Capítulo 6 - I will save you from yourself

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“O amor é como a religião: precisa de rituais e de mistérios.”

– Valter da Rosa Borges

5 de Fevereiro, 2009.

– Você vai me matar? – Henri perguntou.

– Não, Nicholas. Não vou. Gostaria, mas não tenho nem coragem para isso.

– Como você me odeia e não tem coragem de me matar? Eu matei a mamãe, eu mereço morrer. – O garoto choramingou.

– Não se preocupe. A Alicia vai matar você.

– Ela não fará isso. – Riu para si mesmo.

– Por que não? Ela está na sala, procurando um feitiço para te enviar direto para o inferno.

– Eu estou com sede. – Henri falou. E era verdade, sua garganta parecia arranhar enquanto ele falava.

Marcus suspirou e olhou para o relógio.

– Que diferença faz morrer com sede?

Henri não falou nada. Além de não saber o que dizer para preencher o silêncio, sabia que ainda teria que ouvir muito de Marcus.

O homem ficou batucando a ponta da caneta contra a folha do mês de Fevereiro, cuidadosamente calculando o que iria falar.

– A Charlotte era minha família, você deveria saber disso. No momento em que escolhi ajudar vocês, tive que abrir mão dos meus pais e meus irmãos. E, você sabe, nada disso adiantou. Ela morreu pelas suas mãos. Você, com sua sede estúpida de sangue e morte, a destruiu.

– Eu sei. Eu fiz isso, lembra? Mas eu não tive a intenção. Numa hora ela era uma ilusão e, na outra, ela estava de pé diante de mim e...

– Chega! – Marcus interrompeu o garoto, que já estava à beira das lágrimas. – Cale a boca, eu não quero ouvir uma palavra sua!

Num ímpeto, Marcus se levantou e saiu do cômodo, deixando Henrique sozinho com as paredes de pedra.

Henri ficou mais algumas horas sozinho, em silêncio. A solidão era mais confortável que encarar o tio distante. O rosto de Marcus estava abatido, ele envelhecera muito. Henri chorou por alguns minutos até pegar no sono.

Aparentemente, Alicia havia lhe enganado durante os quatro dias em que invadiu seus sonhos: ela o mataria à sangue frio.

Marcus entrou na sala onde Alicia estava e se jogou na poltrona, cansado. A garota estava debruçada sobre um livro de feitiços no chão, usando um sobretudo preto de Henri por cima de suas roupas.

Marcus havia dito que ela poderia usar as roupas de Charlotte, mas ela não se sentia bem usando vestimentas de pessoas que não estavam mais vivas.

– Alicia, você pode levar algo para o Henri comer? – Marcus pediu, servindo-se de uma bebida.

– Ele acordou? – Perguntou, fazendo o possível para não demonstrar seu entusiasmo.

– Sim. Há algumas horas. Quando você pretende dar fim à vida dele?

– Eu preciso encontrar o feitiço certo. Não quero sujar as minhas mãos.

– Claro. Você se importa de descer e alimentá-lo?

– Farei isso. – Alicia respondeu e se levantou.

A feiticeira foi até a cozinha e, como não tinha a mínima ideia de como preparar uma refeição saudável, pegou algumas frutas e cortou-as em pequenos cubos, jogando a mistura em uma tigela. Pegou uma colher, um copo com água e desceu para o porão.

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