15

1.8K 263 81
                                    

 "

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"...e aí, a gente teve que sair correndo, mãe! Foi uma loucura, fico aqui pensando com os meus botões que não poderei mais entrar no MASP. Provavelmente existe uma parede com fotos das pessoas proibidas por lá, e eu e o Hugo estávamos sendo fixados nesse exato momento, com um grampo vermelho, como aqueles que usam em filmes de investigação, sabe? Imagina a cara do homem dando print na imagem da câmera de segurança e tendo que rever esse bafão?"

A garota havia chegado extasiada em casa e, ao encontrar sua mãe fazendo brownies na cozinha, se instalou no balcão e contou um resumo de seu dia. Obviamente, deixando de fora tudo sobre Miss Minfítica e os planos com Dani, sem nem ao menos se lembrar de sua calça jeans ainda suja de asfalto. 

"Elisa, espera um minuto. Que papo é esse de atropelamento? Por que você não me ligou na hora em que isso aconteceu? Vamos ao hospital agora!"

"Isso foi há horas atrás! Foca na parte legal, mãe! Além do mais, o Hugo é estudante de medicina, definitivamente está tudo bem."

"Ah sim, e a parte legal é aquela que você foi expulsa do MASP? Estudante de medicina não é nada, minha filha. Se ele estiver no primeiro semestre, sabe menos do que quem terminou todas as temporadas de Greys Anatomy."

A pequena revirou os olhos enquanto lambia a colher utilizada para fazer a massa do  bolo, que já estava no forno. Ela entendia a preocupação da mãe, mas não queria ir ao hospital. Também não estava pronta para entrar em uma discussão. Além disso, estava feliz, muito feliz. Nada a faria brigar hoje.

Fátima se sentia da mesma maneira, e a leveza de Lisa era basicamente palpável. Claramente a menina estava bem, não havia motivos para insistir. A senhora gostaria de morar nessa pequena fenda de paz para sempre.

"Tudo bem, eu já entendi. Não precisa revirar esse olhar para mim, não. Nada de hospital, mas você promete me avisar se sentir alguma coisa?"

Jurando que avisaria, a garota se levantou e começou a juntar ingredientes para fazer um sorvete. Afinal, nada melhor do que brownie com sorvete, não é mesmo? Mas, dessa vez, ela queria algo surpreendente. Um sabor que misturasse toda a energia que estava sentindo, com a sensação de paz que ocupava sua alma. Fácil não seria, até porque é praticamente impossível identificar esse tipo de sensação: quando estamos tão felizes, que mal conseguimos parar sentadas. Mas, ao mesmo tempo, estamos tão satisfeitas com a vida, que poderíamos parar o tempo para sempre.

Para falar a verdade, essa era a primeira vez que Elisa se sentia dessa maneira. Nunca antes da na história da humanidade ela havia experimentado essa combinação, e era engraçado pensar que, mesmo com essa idade, ainda há novas emoções a serem descobertas por aí. É como se existisse um alquimista dentro da gente, que ficasse misturando hormônios conforme as situações. Por alguns anos, parece que chegamos ao fim e ele não produzirá mais nada de novo, mas aí, numa tarde à toa, acontecem tantas emoções e ele acaba realizando umas químicas loucas e BUM! Uma sensação completamente nova acontece e ficamos nos perguntando de onde aquilo veio.

Mas pouco importa de onde veio, nós só não queremos que vá embora. O problema é que nos acostumamos e, um dia, o que nos abalou hoje deixa de ser novidade. Porque, pensando bem, tudo que já vivemos foi novidade em algum momento. E Elisa entendia isso, por isso buscava eternizar em uma receita.

"E se eu misturar água de coco com hortelã?"

"Vai ficar meio sem graça, não? E se você está pensando em comer com o meu brownie, pode desistir. Estou assando para servir em uma casa que vou vender amanhã."

"Chatona, heim? Vou fazer meu próprio brownie! Ah. Meu. Deus. É isso! Mãe, você é genial!" Lisa acrescentou, enquanto corria para pegar uma nova assadeira. Fátima ficou sem entender, mas transbordou de amor por ver sua menina tão animada, como antigamente.

"Vamos colocar no meio do sorvete, entendeu? Para que deixar separado, se juntos eles são tão bons? E vamos usar damasco! Porque ele ajuda a regular os batimentos cardíacos que o bolo, obviamente, fez disparar."

"E por que você sabe sobre as propriedades do damasco agora, menina?"

"Andei pesquisando alimentos! A última vez na cozinha me deixou inspirada!"

A mistura era audaciosa, no mínimo. Mas se o TasteMade só posta receitas complexas e ficam diferentes, por que Elisa faria diferente? Ao contrário do sorvete anterior, que a fazia sentir em paz, a excitação era notável no mais novo. Definitivamente, a vontade era comer o pote todo, até chegar ao fim. E aí comer de novo. E de novo. E pela última vez.

"Caramba, Lisa! Isso aqui ficou muito bom, filha! Imagina quando estiver geladinho?"

"Oh mãe, larga de ser abusada viu? Eu não pude nem chegar perto do que você estava assando, aí de você se tomar o sorvete todo!" A garota provocou Fátima, mas estava feliz em saber que ela havia gostado.

O dia estava sendo muito melhor do que o esperado.

Quando a mistura finalmente alcançou a temperatura correta, Elisa se ajeitou no sofá com o pote de sorvete no colo, preparadíssima para passar o restante da tarde procurando o que assistir na Netflix – porque, até o momento em que ela se decidisse, já seria muito tarde – quando sentiu seu celular vibrar na mesa de centro.

Dani! Ela pensou, instantaneamente, dado que a amiga estava por fora de toda a história até o momento. Com tantos acontecimentos, Lisa acabou se esquecendo de atualizá-la.

Mas a tela inicial acusava mensagem de um número desconhecido e a pequena sentiu sua alma gelar. Antes de clicar no ícone para ler, ela ajeitou a postura, prendeu os cabelos em um coque alto e limpou o sorvete no canto da boca, como se Hugo pudesse vê-la através da tela. Tudo bem, poderia ser somente a Tim avisando sobre a falta de saldo no celular, mas algo dentro de Elisa garantia que não era esse o caso.

Só que não era uma mensagem, e sim uma imagem. No maior estilo artista-russa-abaixo-a-liberdade-de-expressão! Hugo havia recortado virtualmente todas as frases trocadas no caderno naquele dia – inclusive o rabisco de Elisa – e incluído num fundo de universo. Além disso, havia pedaços da música Do I Wanna Know, e alguns símbolos das redes sociais.

Logo em seguida, após Elisa visualizar, o garoto escreveu:

"Puta merda, eu sou realmente ruim com isso, não é? O que é pior, Lisa:

a) Lidar comigo falando pelos cotovelos;

b) Ter que receber esse tipo de imagem de alguém que claramente não tem uma veia artística;

c) Prefere não responder para me proteger de tanta humilhação."

Como ela se faria de difícil se estava basicamente vivendo uma música da Taylor Swift? E não, não estamos falando de Back To December. A última coisa que Elisa gostaria agora era de errar tanto a mão a ponto de ter que fazer uma canção para se desculpar. Se você prestar bastante atenção, garanto que conseguirá ouvir a melodia de Lover ao fundo. E caramba, Elisa deixaria as luzes de Natal acessas até janeiro por Hugo ou por Shawn Mendes, sem preconceitos por aqui.

Você Vai Conhecer o Amor da Sua VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora