. "Pronta para o inesperado de hoje, e tudo que ele pode te reservar?"
"Mais do que pronta!" Elisa concluiu, verdadeiramente animada, sem a menor ideia da enrascada que estava prestes a se meter.
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Você Vai Conhecer o Amor da Sua Vida
Romance🎖 Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad. Elisa sofre de uma condição não muito grave e bastante comum na sociedade, chamada de Síndrome do Garoto Perfeito. Se você apresenta sintomas como: paixonite aguda por perso...