"O fim da esperança é o começo da morte."
– Charles de Gaulle
14 de Fevereiro, 2009.
– Eu tinha uma vida antes de entrar de cabeça na sua, sabia? – Alicia segurou o pulso de Henri com firmeza. – Eu sempre fui a típica garota boba e sem jeito apaixonada pelo professor mais velho, mas era só isto, nunca foi mútuo.
– Até hoje não é? – A tristeza cortava a voz de Henri ao perceber que todos os sentimentos e a esperança de um futuro melhor ao lado de Alicia não tinham base alguma, nada na vida dele tinha base alguma.
– Não se preocupe com isso, Henri. Ele é só alguém do passado, alguém que pode permanecer onde esta. – Alicia aliviou o pulso de Henri e se aproximou do garoto, dando-lhe um leve abraço. – Você está aqui, no presente, comigo.
– Mas talvez não esteja no seu futuro, Liz. – Henri tentou, sem sucesso, se desvencilhar do abraço de Alicia, que o apertou ainda mais.
– Deixe as preocupações do futuro no futuro, por favor. – A garota passou uma das mãos na nuca de Henri, que ficou levemente arrepiado, logo em seguida dando-lhe um longo e lento beijo.
Mas, subitamente, Alicia interrompeu o ato e se afastou.
– Por que você parou? – Henri perguntou, confuso.
– Tenho que preparar todo um ritual ainda.
– Você é louca, sabia? – Henri apenas riu, tentando aliviar a tensão.
– É? E você é amaldiçoado. – A garota ficou aliviada ao sentir que o clima tenso havia se dissipado. – E ciumento.
Alicia respirou pesadamente, esperando que o ar que entrava em seus pulmões também trouxesse coragem.
Lançou um olhar para Henri, um olhar que apenas buscava compreensão, talvez até um incentivo, mas logo notou que o que estava fazendo era incompreensível, por que precisaria da opinião dele? Alguém que em parte carregava a culpa pelo assassinato da mãe, e que destruíra parte do corpo já morto da mesma mulher. Apesar do fato de ele estar possuído ser um grande atenuante.
– Isto é apenas para garantir que você ficara bem. – Com a voz altiva, Alicia proclamou palavras em uma língua antiga. Em um instant,e o corpo de Henri voou contra a parede, prendendo-se de forma incompreensível ao material sólido, que lentamente englobou os punhos e pés do jovem, deixando-o imóvel.
– Alicia, eu sei que você só quer o melhor para mim, mas e o melhor para você? – Henri peeguntou num sussurro.
– É melhor para ambos que eu vá sozinha. – Alicia sequer virou-se para ver o garoto, apenas continuou seu percurso para o porão da casa, aos poucos os gritos por socorro de Henri pareciam mais distantes, até tornarem-se quase inaudíveis.
Alicia tentou prolongar o momento o mínimo possível. Logo após entrar no cômodo e ainda sem enxergar o corpo sem vida da mãe, sussurrou algumas frases de forma imperativa, assim desfazendl o encanto que preservara o corpo da mãe, fazendo com que o cheiro nefasto de carne apodrecendo invadisse todo o ambiente.
Alicia puxou o ar para os pulmões de forma intensa, ignorando o cheiro, de alguma forma sabia que assim o corpo se acostumaria mais rápido ao odor, e assim se sucedeu. Um problema já estava resolvido, agora ela precisava encarar outro dos sentidos: a visão. Vagarosamente, Alicia tateou a parede em procura do interruptor,
Não foi preciso muito esforço, ao menos não para ligar a luz. Ela não conseguia aceitar o estado do corpo morto da mãe, as vísceras e o sangue misturavam-se e confundiam-se de forma hedionda, graças ao elevado grau de confusão e terror, a mente de Alicia fez com que a única lâmpada que iluminava o ambiente explodisse.
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Forbidden Lines
RandomHá 500 anos, na pequena cidade no interior da França, Westwick, Arthur Blackburn fez um pacto com as trevas. Ele prometeu seu corpo e os dos filhos primogênitos de cada geração, em troca de riqueza e poder para a sua família. Então, quando os primog...