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"Eu não acredito que ele teve tempo!" Fátima sorria para a tela do computador, enquanto dava pequenos pulos de alegria

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"Eu não acredito que ele teve tempo!" Fátima sorria para a tela do computador, enquanto dava pequenos pulos de alegria. Elisa, ainda sem entender, observava incrédula intercalando entre os saltinhos da mãe e as imagens feitas por Felipe.

"Mas como? Como ele sabia disso?"

"Fui eu, Lisa! Você gostou? Quando eu levei seu sorvete para aquela casa – que por sinal, eu vendi -, todo mundo amou! E eles queriam encomendar! Você acredita? Aí, pedi para o Felipe criar uma marca pra você. E então, o que achou?" A mãe aguardava ansiosamente pela resposta de Elisa, que ainda encarava boquiaberta todos os detalhes feitos pelo irmão.

Ele havia pensado em tudo, desde os cartões de visita que eram, na verdade, cartas do baralho de tarot, até os potinhos de sorvete, envoltos em elementos místicos. E, para completar, o nome: A Bola de Cristal - tinha como ser mais significativo?

"Nem sei o que dizer, mãe. Caramba, vocês pensaram em cada detalhe! Eu nunca seria capaz de criar algo tão genial assim, tão detalhista. Isso tudo...Isso tudo sou eu! Em cada cantinho." As duas se abraçaram, mais uma vez. E, por elas, retomariam o ritual de abraços muitas outras vezes.

"Então é isso? Eu sempre soube fazer algo, no fim das contas..."

"Não Lisa, você não sabe fazer algo, simplesmente. Você é foda nisso! Você faz isso bem para caramba, isso é um dom! E eu tenho que te pedir desculpas. Sempre ouvi de você que encontraria o caminho para sua vida, e fiquei te apressando, achando que você estava perdendo tempo...Quando, na verdade, você estava certa o tempo todo. Você é especial."

"Não, mãe, eu que peço desculpas. Temos uma vida tão privilegiada e, se eu tenho a chance de estudar, deveria ouvir seus conselhos e não ficar agindo como uma covarde, me escondendo nas minhas inseguranças..."

"Filha, não há ninguém que não sinta medo nessa vida. Ser forte e corajosa o tempo todo é difícil, cansativo. Eu fui criada em outros tempos... Nós não podíamos tirar um tempo para pensar na vida, entender o que realmente fazia sentido. Os filhos vinham tão rápido, a gente se casava tão cedo. Tentei jogar tudo isso em cima de você, porque tinha medo que você pudesse se perder. Mas Lisa, eu nunca conheci ninguém mais corajoso que você. Porque, mesmo quando todo mundo te dizia o quão errada estava, você continuo fiel a si mesma. E isso é lindo, filha. Obrigada por me ensinar tanto, todos os dias."

"Ah, Fátima, não faça isso comigo! Estamos nos debulhando em lágrimas quando deveríamos mesmo era comemorar! Sua filha finalmente vai tomar um rumo na vida!" Com gritinhos de uhul, Lisa se juntou a mãe nos pulinhos de alegria.

Então era assim que as pessoas se sentiam quando a vida finalmente entrava nos eixos? Leve e em paz?

Na verdade, pouco importa como os outros se sentem. O que realmente interessava eram os sentimentos de Elisa, e ela estava extasiante. Nunca havia pensado em si mesma como uma empreendedora, que começaria o próprio negócio assim tão jovem. Mas, ao mesmo tempo, traduzir emoções em sorvete era sua paixão! Se nada desse certo, ao menos ela iria se divertir nesse meio tempo.

"Felipe pensou em cada sabor ter o nome de uma carta de tarot, o que você acha?"

"Genial! Não é à toa que ele ganhou o título de amor da minha vida."

"Bom, então se apresse para aprovar a imagem da sua marca, já que seus primeiros clientes gostariam de um pote de dois litros do sabor O Sol para semana que vem!"

"Meu Deus! Mas já? E qual é o sabor O Sol?"

"Baunilha, Elisa! Você precisa se atualizar!" Fátima a provocou, enquanto bagunçava os cachos no rabo de cavalo da filha.

Enquanto a pequena se sentava, ainda admirada com tudo que o irmão havia criado para ela em tão pouco tempo, ela se pegou sorrindo no quarto, sozinha. Mais uma vez, dentro desses poucos meses, ela gostaria de parar o tempo e viver para sempre daquela maneira, com sua família completa, Dani ainda morando em São Paulo e a boa ansiedade sobre uma nova etapa chegando. Ali, naquele segundo, ela lembrou de Hugo e o quanto gostaria de compartilhar com ele aquele momento, mesmo que nada mais garantisse que os dois fossem destinados um ao outro.

A certeza do futuro não morava mais em Elisa. Ultimamente, ela passou a entender que a vida é movida por esforços e dedicação, e não por convicções. É preciso se dedicar para que algo dê certo, como ela se dedicava ao sorvete. É preciso cativar um relacionamento, seja ele familiar, entre amigos ou romântico. Afinal, ninguém tem bola de cristal para saber como estamos nos sentindo. É preciso ser paciente consigo mesma. Assim como os outros, nem sempre estamos tendo um bom dia. Ou uma boa semana. Ou até mesmo um bom mês. Por que cobramos tanto desempenho próprio, quando ainda nem vivemos tempo o suficiente para nos conhecermos verdadeiramente?

E tudo bem evoluir de maneira diferente! Muitas vezes, somos compreensivos com as evoluções alheias, mas críticos com nosso próprio tempo. E assim, com essa reflexão em mente, Elisa deixou se levar pela expectativa de que talvez Hugo precisasse de mais tempo para digerir toda aquela situação. Talvez, se ela tentasse de novo, ele estivesse pronto agora.

"Oi, Hugo! Aqui é a Lisa... Só para o caso de você ter excluído meu número num ímpeto de raiva e revolta.

Depois que paramos de nos falar, algumas coisas aconteceram. Coisas boas. E, em todas elas, eu tive vontade de te contar como estava me sentindo. Você não sabe, mas eu faço sorvetes! Meu dom não é biológico, como o seu, mas... químico? Creio que podemos dizer que sim. E agora meu irmão criou minha própria marca! Ficou linda, você não faz ideia.

Mas, o que eu queria falar mesmo era sobre uma conversa antiga que tivemos... Sobre o temporário também ser válido. Eu compreendo agora, mesmo que tenhamos sido o que quer que seja por um curto período de tempo, eu fui feliz.

Muito feliz.

Tenho tanta coisa para aprender, um monte de crescimento ainda pela frente - especialmente no quesito relacionamento. Mas acho que, se você quiser, nós poderíamos crescer juntos, o que acha?

Além disso, em relação aquela história da cartomante... Eu descobri que ela não estava falando de você, mas sim do Felipe, meu irmão. E eca, não pense nenhuma besteira, pelo amor! A parte de conhecer o amor da minha vida foi meio que uma interpretação ansiosa minha. Ela estava falando sobre alguém que mudaria minha vida, e acredito que ele mudou com essa história da marca, não é? Felipe me fez enxergar algo sobre mim que nem eu mesma via.

Mas isso não foi de graça! Eu ajeitei um encontro entre ele e Dani. Os dois estão juntos agora, e aposto que eu também vou mudar a vida dele.

Bom, queria dizer que eu não preciso mais de alguém com vidência para entender que gostaria de ter você em minha vida.

Enfim, sinto sua falta. Sinto falta das exposições esquisitas no MASP, e de quebrar regras com você. Sinto falta do clube do hambúrguer. Sinto falta até dos seus ataques de sequestro/atropelamento – pasme. (Talvez seja muito cedo para esse tipo de brincadeira?)

Entendo que pode não ser para sempre, mas você não acha que poderíamos ser temporários por mais um tempo?"

Você Vai Conhecer o Amor da Sua VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora