🎖 Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad.
Elisa sofre de uma condição não muito grave e bastante comum na sociedade, chamada de Síndrome do Garoto Perfeito.
Se você apresenta sintomas como: paixonite aguda por perso...
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Mais complexo ainda do que decidir qual filme você irá assinar na Netflix, é realizar uma lista com todos os filmes que você pretende analisar no streaming. Ainda que Lisa fosse popularmente conhecida como a louca dos filmes – e livros e séries, é complexo selecionar aqueles que tem potencial para realmente modificar sua vida.
Dani com certeza seria uma excelente comentarista! Mas a pequena não daria o braço a torcer. Pelo menos, não assim tão cedo. Elisa decidiu, então, que começaria estipulando algumas regras. Com base no final feliz que ela estava buscando, a história deveria conter, obrigatoriamente:
- Um casal que fica junto no final;
- Um problema que, aparentemente, não tem solução;
- Uma protagonista do sexo feminino;
- Uma melhor amiga;
- Uma trilha sonora envolvente – Por quê? Porque sim, oras!
Mas não seria exatamente esse o conceito central de uma comédia romântica? Se a garota acrescentasse nas exigências uma mocinha desastrada que encontra o cara perfeito enquanto toma um café no Starbucks vestindo seu all star e um coque desarrumado, saberíamos que Elisa precisaria procurar na seção "fanfics que viraram filmes".
Inicialmente, haveria também o filtro "anos 90", mas a garota chegou a conclusão de que os ensinamentos evoluíram. Sei lá, talvez "O Amor é Cego" não fosse tão disruptivo assim, e tentasse disfarçar gordofobia com a desculpa da beleza interna. Não dava para tentar retirar a grande estratégia de sucesso de uma história dessas, né? Além disso, não era uma opção deixar " Sierra Burgess é uma Loser" de fora.
"A Mentira" era outro que possuía lugar garantido. E " Meninas Malvadas". Provavelmente, a lista acabaria ficando muito maior do que o esperado. Tudo bem, não era como se Elisa tivesse muitos compromissos mesmo, depois da discussão com Dani e a desculpa esfarrapada de Felipe para não voltar para casa. Só sobrava Hugo e as oito horas de trabalho na livraria.
Se bem que poderia não ter nem mais Hugo nessa história, visto que a última vez que os dois conversaram foi há três dias atrás e, no estranho mundo de Elisa, isso é bastante tempo. Tempo suficiente para acreditar que ele conheceu alguém muito mais interessante, confabular mil teorias em sua cabeça, mas não mandar mensagem. De maneira alguma! A ideia era se fazer de difícil, e como ela faria isso se ficasse correndo atrás?
Toda a teoria da conspiração sobre os filmes teria, na verdade, originado do fato de que Lisa precisava ocupar sua cabeça para que não encaminhasse uma mensagem a Hugo num pseudo ataque de ansiedade, no meio da madrugada? Sim, existe uma chance.
No entanto, no fim das contas, a ideia havia se tornado muito maior do que ele, mesmo que o garoto fosse o alicerce central para que tudo tivesse surgido, porque fazia sentido! Quer melhor ideia do que acabar com paixonites agudas do que mergulhar numa análise profunda nos próprios responsáveis pela criação da Síndrome do Garoto Perfeito? Ainda que no fim Lisa continue a colocar todas as expectativas da vida em uma única área. Às vezes, é preciso praticamente exorcizar uma sensação, para então seguir em frente.
E era isso que a garota estava fazendo: de um lado, se aprofundando nas concepções existentes em sua cabeça para, se possível, identificar o comportamento exemplar em relacionamentos e encontrar o equilíbrio exato na vida. Do outro, se relacionando com alguém real, de carne e osso. Mas ei, Hugo, você é necessário nessa parte do plano!
De repente, o comichão para mandar uma mensagem ao garoto cresceu dentro de Elisa de maneira incontrolável, a mesma sensação de quando ela era criança e via uma piscina: não importava se estivesse frio, ela tinha que ir nadar naquele instante. Só que Elisa já estava grande. Grande e madura. E com autocontrole, se não for pedir muito.
O que fazemos quando somos maduras, com autocontrole, mas também gostamos de dar uma de princesa indefesa que não dá o primeiro passo?
Mentalizamos, ué! Que seria também um sinônimo para "entramos em desespero e não sabemos para onde correr, por isso apelamos para o poder do universo".
Chame como quiser.
No entanto, o Ministério do Misticismo adverte: a probabilidade de a estratégia de mentalização da mensagem dar certo é baixa, muito baixa. Mas não custa tentar, não é? Ou isso, ou entrar em contato com a Miss Minfítica novamente solicitando uma amarração no maior estilo juntos para sempre, mas Elisa morria de medo disso e não estava disposta a tentar.
Abrindo a conversa dos dois no celular, a pequena desejava com todas as suas forças que a palavra "digitando" aparecesse na tela do aparelho, principalmente porque Hugo estava online. E, se estava online, é porque tinha tempo livre. E, se tinha tempo livre, por que raios os dois não estavam conversando?
Fez isso por menos de um mísero minuto, e já concluiu que não estava funcionando. Ela fazia parte de uma geração verdadeiramente imediatista, pouco disposta a perder muito tempo com algo que não aparenta dar certo no mesmo segundo. Depois, gastou muito mais tempo pensando no que ela teria feito de errado para que eles nunca mais tivessem se falado.
Foi quando, repentinamente, o pensamento que ela havia mentalizado apareceu na tela, e depois, uma leve vibração acompanhou as palavras de Hugo:
"Oi, Lisa (:"
Sabe aquela sensação quando estamos no avião e há uma pequena turbulência, mas nosso corpo não está acostumado com isso e o vácuo toma conta do estômago, de um segundo para o outro? Foi exatamente assim que Lisa se sentiu, só que de uma maneira boa. Um turbilhão de borboletas invadindo seu corpo, de uma única vez.
Vai ver que a conexão com o cosmos tenha funcionado, porque os dois foram feitos para ficarem juntos. Ou vai ver que Hugo chamou por Elisa logo após ela ter ligado acidentalmente para o garoto enquanto tentava clicar em sua foto de perfil.
