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Sinto meu coração bater fortemente assim que as lembranças aparecem em minha memória. Uma saudade terrível me toma, saudade dos seus beijos, dos "eu te amo" que ela me falava sempre quanto me via, dos seus sorrisos, abraços, caricias, dela...

- Por hoje já está bom, Dayane. - Dra. Evangeline fala, assim que percebe uma lágrima solitária escorrer sobre minha bochecha. - Foi um grande avanço para o segundo dia...

Ela diz mais algumas coisas, mas eu não consigo entender, minha mente está concentrada em Carol. Depois que Evangeline me libera, eu me levanto da cadeira com cuidado e pego minhas muletas, caminhando para fora da sala com a ajuda delas.

Eu odeio ter que andar com isso, odeio ter esse gesso cobrindo metade de minha perna junto com essa bota horrível, e, acima de tudo, me odeio por eu e ela estarmos da forma que estamos por minha culpa.

Quando chego no corredor de espera, vejo Vitão sentado em uma das cadeiras enquanto mexe no celular. Ele havia vindo comigo hoje, já que minha mãe não pôde por conta do trabalho. Vitão levanta a cabeça assim que ouve o barulho das muletas tocando o chão.

- Precisa de ajuda? - pergunta se levantando e vindo até mim. Nego com a cabeça.

- Não precisa, eu consigo sozinha. - murmuro e ele concorda com a cabeça. Antes ele discutiria comigo, mas agora ele entendeu que gosto de ser independente, mesmo que a independência doa um pouco.

- Então vamos? - se vira.

- An... Vitão? - o chamo. - Eu queria... queria ver ela.

- Tem certeza? - assinto. - Certo, vou ver na recepção se você pode ir até lá.

Sei que ele perguntou se eu tinha certeza apenas por se preocupar comigo, lembrando da última vez. Me sento em uma cadeira e, depois de alguns minutos, ele retorna, colocando um pequeno crachá branco com o nome "visitante" em minha blusa.

- Você sabe onde é o quarto! - fala. - Quer que eu vá com você? - pergunta preocupado.

- Não. - nego. - Não precisa, quero ficar sozinha com ela! - afirmo.

Ele assente com a cabeça e se senta na cadeira, falando que vai me esperar. Respiro fundo e vou até seu quarto lentamente, eu já sabia qual era o número do seu quarto, pois venho aqui sempre que posso.

Passo pelos corredores brancos e sem graça do hospital com o coração batendo forte em meu peito. Eu nunca iria me acostumar a vê-la daquela forma, nunca! Só de lembrar do estado que ela se encontrava aquele dia meu coração se partia.

Finalmente chego em frente ao lugar desejado. Quarto 202. Bato na porta delicadamente e a abro em seguida, dando de cara com Roseli sentada em uma poltrona branca.

- Dayane, querida. - sorri ao me ver. - Não pensei que fosse vim hoje.

- Eu vim... hum, conversar com a doutora Evangeline e decidi passar aqui para vê-la. - aponto para a cama envergonhada, desviando o olhar.

Eu não consigo manter o contato visual com os pais de Carol por muito tempo, me sinto mal por saber que, por minha culpa, a filha deles está assim, mesmo eles dizendo que não tenho culpa de nada. Ainda não entendo como eles conseguem não sentir raiva de mim depois de tudo.

- Fico feliz que decidiu seguir nosso concelho. - se aproxima de mim, colocando uma mão em meu ombro e me olhando carinhosamente. - Saiba que todos nós queremos seu bem, assim como queremos o bem da Carol. Você é importante para nós, Dayane! Para ela! Sei que, quando ela acordar, vai querer de ver bem! - suspira e me dá um beijo na testa. - Vou deixar vocês duas à sós e aproveitar para ir na lanchonete comer alguma coisa. - sai.

Olho para a cama e suspiro, caminhando até lá e me sentando na poltrona que tem ao seu lado. Observo seus cachos ruivos que caiam sobre o travesseiro coberto por uma fronha branca, eles não tinham o mesmo brilho de antes, estavam apagados, como se estivessem dormindo junto à ela. Sua pele, que antes tinha um leve tom de rosa na parte das bochechas, estava pálida. Há alguns arranhões em sua bochecha, um corte no supercílio, em seu lábio inferior e em seus braços. Isso com certeza não me ajudava a me sentir melhor.

- Oi, gatinha.- sussurro pegando em sua mão. - Quando é que você vai acordar ein? Sei que você gosta bastante de dormir, mas já passou tempo demais! - meus olhos começam a arder ( N/A: os meus tbm :(

O aparelho que mostra seus batimentos cardíacos começa a mostrar eles acelerando e eu sorrio com isso. Fico feliz quando isso acontece, pois significa que ela está me ouvindo, mesmo não podendo falar nada e nem abrir seus olhos. O médico disso que é sempre bom a família ou alguém bem próximo conversar com ela, isso ajuda com que ela recupere a consciência mais rápido.

- Hoje eu tive minha segunda sessão com a doutora Evangeline, a psicóloga que eu havia mencionado para você em nossas últimas conversas. - volto a falar, apertando levemente sua mão. - Eu conversei com ela sobre você, sobre nós. Eu... eu finalmente consegui falar com alguém sobre a gente depois do acidente, me doí lembrar da época em que nós éramos felizes, porque me faz lembrar que você está neste estado por minha causa. - seus batimentos tornam a acelerar. - Não adianta discordar como os outros, eu sei que é minha culpa. Se eu não tivesse te chamado para aquela maldita festa nada disso teria acontecido, você estaria bem, bem aqui comigo. Sorrindo para mim, me beijando, me abraçando. Sabia que seus abraços são os melhores? - soluço entre as lagrimas. - Eu sinto tanta falta deles! Tanta falta de você! Por que não acorda logo? - trago sua mão gelada para perto da minha boca e dou um beijo nas costas dela carinhosamente. - Eu te amo, ruiva, muito!



  

Ágape (2° Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora