Capítulo 13 - Born to die

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"Para todo ser vivo, o sofrimento e a morte são tão certos como a existência."

– A. Schopenhauer

8 de Fevereiro, 2009.

– Mas... – Alicia segurou o braço de Marcus por um instante, tentando argumentar, mas logo desistiu da ideia de ir contra ele. – Tudo bem, quanto antes eu sair dessa bagunça, melhor.

– O pagamento já foi depositado em sua conta, você vai viver muito bem pelos próximos dez anos.

Alicia levantou-se com dificuldade do sofá, e caminhou até a porta que Marcus deixara aberta, indicando para que ela saísse. Usou toda a sua força psicológica para não correr até Henri e abraçá-lo, sabia que iria sentir falta do garoto.

Alicia saiu da Polônia de avião ainda naquela noite, o voo tinha várias escalas, mas tinha como destino ao aeroporto de Los Angeles, Estados Unidos.

Através da janela do carro, Henri admirava as luzes incandescentes, que incidiam sobre a arquitetura antiga presente na cidade. Isto dava para o ambiente um ar aterrorizante, em contra partida, a luz que incidia sobre a neve gerava um ar celestial. A oposição de cores e efeitos lembrava-lhe as pinturas barrocas presentes em muitas catedrais. Enquanto Marcus e Henri se dirigiam para um local mais afastado da cidade, a beleza divina se esvaia, dando lugar a escuridão e penumbra. Henri não conseguiu evitar um olhar para o tio em busca de conforto, mas ele não obteve resposta alguma, Marcus continuava focado na estrada.

O silêncio que ocupava o carro estava em total oposição aos sons vindos da mata que cercava a trilha de chão batido, onde era possível ver que a natureza já reivindicava seu espaço novamente, invadindo a estrada com tufos de grama. Com a aproximação do carro, era possível identificar uma igreja. A luz do luar que invadia as largas brechas presentes no telhado da mesma evidenciava seu abandono.

– Vamos garoto. – Marcus foi o primeiro a descer do carro, e puxou Henri pela manga da camisa. – Logo você estará ao lado do Jonatan! Não está feliz?

– Prefiro estar com ele a estar aqui com você! – O garoto empurrou o tio, que revidou, empurrando o sobrinho com força suficiente para fazê-lo cair deitado no chão.

– Não quero que suas lembranças comigo sejam tristes. – Marcus estendeu a mão para levantar o rapaz, que ignorou e levantou-se sem ajuda. – Vamos, antes que você mude de ideia. Ou não, seria divertido caçar você.

Ambos caminharam para dentro da igreja que caía aos pedaços. O homem mais velho mantinha a serenidade, mas era visível o terror que perpassava pelo rosto do jovem amaldiçoado. Henri olhava apavorado para todos os lados, estava com medo do ruído que vinha aparentemente de todas as direções. Era semelhante a um som muito conhecido e a resposta veio rapidamente para mente dele: era o som de sapatos de salto alto contra o chão.

– Quanto tempo, Marcus – Uma voz claramente feminina ecoou pela igreja.

– Não tanto quanto eu queria, mas eu preciso de sua ajuda.

– Você sempre precisa, não é, amorzinho? – A garota apareceu atrás de Marcus, sussurrando alto suficiente para Henri ouvir.

– Cale a boca, bruxa. Eu não vim por mim, vim por ele.

– Você já foi mais gentil comigo. – A feiticeira chegou próximo da boca de Marcus, ela era muito mais nova que ele, parecia ser da idade de Henri. – E quem é este? – Serenamente, ela caminhou até Henri, e furou com uma das unhas a pele do garoto. Assim que provou sangue, respondeu sua própria pergunta. – Seu sobrinho, o amaldiçoado, não é?

– Tudo que você precisa saber está escrito aqui. – Marcus tirou um papel do bolso e entregou. Henri viu de relance e concluiu que a letra não era de Marcus, era provavelmente de Alicia.

– Só temos mais algumas horas, temos que começar logo. – A bruxa estalou com os dedos da mão direita, e uma enorme mesa de banquete surgiu.

– Você, sente-se aqui. – A feiticeira levou Henri até a cadeira do centro, e sentou-se ao lado. – E você, Marcus, só não interfira.

– Mas e as outras cadeiras vagas? – Henri olhou ao redor, haviam seis cadeiras ao lado dele, e mais seis ao lado dela.

Houve um aumento na temperatura, e uma multidão de criaturas observava o que estava acontecendo, os corpos retorcidos e o cheiro de enxofre quase fizeram com que Henri vomitasse. Algumas das criaturas se aproximavam e ganhavam uma cobertura carnal. Parecendo apenas humanos de beleza rara, todos se sentaram e encararam o casal ao centro, esperando algum movimento.

– Eu sou a Duquesa Lloyd. – Ela levantou uma faca cerimonial e cortou a palma da mão. Seus olhos mudaram de cor, passando por diversos tons de vermelho e roxo. A Duquesa Lloyd deixou o sangue pingar em taça de ouro, logo em seguida passou a faca para Henri. – Vim macular a imagem da Santa Meretriz.

“Agora você vai dizer o seu nome e o que veio fazer aqui, assim como eu fiz.”

Henri ouviu a voz da feiticeira em sua mente e lembrou-se de Alicia. Onde ela estaria agora? Será que já encontrara a mãe e as duas estavam bem? Quase um minuto depois, tratou de limpar a mente e fazer logo o que lhe foi dito.

– Eu sou Henri. – Cortou a palma da mão, misturando na taça o sangue de ambos. – Vim dar o meu sangue, a minha vida, para que você, seja lá quem for, fique preso em mim quando eu morrer.

Os demônios sussurraram entre si em uma língua muita mais antiga que qualquer outra, os sons eram como grunhidos. Irritados, alguns deles tentaram escapar, mas em um piscar de olhos a bruxa lançou ao ar um pó, aparecendo assim um círculo ao redor de cada um.

– Vocês não têm escolha alguma. – A voz da feiticeira saiu forte e alta, ecoando para todas as direções. O silêncio fez-se presente, nem mesmo os animais do lado de fora faziam qualquer barulho. – Vamos acabar isso de uma vez, tenho coisas a fazer.

A feiticeira levantou-se novamente e puxou Henri pelo braço, posicionando-o deitado em uma longa mesa de pedra. Foi até o fundo da igreja e retornou com uma corrente, que fazia um barulho irritante quando se arrastava pelo chão.

– Marcus, prenda-o.

Marcus obedientemente fez o que a Duquesa mandou e enrolou a corrente em Henri, fazendo questão de apertá-la ao redor de seus tornozelos e pulsos.

Quando as correntes estavam bem apertadas, a Duquesa cortou a camisa de Henri ao meio com a mesma faca cerimonial e derramou o sangue sobre o peito de Henri.

Proferiu as palavras do ritual usando uma língua antiga e desconhecida até mesmo para Marcus. A cada palavra dita, o sangue avançava um pouco em direção ao coração de Henri, como se indicasse onde a faca deveria ser cravada.

Quando a última palavra foi dita, a Duquesa cravou a faca no coração de Henri, e o grito que o garoto deu propagou-se pela escuridão sem fim.

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