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"Calma, Lisa, tenta respirar um pouquinho

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"Calma, Lisa, tenta respirar um pouquinho. Não gosto de ver você assim, tão chateada." Dani segurava as mãos da amiga, fazendo um leve carinho na tentativa de acalmá-la.

"De-desculpas, Da-dani. Eu não queria que, de novo, fosse tudo sobre mim! Eu entendi, sabe? De uma maneira meio besta, mas eu entendi. Você tá sempre aqui por mim, e quando eu deveria estar lá por você, não consegui. Não f-fui uma boa amiga, e... sinto muito. Muito mesmo. Mas entendo que talvez seja tarde demais." As sensações dentro de Elisa cresciam e não cabiam mais dentro dela. Era como se seu peito fosse uma pequena caixinha e, a cada frase dita, a caixinha ficasse cada vez menor, e menor, e menor. Até o momento que os sentimentos vazaram pela beirada, ou melhor, pelos olhos.

"Ei, Lisa, você tem noção o quanto cresceu nesse período? Pensa comigo, você se vê pedindo desculpas por algo do tipo há, sei lá, um mês atrás? Amiga, amizade é isso. As vezes a gente erra, as vezes a gente acerta. Eu estou tão feliz por poder estar aqui com você, e por saber que você estará comigo também. Então, não se martirize! Você está evoluindo diariamente, de maneira notável! E isso é tão lindo! Agora, por favor, tente se acalmar e me conte o que aconteceu entre você e Hugo."

A pequena repassou os últimos dias em meio a lágrimas e meio sorrisos. Era difícil pensar que aquele era o fim, e que somente ela possuía culpa por ele. Será que, na ânsia de finalmente colocar a vida nos eixos, Elisa havia interferido tanto na linha do destino que agora seu castigo era perder o amor de sua vida? Será que, de alguma maneira, o universo considerou a consulta com Miss Minfítica como uma trapaça, na qual a garota pagaria com karma para o resto da existência?

Todos esses pensamentos eram dolorosos, mas o pior de todos era saber que ela e Hugo não teriam mais nada, não seriam nem mesmo amigos. Ela não saberia se ele havia passado em todas as provas da última semana. Ele nunca conheceria Felipe. Os dois não teriam a chance de quebrar regras em exposições esquisitas. E todas as outras coisas que eles ainda viveriam? Coisas que ela nem sequer poderia imaginar, mas agora estavam perdidas.

"Primeiro, de onde você tirou essa ideia de que faria medicina?" Daniela questionou, sem entender como Lisa poderia ter se enfiado tanto em uma rede de mentiras.

"Eu fiquei com ciúme... Na verdade, eu fiquei insegura. A tal da Gabi estava lá, parecendo uma Deusa Grega! E eu, um mísero ser humano normal que nem sequer sabe o que vai tomar de café da manhã! O que eu poderia fazer?"

"Hm, que tal parar de tratar as outras mulheres como uma competição?"

"Aí, Dani, esse lance de feminismo, não sei... Eu não me identifico muito com essa militância, entende?"

"Lisa, você precisa parar de viver com base em estereótipos. Eu não estou falando para você deixar os pelos da perna crescerem, parar de usar maquiagem e panfletar na Avenida Paulista sobre feminicídios. Mas, se você quiser fazer tudo isso, eu te darei um super apoio! O que estou dizendo é sobre entender que muitas das coisas que nos foram ensinadas estão erradas. Por que a Gabi precisava ser uma roubadora de crushes? Será que ela não era realmente só amiga dele, e uma possível amiga para você? Nós fomos ensinadas a competir umas com as outras. E isso é péssimo! Por favor, entenda que a nossa luta é para que possamos ser o que quisermos! Amigas, donas de casa, empresárias de sucesso. O que nós quisermos! Não é genial?"

"Mas não é isso que as pessoas falam, não é? Eu escuto tantas coisas ruins sobre as mulheres quererem ser superior. Eu não quero nada disso!"

"E você acha que eu quero? As pessoas, em sua maioria os homens, falam isso porque nós finalmente resolvemos nos posicionar. E, como eles sempre tiveram regalias, é difícil abrir mão do nada, você não acha?" Elisa acenou que sim, um pouco atordoada com tudo aquilo. Era no mínimo triste pensar que ela não se dava conta de como o fardo de competir com as mulheres estava intrínseco e pesado em sua vida. "Ei, eu sei que não vai ser fácil aceitar tudo isso. É difícil mesmo quebrar esses paradigmas internos. Mas eu estou aqui, com você. E vamos aprender juntas!" A amiga acrescentou, envolvendo-a em um abraço longo e apertado.

"Estou com tanto medo, Dani! Parece que os anos passam, minha aparência muda, mas eu não fico mais madura. Como pode, você ser assim tão para frente, enquanto eu faço tanta cagada por aí?"

"Lisa, que cagada você fez? As mentiras?"

"Óbvio, né? Eu perdi, Dani! Eu estraguei tudo! Hugo era o amor da minha vida, e eu simplesmente joguei todas as minhas chances fora! Como vai ser, daqui para a frente? Sabe, eu não consigo nem pensar nisso... Miss Minfítica ficaria tão decepcionada comigo. Definitivamente eu serei a senhora dos gatos, e isso me desespera! Eu sempre gostei muito mais de cachorros!"

"Para falar a verdade, você realmente errou feio. Criar todas aquelas histórias por insegurança é compreensível para mim, mas eu não sei se te perdoaria se estivesse no lugar de Hugo. E eu sei o quão duro é ouvir isso. No entanto, Lisa, para mim você não estragou nada tão grave. Esse relacionamento era uma pequena parte da sua vida, e eu só consigo enxergar todas as coisas boas que ele te proporcionou. Pensa comigo, antes de sua consulta você simplesmente não estava aberta para nada. Quantas pessoas novas você conheceu nesse meio tempo? Eu tenho certeza que você não daria uma chance ao Hugo, se a Minfítica não tivesse te falado aquelas coisas...Eu sei que agora está doendo muito, muito mais do que eu posso imaginar. Mas sei também que um dia você vai ser tão, tão feliz que essa dor vai parecer fichinha. Um dia, você vai conhecer alguém que, só de te olhar, vai te deixar com as pernas bambas. Alguém que vai ser tão fissurado em você, como você é pelos anos 90. Alguém que vai te achar ainda mais linda quando você estiver voando, lá no mundo da lua. E quando isso acontecer, eu estarei lá do seu lado, te dizendo eu avisei."

"Promete?" Elisa perguntou, com seus grandes olhos marejados focados na amiga. Mas, dessa vez, as lágrimas surgiram por felicidade.

"Prometo. Agora, por gentileza, podemos pensar em como terei meu encontro com seu irmão?" Daniela questionou com ar sarcástico, enquanto cruzava seus braços no peito de forma séria, mas não por muito tempo, já que as amigas não conseguiram se segurar e caíram na risada.

Você Vai Conhecer o Amor da Sua VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora