🎖 Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad.
Elisa sofre de uma condição não muito grave e bastante comum na sociedade, chamada de Síndrome do Garoto Perfeito.
Se você apresenta sintomas como: paixonite aguda por perso...
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Consumida pela ansiedade devido a eminente chegada do amor de sua vida, Elisa procurava por distrações que pudessem a entreter por um período. E, como tempo livre é adubo para caraminholas, a garota se dedicou a pensar no leilão de seu irmão.
"Estou cem por cento convencida de que Kamila é a piriguete anônima, Dani"
"Piriguete anônima? Você leiloa o Felipe, e a compradora é quem leva apelidos machistas?"
"Quer ato maior de feminismo do que colocar o poder do encontro nas mãos de uma mulher, Dani?"
Se pudesse enxergar a amiga por trás da tela do celular, Dani entenderia que sua explicação sobre a igualdade de gênero não surtia efeitos em Lisa, que revirava os olhos a cada novo vibrar do aparelho. Mesmo apresentando grande maturidade para alguns temas, a garota cismava em utilizar de termos preconceituosos para tratar de outras meninas. Mas Daniela não desistiria, nunca é fácil se desvincular de vícios de linguagens e pensamentos enraizados.
"Você está perdendo o foco! Não precisa ficar militando comigo, sabe que eu não estou julgando ninguém"
"Tecnicamente não é verdade, mas até o Dalai Lama solta umas frases machistas às vezes, então eu terei paciência com você, Elisa."
Sofrendo de um amargo arrependimento e uma profunda certeza, a menina explicou à amiga os motivos pelos quais ela subitamente adivinhou a identidade da compradora anônima. O fato é que Kamila tratava-se de ninguém menos do que a ex-namorada de Felipe. E, como se não bastasse, ela foi a responsável por quebrar o coração do garoto em mil pedacinhos, quando ele a pegou com seu suposto melhor amigo em uma festa junina do Colégio Santa Cecilia.
A traidora ainda tentou agir como se tudo não passasse de um mal-entendido, mas as pintinhas feitas a lápis em suas bochechas e transferidas devido a fricção para o rosto de Samuel não a deixaram mentir.
Desde então, Kamila havia tentado diversas vezes reatar o namoro, colocando a culpa de suas atitudes na mistura de vinho e gengibre, que ela claramente havia consumido além do necessário.
Dizer que a ex se tratava de uma lady seria mentira, mas Elisa bem sabia que, para o beijo acontecer, foram necessárias duas pessoas. Por que Samuel também não havia recebido um apelido pejorativo? Era exatamente esse o ponto de Dani. Mas, no momento, Lisa só conseguia pensar em xingamentos para si própria.
Como ela não havia considerado a possibilidade de o leilão chegar aos ouvidos de Kamila? Era tão óbvio agora.
"Dani, você não está entendendo. Eu preciso encontrar uma maneira de cancelar essa confusão toda! Não posso ser responsável por auxiliar aquela piri... quero dizer, aquela criatura a fazer picadinho de Felipe de novo! Você manda uma mensagem para aquele remetente avisando que..." Mas, antes que pudesse finalizar o áudio, Lisa foi interrompida por uma cutucada nos ombros.
A garota semicerrou os olhos e virou seu corpo vagarosamente, já imaginando a bronca que levaria de sua supervisora por estar ao telefone no horário de trabalho. Com o pedido de desculpas na ponta da língua, Elisa ficou sem palavras ao não dar de cara com Iasmim atrás dela.
Não, definitivamente o nome daquele rapaz alto, dono de um sorriso estonteante, cabelo com pontas levemente loiras e os braços cheios de tatuagens não deveria ser Iasmim.
Será que por loiro, Miss Minfítica poderia se referir a alguém com as madeixas clareadas artificialmente?
"Me desculpe por interromper, mas você trabalha aqui? Eu gostaria de saber o preço desse livro." O rapaz disse, enquanto chacoalhava nas mãos o exemplar de Agatha Christie. O Assassinato de Roger Ackroyd nunca pareceu tão romântico aos olhos de Elisa como agora.
Bonito e inteligente.
Será que a cartomante também era feiticeira? Porque, sinceramente, esse ser humano só poderia ser fruto de magia. Ou isso, ou ela deveria estar utilizando sua calcinha da sorte sem se dar conta. No entanto, era a primeira vez que o objeto havia trazido tamanha benção, normalmente ele só funcionava para que as questões na prova de história se tratassem do tema que ela havia estudado mais.
Enquanto acenava com a cabeça e caminhava lado a lado a seu futuro, Elisa tentava se lembrar da ultima vez que havia ido ao banheiro e se sua peça íntima tratava-se mesmo do tecido azul com bolinhas cor-de-rosa. É incrível como nosso cérebro consegue divagar em momentos decisivos e, por esse motivo, ela nem ao menos notou o rapaz a analisando da cabeça aos pés.
"Estou fazendo uma boa escolha, Elisa?"
Mais desnorteada ainda, por um instante a pequena se questionou a que o rapaz se referia. Ele seria assim, tão direto? Talvez ele também soubesse que ela estava em seu destino.
Meu Deus. Será que ele também havia se consultado com Minfítica?
"Como você sabe meu nome?"
Apontando para o crachá, o rapaz sorriu e Lisa quis cavar um buraco e se enfiar, como um avestruz. Ou fingir tropeçar no carpete, o que ocasionaria um súbito desmaio. Todas as opções seriam melhores do que a vergonha que ela estava passando. Não era flerte, era educação.
"Ah. Sim, é um livro excelente, com um final bastante surpreendente."
Mesmo sabendo que o garoto em sua frente não fazia a menor ideia de quem era Miss Minfítica, muito menos sobre a possibilidade de seus destinos estarem cruzados, Elisa aproveitou para observar cada detalhe. Caso não se passasse de uma coincidência, nunca antes na história de seus turnos na livraria uma coincidência tão bonita havia passado por aquela porta.
Ainda que bastante esguio, as tatuagens faziam do garoto um crush em potencial. Com certeza, digno de uma comédia romântica sobre boy bands.
"Eu me chamo Zeca, por sinal."
"Foi um prazer te atender, Zeca. Espero que você goste de Hercule Poirot."
"Como?" – Lisa apontou para o livro acomodados nos braços de Zeca – "Ah, é um presente na verdade, mas obrigado."
É. Talvez bonito e leitor seja pedir demais.
Enquanto o garoto caminhava para a porta, Elisa sentiu seu destino se afastando cada vez mais. Se ela não quisesse continuar sozinha, precisaria começar a tomar algumas atitudes.