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Depois da conversa com Daniela, ainda havia uma parte de Elisa com medo e insegura

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Depois da conversa com Daniela, ainda havia uma parte de Elisa com medo e insegura. Não seria de um dia para o outro que ela passaria a acreditar que não estragou todo seu futuro. É difícil não temer uma mudança tão repentina, quando toda sua vida foi construída em volta do ideal de que o amor colocaria tudo nos eixos. Como seria agora, recomeçar ser aquela certeza? Será que ela daria conta?

Se pudesse colocar um esparadrapo na boca daquelas inseguranças, para calá-las pelo menos por alguns segundos, ela o faria. Por um lado, Elisa se sentia uma hipócrita por querer tanto acreditar que Miss Minfítica estava enganada sobre Hugo. Porque era nisso que ela pensava no momento, talvez não fosse ele. Mas como ela poderia considerar que a mulher não tivesse vidência alguma, quando acreditou nela por tanto tempo?

Com esses pensamentos em mente, e com muitas remelas no olho, a garota desceu as escadas rumo ao andar de baixo, desejando não encontrar ninguém pela cozinha para que não tivesse que explicar seus olhos inchados.

"Quer dizer que logo no dia que eu chego, a Bela Adormecida resolve acordar tão tarde assim? Já são quase onze horas, Lis!" A voz de Felipe chegou aos ouvidos de Elisa antes mesmo que seus olhos pudessem visualizar o irmão, sentado de maneira despojada na bancada da cozinha. A garota desceu as escadas muito mais rápido do que de costume, e se jogou num grande abraço com seu irmão, que parecia sentir tanta falta dela, quanto ela sentia dele. Com o queixo no topo da cabeça de Elisa, o garoto encheu seus cachos de pequenos beijos, enquanto a amaçava com os braços.

"Caramba, caramba, caramba! Por que você não foi me acordar?"

"Fiquei com pena de você, que estava dormindo como um ogro lá no quarto, toda mal-ajambrada com a boca aberta. Achei que você precisava real de um sono de beleza." Ele a provocou, enquanto ainda a segurava em seus braços. "Eu não tinha percebido que estava com tanta saudade de você, Lis. Como pode? Um ser tão chato, fazer tanta falta?"

Elisa riu, mas também se sentia da mesma maneira. Felipe fazia falta todos os dias, a vida sem ele era muito mais vazia.

"Você tá diferente, não é? Sei lá, o cabelo está claro do sol! Passou camomila? E está malhando! Seu traidor! Não me diga que é crossfit?"

"Crossfit? De jeito nenhum, você sabe que eu sou zero adorador do corpo! Tenho corrido na praia, acho que isso explica tudo. Cabelo, força, bronzeado..." Felipe continuou, provocando uma nova gargalhada na irmã, visto que o garoto continuava branco como de costume.

"Então, Lis, hoje mais cedo a Dona Fátima me disse que você ainda não escolheu o que quer fazer da sua vida. Não vai me contar sobre isso não?"

A garota revirou os olhos mais uma vez ao ouvir esse tema. No entanto, dessa vez algo havia mudado. O revirar de olho parecia mais como um reflexo de um hábito, do que como um sentimento real. Agora, que não havia mais romance para equilibrar os outros temas, ela teria que tomar uma atitude, não?

"Por que você demorou tanto para vir ver a gente, Fê?"

"Não mude de assunto! Eu te conheço..."

"Não, estou falando sério. Eu sinto tanto a sua falta...Parece que você foi para a faculdade e abandonou a família. Eu, eu nem sei o que pensar. Quando a gente sai de casa, paramos de sentir mais falta da vida antiga?" Felipe pareceu verdadeiramente envergonhado pelo questionamento da irmã. Não era nada disso que ele sentia, mas era difícil para o garoto se entender também.

"Eu nunca tinha pensado por esse lado...Sinto muito se a fiz se sentir dessa maneira, Lis, eu nunca vou esquecer vocês!" Ele acrescentou, enquanto puxava o banco em que Elisa estava sentada para mais perto de si. "Na verdade, é muito difícil voltar para cá e depois ir embora de novo. Dói, entende? Parece que estou abandonando vocês todas as vezes. Que estou perdendo a vida aqui quando estou lá, e perdendo a vida lá, quando estou aqui. Foi mais fácil diminuir a quantidade de vezes que eu venho, pelo menos para mim. Mas não é justo... Eu não fui justo com vocês e sinto muito mesmo. Obrigada por me contar como você se sente."

"Eu não quero ir embora, Fê. Nunca."

"Como assim?"

"Eu não quero fazer faculdade fora e perder a mãe e o pai, assim como eu perdi você e vou perder a Dani já já. Eu gosto da minha vida, de verdade! Por mais estranho que isso soe, até para mim, para ser sincera." Lisa acrescentou, em meio a novas lágrimas se formando em seu rosto. Era esquisito para ela aceitar essa sua nova versão que estava surgindo, sincera e chorona. Por um lado, desabafar era bom. Por outro, não teria creme que fizesse milagre suficiente para diminuir o inchaço debaixo dos olhos.

"Não, Lis! Você não perdeu a ninguém! E nem vai perder, eu juro! Tenho certeza que você e Dani continuarão boas amigas, ela só terá novas novidades para te contar. E aí, você vai ter mais uma casa para visitar, em alguma cidade legal! Aliás, o que você acha se estabelecermos uma visita por mês, lá em Santos? Você está precisando de um solzinho também, vai."

"Acho muito."

"Você acabou de reclamar, nesse minuto Elisa!"

A garota sorriu. Estava genuinamente feliz com o convite do irmão. Mesmo que ela não descesse a serra uma vez por mês, agora sabia que a possibilidade existia, e só dependeria dela para matar a saudade.

"Além disso, você não precisa ir embora. Aqui em São Paulo está cheio de faculdades incríveis! Podemos pensar em uma juntos. Não sair da casa dos pais durante a faculdade não é demérito algum. Mas então você quer cursar algo, não quer?"

"Eu não sei, Fê. Eu nem sabia até agora há pouco que tinha medo de sair de casa. Acho que finalmente parei para me ouvir, como todos me enchiam tanto o saco para fazer. Antes de pensarmos juntos, tem uma coisa que eu preciso te contar..."

Elisa disse toda a verdade a Felipe, incluindo o leilão e a cartomante. Incluindo Hugo e o primeiro beijo. As mentiras, a teoria dos filmes e o momento de verdade com o garoto. Ao contrário do que ela imaginava, seu irmão não ficou bravo.

"Cara, eu não acredito que você levantou uma grana leiloando encontro comigo? Por que eu não pensei nisso antes?"

"Então você não tá puto comigo?"

"Não, Lis. Está tudo bem. Fico feliz por você ter me contado a verdade, e triste por Hugo não ter entendido seu lado. Ok, você foi uma peste, eu provavelmente me vingaria de você. Mas a vida é assim, a gente erra e aprende com isso. Agora me conta, quem pagou o leilão? E, por favor, me diga que foi a Daniela."

Você Vai Conhecer o Amor da Sua VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora