Capítulo 20 - Perfect

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“Você pode odiar sua família, mas você não deixa de estar ligado a eles.”

– Maníacos (filme)

15 de Fevereiro, 2009.

– Certo, Henri, já passamos pela turbulência. – Alicia sussurrou para Henri, que estava sentado ao seu lado, apavorado.

A turbulência despertou em Henri a sensação de impotência, impotência que vivenciava sempre que não estava no controle de si próprio. No momento de pânico, Henri buscou conforto entrelaçando a mão na mão de Alicia. Apesar da aparência frágil da mulher, a convivência mostrou quem realmente era o elo mais forte deste relacionamento.

– Desculpe se te apavorei mais ou se foi incômodo. – Com alguma relutância, Henri interrompeu o contato físico entre eles.

– Quem disse que já pode soltar minha mão?

Ambos riram brevemente.

O voo continuou, sem turbulências, ao menos não aéreas, algumas cadeiras à frente um casal de aproximadamente quarenta anos cada, discutia sua relação de tempos em tempos, o que proporcionava um entretenimento gratuito para muitos dos passageiros. As aeromoças não apreciavam tanto o espetáculo, sempre tentando reconcilia-los educadamente, ora tinham sucesso ora a discursão acabava por falta de argumentos.

“Não vamos ficar assim né?” Alicia perguntou dentro da mente de Henri.

Ela não gostaria de chamar a atenção do casal à frente, não estava preparada para discursão alguma.

Henri levou um susto considerável. Fazia algum tempo que Alicia não fazia aquilo, provavelmente em consideração ao fato de que uma criatura do submundo também o fazia.

“Não. Até porque eu não teria o que usar contra você.”

Ambos riram em seus respectivos corpos.

“Eu vou voltar para minha mente, isto traz lembranças ruins para você.”

“Você não me incomoda.”

“Pode até ser, mas estou em seus pensamentos, não há como você mentir para mim.”

A mente de Henri ficou silenciosa. Infelizmente, ele não podia ter certeza de qual seria a razão, ou a situação havia ficado muito tensa ou, ela poderia simplesmente ter voltado para própria mente.

– Liz, você está sempre em meus pensamentos, ainda que não esteja na minha mente. – Henri precisava quebrar o clima ruim que poderia ter ficado.

Por um instante um sorriso fraco passou pelo rosto de Alicia

– Você também está sempre nos meus. – Poderia ter sido uma frase bonita se não tivesse sido dita com tanto pesar. Era visível em sua voz a preocupação.

Henri sabia que o amor entre os dois não era unilateral, mas por um curto momento sua convicção vacilou, mesmo sua mente buscando outra explicação.

– Quando você pensa em mim...

– O tempo todo eu penso em você. – Alicia respondeu, desta vez sem vacilar.

– Não, não é isso, eu acredito que você realmente pense muito em mim, mas na maioria das vezes não é porque me ama, é porque se preocupa comigo, não é?

– Não é assim como você está achando, quem ama se preocupa, eu me preocupo.

– Você me entendeu, Liz! – Seu tom de voz subiu um pouco, mas não o suficiente para os passageiros mais desatentos ouvirem. – Quero dizer que te atrapalho, sou uma constante preocupação.

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