Você Vai Conhecer o Amor da Sua Vida

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"Sinto muito sobre a Gabi, Lisa. Por ela ter se enfiado ali na mesa e basicamente passado a noite toda conosco. Às vezes, falta um pouco de noção para aquela desmiolada."

Elisa acenou com a cabeça que sim, ela entendia. E ficava feliz por Hugo se sentir da mesma maneira, como se fosse a Gabi quem estiva sobrando por ali, e não ela. No entanto, enquanto mascava seu chiclete de menta e os dois balançavam vagarosamente ao som de um cover de John Mayer, a garota só conseguia pensar na grande mentira que havia contado.

Estou estudando para entrar em medicina ecoava por sua cabeça, como um disco riscado. Com a interpretação da banda de Paper Doll, Lisa se perguntava se ela era assim também, como uma boneca de papel cheia de versões, nenhuma completamente verdadeira.

Mas ela não fazia por mal, a ideia não era interpretar um papel irreal, uma suposta Elisa de quem Hugo poderia gostar mais. A meta era somente não ser tão... desinteressante. Tão igualmente perdida na vida quanto todas as outras garotas. Menos Gabi, é claro. Hugo já era mais velho e mais especial do que ela, então o medo de parecer somente uma adolescente boba falou mais alto e a fez se enfiar uma situação pelicular, para não dizer outra coisa.

Se bem que, quando finalmente encontrasse o que queria fazer da vida, poderia simplesmente dizer que mudou de ideia, não é? Simples. Ele nunca imaginaria que isso foi uma menti... Uma restrição da verdade.

"Ei, o que foi?" O garoto questionou a Lisa, tocando em seu queixo delicadamente, para que ela olhasse em seus olhos. "Está tudo bem?"

"Está, está sim. Acho que só estou um pouco cansada..."

"Quer ir embora? Posso te levar, se você quiser."

"Não, ainda não. Vamos ficar só mais um pouquinho." A pequena acrescentou, enquanto encostava novamente sua cabeça no peito de Hugo. Ela não havia parado para reparar na proximidade em que eles estavam. Existia até a chance do perfume dele ficar marcado em seus cabelos, como ela tanto queria. Lisa também conseguia sentir a respiração de Hugo, subindo e descendo lentamente, quase como um calmante.

Ao redor dos dois, havia somente mais três casais que dançavam e davam risada, aparentando se conhecerem há anos. Gabriela já havia ido embora com suas amigas há algum tempo, e a grande parte das pessoas também.

Com o lugar mais vazio, era possível ouvir de longe o barulho dos carros na avenida, distante do quintal a céu aberto onde eles se encontravam. Naquela noite, a terra da garoa havia optado por dar uma trégua e, mesmo que fosse difícil enxergar as estrelas na cidade grande, as lampadinhas que entrelaçavam o as árvores por ali deixavam o clima ainda mais especial.

Era de se esperar que Lisa estivesse nervosa com a proximidade, mas isso não aconteceu. Assim que conseguiu deixar um pouco de lado a história da medicina, a garota se permitiu viver inteiramente o momento, como deveria fazer em todas as demais áreas de sua vida.

Quantos bons momentos não desperdiçamos ansiando por coisas que podem nem sequer acontecer?

"Eu nunca tinha visto que você tinha sardas. São fraquinhas, mas estão aí." O garoto falou, enquanto olhava atentamente o rosto de Lisa.

"Estão, não é? Elas são temporárias, aparecem mais com o sol quente do verão. Mas gosto delas, queria que fossem definitivas."

"Entendo, mas que bom que elas existem em algum momento, pelo menos. O temporário também é bastante válido, Lisa. Sabe o que mais? Elas me lembram do céu, como uma constelação. Uma pequena constelação de Elisa."

Os dois nem ao menos perceberam que haviam parado de mexer as pernas no ritmo da música. Elisa já havia levantado sua cabeça, e encarava o garoto de frente, dentro de seus olhos, enquanto ele traçava as estrelas em suas bochechas, que provavelmente resplandeciam um tom vermelho vivo.

Hugo seguia as sardas com as duas mãos agora, até segurar delicadamente o rosto de Lisa entre suas palmas. Tomada pela vergonha repentina, a garota levou seu olhar até o chão, mirando seus sapatos enquanto mordia o lábio inferior da boca. Ela podia sentir um nó se formando em seu estomago, quando a testa dos dois se tocaram. Ao levantar o rosto, encontrou com o de Hugo que a encarava vividamente, quase sem piscar.

Ainda sem fecharem suas pálpebras, o garoto encostou seus lábios no de Elisa, com delicadeza. Encostando uma segunda vez, com um pouco mais de pressão, Lisa fechou seus olhos e se deixou levar pelo momento. Ao fundo, era possível notar a conversa dos casais, que riam de maneira deliciosa. Hugo ainda a segurava, mas dessa vez seus braços estavam em sua cintura, trazendo-a cada vez mais para perto de si, enquanto Lisa brincava com os dedos pelos cabelos do garoto, os fios loiros tão procurados enroscados por seus dedos.

A garota mal respirava, tinha medo de perder o ritmo, de perder um segundo sequer daquela sensação. Isso sim valia a pena ficar guardado para sempre na memória. A essência da sobremesa de caramelo flor de sal que ainda estava presente nele definitivamente a deixaria viciada nesse sabor.

Quando os lábios finalmente se afastaram, Hugo e Elisa continuaram se encarando por alguns segundos, enquanto o garoto tocava nariz com nariz, fazendo um pequeno vai e vem para o lado.

"As pessoas dizem que fica ainda melhor com o tempo." O garoto disse, encarando.

"Bom, não vejo a hora de saber como será o próximo então." Elisa sorriu, de um jeito que nunca havia feito antes. Um sorriso provocativo, feliz e ansioso. Aparentemente, o químico dentro dela havia acabado de criar mais uma nova emoção.

Rindo, o garoto a segurou logo a baixo da cintura e a levantou, fazendo um pequeno giro onde estavam. Elisa mal conseguia se segurar, a felicidade parecia querer transbordar por seu corpo e ela permitiu, sorrindo o máximo que conseguia.

Hugo tinha razão. O temporário também é bastante válido, e ela poderia viver de momentos como esse a vida toda.

Eu AMO esse capítulo! Não somente pelo motivo óbvio, mas sim porque Elisa finalmente se permitiu viver um momento de leveza, no qual ela estava completamente presente ❤️

Me dá um orgulho quando a personagem começa a evoluir hahahahaha

Mas e a mentira? Você tem alguma sugestão do que ela poderia fazer para sair dessa?