Capítulo 8 - Lying in his own darkness

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"Nossa existência não é mais que um curto circuito de luz entre duas eternidades de escuridão."

– Vladimir Nabokov

5 de Fevereiro, 2009.

– Você é inacreditável. Eu não vou conseguir me divertir, minha mãe está nas mãos daquele cretino.

– Ei, isso não é sobre diversão, é sobre distração. Quero que você tente pensar em outra coisa.

– Pra você é fácil, não é? Você não tem mais por quem lutar.

Henri fez uma careta ao ouvir as palavras de Alicia, mas não as respondeu. Ela percebeu como havia sido grossa, mas não iria se desculpar por ter dito a verdade.

Por fim, Henrique decidiu ignorar o comentário. Levou sua xícara à sua boca e tomou um longo gole do chá quente, sem se importar com o fato de o líquido ter deixado sua língua praticamente em chamas.

Quase dois minutos depois, Henri estava pálido e com os olhos marejados. Fechou-os com força três, quatro vezes, mas isso não iria fazer com que as lágrimas e a dor fossem embora.

– Vou ao banheiro. – Avisou, com a voz sufocada. Se levantou e entrou novamente no pequeno restaurante.

Henri seguiu pelo corredor escuro ao lado do balcão e entrou num cubículo, onde uma placa em azul neon identificava o banheiro masculino.

Agradeceu pelo banheiro não ter cabines, assim ninguém entraria e descobriria que ele estava ali.

Trancou a porta e apoiou seu corpo na mesma, arrastando-se até o chão. Afundou sua cabeça entre os joelhos e fechou os olhos, desejando que tudo aquilo não estivesse realmente acontecendo. Abriu os olhos após quase cinco minutos e, como sempre, se deu conta de que tudo aquilo era real.

Sua vida não passava de um pesadelo, uma brincadeira de mau gosto resultada de um momento de puro tédio da força que governava o mundo.

Já estava ajoelhando-se para pedir piedade, mas hesitou no último instante. Quem teria piedade do garoto que havia acabado de matar a própria mãe? Nem Henri tinha piedade de si mesmo.

Sentiu uma dor no pulso e enrolou a manga da camisa para cima. Observou, atônito, um corte surgir do nada.

O sangue que fluía se arrastava pelo chão, fazendo todo o percurso necessário para chegar até o espelho de tamanho médio grudado na parede sobre a bancada.

Henri se levantou, acompanhando o movimento do líquido vermelho com os olhos.

Havia um pequeno texto no espelho. Duas palavras, seis letras.

"Tik tok"

Alicia olhou de modo impaciente para o grande relógio e termômetro digital do outro lado da rua.

Quarenta minutos haviam se passado desde que Henrique se levantara e saíra, deixando-a sozinha na mesa junto à uma porção de panquecas e um bule com chá, ambos, agora, frios.

Estava cogitando a possibilidade de procurá-lo, mas, ao mesmo tempo, sabia que teria seu orgulho ferido se o fizesse.

A garota acabou imaginando sua mãe nas mãos do homem que estava obrigando-a a fazer tudo isso. Também pensou em Henri, que, mesmo com a oportunidade de fugir, ficou pela sua mãe, por ela.

Refez o coque em seu cabelo, mas os fios pareciam escapar devido ao enorme nervosismo. Apertou o sobretudo de Henri contra seu corpo magro e entrou. Avistou o balcão e esperou pela sua vez na fila, tentando não demonstrar sua irritação.

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