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"Você só pode estar de brincadeira com a minha cara, Daniela

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"Você só pode estar de brincadeira com a minha cara, Daniela. VOCÊ DEU UM LANCE PARA SAIR COM O MEU IRMÃO? O cara que conhece a vida inteira, desde que era uma garotinha? Vai me dizer o que, que eu estou participando de uma regravação de A Barraca do Beijo? Não me diga que você passou a infância toda me visitando só para vê-lo. Caramba, como eu pude ser tão burra?"

Não haveria nada que a amiga pudesse dizer para acalmar Elisa naquele momento, que falava desenfreadamente enquanto caminhava de um lado para o outro. Todas as mesas ao redor haviam parado de comer e observavam a pequena de cabelos cacheados, tão vermelha de raiva como uma pimenta.

"Minha vontade, sinceramente, é esfregar esse bolinho na sua fuça! Na sua fuça, Daniela! Como você pôde? Como nunca me contou isso antes? Eu sou uma piada para você?"

Obviamente, não era. Dani só havia sido consumida pelo medo e não sabia como compartilhar seus sentimentos com Lisa que, dentre todas as outras pessoas, deveria entender exatamente pelo que a amiga estava passando.

Ela sabia que Felipe e a irmã eram extremamente próximos e tinha receio da reação de Elisa, se um dia tivesse a oportunidade de contar – e com razão. Mas, caramba! Por muito tempo, Dani não tinha certeza nem se compartilharia com o garoto como ela se sentia, por que arriscaria tudo com a amiga?

Não era como se tivesse nutrido uma paixão desde os nove anos de idade, e se aproximasse de um parente de Felipe somente para estar mais perto dele. Claramente não era esse o caso.  Para falar a verdade, ela se esforçou ao máximo para ignorar a maneira como se sentia desde que ficaram mais próximos após a fatídica festa junina/traição de Kamila.

E se ela nunca deixasse de ser a amiga mais nova de sua irmã? Mais uma pirralha qualquer, babando pelo Deus Grego do Colégio Santa Cecília.

Valeria a pena arriscar a amizade entre as duas por conta de um garoto? Dani tinha certeza que não, e por isso escondeu a sete chaves qualquer risadinha envergonhada que aparecia em seus lábios quando o mais velho dava as caras por São Paulo.

O problema era que Felipe passava pela cidade cada vez mais raramente e, se por um lado era de se esperar que isso facilitasse a diminuição da paixonite platônica de Daniela, por outro ela gostaria de passar cada segundo que tinha a chance com o irmão de Elisa quando ele estava na capital. E ficava cada vez mais difícil de arrumar uma desculpa.

Chegou então o momento do basta: ou ela seguia em frente e nunca mais pensava em como ele parecia lindo com aquela calça jeans de lavagem escura, ou finalmente tomava uma atitude e dava a cara à tapa.

"Só um sinal, Universo, só estou querendo um sinal. Desisto, ou tento? Não é pedir muito, vai..." No mesmo dia da conversa entre Daniela e o Cosmos, Elisa surgiu com a ideia do leilão. Mais sinal que isso, só se viesse em um envelope com o nome da menina escrito em letras douradas.

Se o mundo conspirava pelo sim, isso significaria que a amizade teria chance de sobreviver no meio da confusão, certo? Afinal, não era possível que o destino não seguisse o lema fries before guys. Daniela poderia aceitar tudo, menos uma força maior com viés machista.

Após bolar o plano sobre o lance anônimo, haveria ainda um bom tempo para abordar o tema com a delicadeza suficiente para não quebrar o coração de Elisa. A garota aguardava pacientemente para o momento em que a paixão subisse a cabeça da amiga e, quem sabe assim, quando ela comentasse que gostava de Felipe, Lisa entenderia como o amor não é racional e aceitasse bem a situação.

Mas, se não é machista, o Cosmos claramente é sádico e jogou a bomba toda basicamente no meio do olho do furacão, deixando ambas as amigas despreparadas. Se bem que, com Elisa, quando a vida não parece como um desastre natural?

"Você está me ouvindo, Daniela? Nunca mais! Eu nunca mais quero ver sua cara! E aí de você se chegar perto do Felipe. Se você fizer isso, eu conto que você estava tão desesperada que chegou a dar um lance anônimo para sair com ele!"

"Ah, sim. Aproveite para contar que quem estava leiloando era você, ok queridinha? Se eu ficar sabendo que o Felipe sequer desconfia sobre o leilão, sou eu quem vai contar tudo, Elisa."

A pequena deixou o ambiente pisando firme. De uma maneira ou de outra, ela sabia que Dani estava certa. Pior do que dar o lance, é ter inventado essa história toda. No entanto, tudo o que ela menos queria era ter recebido esse tipo de informação.

Kamila, no final das contas, sempre tinha culpa no cartório. Tinha que ter aparecido justo hoje, quando Lisa precisava tanto do apoio da amiga?

Porém, não havia mais volta para a amizade das duas. O que Daniela fez foi inadmissível! Passar a vida toda escondendo esse segredo de Lisa dessa maneira. Para a pequena, o problema em si não era o amor pelo Felipe, mas sim a falta de sinceridade sobre seus sentimentos. Como era possível manter uma amizade, quando uma pessoa não era completamente sincera?

E pensar que Lisa as considerava melhores amigas...

A menina saiu em direção ao metrô movida exclusivamente à força do ódio. Foi somente quando ela se sentou na cadeira de plástico duro do trem, que entendeu a magnitude da situação. Depois de tantas ofensas trocadas, não seria mesmo tão fácil assim que a amizade sobrevivesse.

A expressão de Daniela ao ouvir "eu nunca mais quero ver a sua cara" não saia da cabeça de Elisa. Quando a garota havia aprendido a ser tão cruel com as palavras? Nem todos eram como sua mãe, que sempre voltava a conversar com a menina, mesmo depois das piores ofensas.

Com o passar dos dias, será que Lisa gostaria de voltar a falar com a amiga? E, se sim, será que Daniela aceitaria a situação?

Lisa não saberia dizer. Naquele instante, a única coisa que a garota tinha certeza é de que precisava de um sorvete que extravasasse toda a angústia guardada dentro dela no momento.

Você Vai Conhecer o Amor da Sua VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora