🎖 Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad.
Elisa sofre de uma condição não muito grave e bastante comum na sociedade, chamada de Síndrome do Garoto Perfeito.
Se você apresenta sintomas como: paixonite aguda por perso...
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"Você entendeu!" A garota exclamou em um tom mais alto que o normal, na expectativa de que ele conseguisse ouvir mesmo com Arctic Monkeys questionando incessantemente "R U Mine?" em um volume extremamente superior ao recomendado.
"É claro que sim! Mas eu entendo sua surpresa, já me perguntaram umas sete vezes hoje se eu vim vestido de zumbie. O que esse tipo de gente vem fazer em uma festa temática?"
Lisa nem sequer conseguia responder à pergunta, mas compartilhava exatamente daquela sensação. Com um sorriso que tomava metade de seu rosto, ela concordou balançando a cabeça enquanto tentava imaginá-lo sem aquela quantidade gigantesca de maquiagem. Será que por baixo de todas as olheiras eles combinariam tanto quanto combinam em seus pensamentos?
Para dizer a verdade, a beleza não era importante no momento. Quanto mais BeetleJuice falava, mais extasiada ela se sentia. Elisa nem ao menos notou quando Dani se aproximou para avisar que estava indo pegar mais uma bebida e voltava logo.
Ela até precisou ficar nas pontas dos pés com seu Oxford preto para que pudesse o ouvir melhor, mas não estava cansada, ao contrário! Poderia se esforçar daquela maneira a noite toda se ele continuasse contando sobre a exposição do roteirista no MIS, o Museu da Imagem e do Som.
A maneira como o garoto elucidava sobre os desenhos e as fantasias era quase como se os próprios personagens estivessem ali, em frente a eles. Quase como se a cópia de BeetleJuice pudesse entoar magia. Elisa queria tanto ter ido à exposição! Mas os ingressos se esgotaram em pouquíssimo tempo.
De Tim Burton, passaram para outros filmes. De outros filmes, para músicas. De músicas, para um lugar menos barulhento, no qual pudessem conversar sem gritar. Lisa procurou por sua amiga, mas não a encontrou. Decidiu, então, enviar uma mensagem avisando que estaria logo em frente a festa, só para pegar um ar. O garoto segurou sua mão com delicadeza e a guiou pelo meio da multidão.
Todo o efeito da bebida misteriosa havia passado. No momento, outra coisa era a responsável por distorcer a realidade de Elisa. Aliás, uma coisa muito mais poderosa: a excitação, que quase não a permitia parar quieta. Ela queria pensar antes de tagarelar, para não falar nenhuma besteira, mas se mal conseguia se conter, como teria filtro nesse momento?
Seus dedos tamborilavam felizes na sarjeta da calçada em que estavam sentados, e sua respiração parecia acompanhar a velocidade das palavras do garoto. Ambos tinham pressa, mas não sabiam de quê.
Lisa se surpreendeu ao se ver contando ao recém conhecido sobre suas mil ansiedades e o desejo de não fazer nenhuma faculdade. Parecia tão mais fácil conversar com alguém novo em sua vida sobre todos aqueles problemas. Muito mais fácil do que com seus pais e todas as expectativas que vinham junto com eles.
Por sua vez, o morto vivo compartilhou com ela suas dificuldades de se estar sozinho em uma cidade como São Paulo. Ele optou por mudar do interior para cá quando passou em uma renomada universidade particular, a qual ele vem pagando com FIES até o momento, pois seus pais não possuíam condição de bancar o aluguel e a mensalidade. Desde o primeiro semestre, o garoto já possui uma dívida bastante grande e, com ela, o receio de como conseguiria quitá-la.
Elisa ouvia atentamente a tudo que ele tinha para dizer, com seus olhos pretos de gato bem abertos e focados, como quem tem medo de perder uma palavra sequer. Vendo que mais parecia uma maluca ao acenar com a cabeça para tudo que ele dizia, a garota riu e BeetleJuice se juntou a ela.
"Me desculpe pelo meu entusiasmo." Ela acrescentou, mas queria dizer muito mais que isso.
"Eu gosto de seu entusiasmo."
Conformo o menino ia chegando mais perto, Lisa conseguia observar mais detalhes: seus olhos ligeiramente claros e sua barba por fazer despontava através do pó esbranquiçado que compunham o personagem em seu rosto.
Mas ele estava perto demais, perto a ponto de notar as pintinhas salpicadas nas bochechas de Lisa.
Perto a ponto de sentir seu perfume.
Então, a garota desviou o rosto.
Entendendo a dica, o personagem de Tim Burton recuou envergonhado e tentou mudar de assunto.
"Sabe, Lidya, a gente não faz ideia do que as pessoas estão passando na verdade, não é mesmo?"
Lisa não sabia de onde aquele assunto havia surgido, mas ela não poderia concordar mais. Ao esquivar da aproximação, não queria que ele pensasse que não estava gostando do rumo que a situação tomava. Mas também não tinha coragem de contar a verdade. A garota estava mais consumida por medo do que poderia imaginar e se pegou novamente acenando com cabeça.
No entanto, enquanto ainda tentava puxar outros assuntos que fizessem com que a menina se sentisse confortável para falar novamente, o garoto reclamou do clima quente de outubro e tirou sua peruca para aliviar a temperatura.
Ação essa que revelaram seus lindos cachos castanhos.
Não era ele.
Simples assim.
A decepção tomou conta de Elisa num piscar de olhos e ela ficou sem saber como agir. Seria a melhor escolha perder tempo com a pessoa errada, sendo que já sabia como a certa deveria ser?
Seria justo brincar com o coração de BeetleJuice somente para quebrá-lo quando o amor de sua vida realmente aparecesse?
Ela sabia que não.
"Preciso ir ao banheiro."
Lisa percorreu a festa em uma busca desesperada por Dani, esbarrando em todos que estavam em sua frente, desviando dos copos de bebidas duvidosos e ansiosa para dar o fora dali o mais rápido possível.
Ao avistar a amiga, segurou firme em seus braços e avisou que elas precisavam ir embora. Entendendo a urgência no olhar de Elisa, Dani ficou preocupada, mas não a questionou. Se despediu das pessoas com quem conversava e ambas saíram de fininho, subindo em direção ao metro pela calçada oposta a que o personagem recém abandonado se encontrava.
"Está tudo bem, Lisa?"
Não, não estava. Mas ficaria, assim que a pessoa certa aparecesse.
