"O amor é um sentimento tão delicado que, às vezes, a gente se satisfaz apenas com a ilusão de que ele existe."
– Autor desconhecido
14 de Fevereiro, 2009
Um dilema passava pela mente de Alicia constantemente, e nesta manhã não foi diferente. Apesar de, por um lado, ela ainda querer resgatar o resto de humanidade que Henri possuía, ela estava tentada a desistir de sua diretriz secundária, que era salvar o garoto, e desejava voltar para a primeira e realizar o que estava predestinada a fazer por causa de sua família. Ainda assim, o sentimento indecifrável que alimentava por Henri trazia confiança para resgatar o rapaz. Mas o que ainda havia para salvar se ele parecia desistir de si mesmo sempre?
Trazida de volta de suas reflexões por um vento gélido, comum em áreas próximas ao mar glacial, a dura realidade a atingiu: ela estava sozinha, absolutamente sozinha neste mundo. Paradoxalmente, o único laço que ainda a prendia nesta realidade era a simples existência de alguém que necessitava de sua ajuda. O mesmo alguém que, em parte, foi responsável por tirar a única pessoa que ela tinha.
Um calafrio desceu por sua espinha em detrimento da pancada surda sentida sob seus pés, era forte o suficiente para espantar qualquer dúvida de que aquilo seria um pequeno roedor.
Rapidamente, ela correu para a escada que dava para o porão.
Há alguns dias, Alicia provavelmente sucumbiria ao mal-estar proveniente da cena profana que visualizava em sua frente e, mesmo resistindo a ânsia de vomito, o gosto ácido invadiu sua garganta. Sob a confusão de sangue coagulado e vísceras humanas, era possível identificar os corpos de Henri e Elizabeth, esta terrivelmente desfigurada. Henri parecia ignorar a presença de Alicia e continuava a vasculhar ferozmente o corpo morto.
– Henri? – A voz de Alicia saiu como um sussurro, aquela situação trouxe de volta a experiência de ver a garçonete morrer violentamente diante de si. Mais uma vez, o sentimento de impotência invadia seu íntimo.
– Henri, olha para mim! – Desta vez Alicia reuniu toda sua força de vontade, soltando um grito estridente, que o garoto não poderia ignorar.
Ele se virou, confuso, olhando perplexo para o rosto abalado de Alicia.
– E-eu... – Gaguejou, olhando confuso para as próprias mãos enquanto tentava assimilar o que acontecia ali. Quando finalmente entendeu, engoliu em seco, sentindo o gosto ácido misturado à saliva. O sangue presente em suas mãos não era dele, era do corpo exposto da mãe da feiticeira. – Eu não queria! – Sussurrou, sem saber ao certo quem estava tentando convencer.
A mão macia de Alicia pousou vagarosamente no ombro de Henri e, em reação ao toque, o corpo dele se afastou. Mais uma vez ela estava sendo boa demais para ele.
– Me desculpe, Liz. – Henri cravou os olhos no sangue em suas mãos, não tinha forças para olhar a expressão magoada de Alicia. – Eu não queria.
– Depois conversamos, Henri. Vá tomar um banho. – Era perceptível que Alicia estava irritada e decepcionada, mas também era evidente que ela tentava acalmar o tom de voz, como um adulto brigando com uma criança levada.
Henri sequer tentou argumentar, ele mesmo sabia que a calmaria que Alicia tentava demonstrar era apenas superficial, que apesar da aparência madura que a garota possuía, ela ainda era apenas uma garotinha insegura e sensível.
Alicia acompanhou Henri até a porta do banheiro de hóspedes, deixando que ele tomasse banho, enquanto ela procurava alguma roupa que coubesse nele.
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Forbidden Lines
CasualeHá 500 anos, na pequena cidade no interior da França, Westwick, Arthur Blackburn fez um pacto com as trevas. Ele prometeu seu corpo e os dos filhos primogênitos de cada geração, em troca de riqueza e poder para a sua família. Então, quando os primog...