》5《

2.1K 174 58
                                    


No outro dia quando eu acordei, estava no hospital, deitada em uma maca tomando soro com meus pais ao meu lado, sentados nas poltronas que haviam no quarto, tinha alguns curativos espalhados pelo corpo e já estava com a perna engessada.

Um casal de idosos havia nos encontrado no meio da estrada algumas horas depois do acidente. Demorou bastante, pois a avenida que eu havia pegado naquela noite não é nada movimentada.

O caminhão tinha batido de frente com meu carro, fazendo ele capotar. No inicio não avisaram nada sobre Carol, só fizeram alguns exames em mim e me colocaram para dormir novamente. Só quando acordei, horas mais tarde, que me avisaram que ela havia entrado em coma, depois de ter batido a cabeça com força no vidro do carro.

Depois de receber essa notícia entrei em desespero e já quis vê-la, mas não deixaram, pelo menos não naquele momento. No outro dia, quando a vi pela primeira vez depois do acidente, uma crise terrivel de choro me tomou. Comecei a me culpar por ela estar daquela forma, chorava todos os dias deitada na minha cama lembrando dela. Certo, ela não tinha morrido, eu sabia disso, mas mesmo assim não amenizava o peso da culpa. Eu deveria ter prestado mais atenção na estrada.

- Day? - ouço Rose me chamar da porta.

- Hum? - murmuro em resposta, secando as lágrimas que desceram por meu rosto involuntariamente com as costas de minha mão.

- Desculpe, eu sei que você gostaria de ficar mais um pouco com ela - fala. -, mas o horário de visitas acabou. Você tem que ir.

- Está tudo bem. - suspiro e dou um beijo na testa da ruiva. - Amanhã eu volto viu? Te amo muito! - sussurro e me afasto.

Me despeço de Rose e sigo para fora da sala com a ajuda das muletas e com o coração apertado. É sempre ruim deixa-la. Ao chegar do lado de fora da sala, dou apenas alguns poucos passos e já sou interrompida por alguém topando em mim, me fazendo ir de encontro ao chão. As muletas escorregam e vão parar no outro lado da sala, e uma dor se apossa em minha perna.

Porra...

- Ai minha nossa senhora. - o individuo que me derrubou exclama. Não consigo ver a pessoa, pois meus olhos estão fechados devido à dor que estou sentindo, mas pela voz, identifico ser uma mulher. - Ai moça, me desculpa. Eu sou muito desastrada, meu Deus. E tu ainda 'tá com gesso na perna, ai. 'Tá quebrada é? - ela fala tão rápido e desesperada que eu quase não consigo entender. Ela tem um sotaque diferente, parecido com o de Álvaro, chuto que seja brasileira também. - Moça? 'Tá tudo bem? - pergunta mais calma.

Apenas concordo com a cabeça fazendo uma careta. Não recomendo essa dor para ninguém!

- Está tudo bem sim. - respondo respirando fundo.

Abro meus olhos e levanto meu olhar para observar a meliante que me fez parar no chão. Encontro uma mulher nova, tem cabelo castanho escuro liso, que vão até a altura do seu ombro e olhos do mesmo tom. É baixinha e tem a pele em um tom bronzeado, mas não tanto, usa óculos de grau de armação branca e redonda, o que achei que combinou muito com ela. A mesma me olha apreensiva, passando as mãos no cabelo em um gesto nervoso. É bonita, bastante bonita.

- An... moça? Quer ajuda para levantar? - pergunta ao ver eu tentando me levantar, obtendo o total de zero sucesso.

- Por favor.

Ela vem até mim e me ajuda a levantar, pegando minhas muletas e me entregando as mesmas.

- Olha, desculpa viu? - sorri nervosa. - Eu não tinha visto tu ai, tu apareceu do nada e eu 'tava olhado pro outro lado. Procurando uma amiga, sabe? Ai não te vi.

- Está tudo bem. - sorrio tentando fazer com que seu nervosismo acabe. - Eu também deveria ter prestado mais atenção no que acontecia em minha frente, mas estava com a cabeça meio longe.

- Tudo bem, mas mesmo assim a culpa é minha, viu? Tu não tenta amenizar ela não.

- Certo. - rio.

- Tu 'tá sentindo alguma coisa? Dor na perna? - pergunta. - Qualquer coisa?

- Não, está tudo bem, não se preocupe. - respondo. - Só uma pequena dor, mas já vai passar.

- Naclara mulher, onde era que tu 'tava enfiada? - uma mulher de cabelo cacheado claro, bonita e com o mesmo sotaque da morena à minha frente aparece falando. - Eita, que que foi que aconteceu aqui, menina?

O nome dela é Naclara? Estranho.

- Vi mulher, tu não vai acreditar: sem querer querendo bati nessa menina aqui e ela caiu no chão. - a morena fala com a cacheada, só que não entendo. Acho que estão falando em português. - Ai tu me fala a surpresa que eu tive quando vi a perna dela engessada? Entrei em pânico total, já pensou se eu tiver quebrado a perna dela mais do que já 'tá? Deus tem misericórdia de mim e não permita que isso aconteça.

Será que ela está me xingando?

- Tu é muito desastrada, Ana Clara. - Ana Clara? - Oi, meu nome é Vitória, sou amiga dessa aqui. - aponta.

- Sou Dayane. - sorrio para ela, que devolve.

- Ah, eu sou Ana Clara, viu? - a morena fala. - Mas me chama só de Ana.

- Tu ainda não tinha se apresentado para ela, garota? - Vitória fala.

- Eu esqueci, 'tá? 'Tava nervosa demais.

Fico ali apenas rindo delas. As duas falam de um jeito engraçado, elas são engraçadas. E bonitas, mas acho que já falei isso antes.

- Então... - começo a falar. - eu tenho que ir.

- Ah, 'tá. - fala Ana. - Foi um prazer, viu? E desculpa de novo pela queda.

- Já falei que está tudo bem. - repito. - Foi um prazer também.

Me despeço de Vitória também e saio caminhando, mais uma vez, em direção à sala onde havia deixado Vitão me esperando, dessa vez sem ninguém me interromper. Mas, antes de eu me afastar totalmente das duas, consegui ouvir um pouco da conversa delas:

- Ela é bonita! - Vitória fala.

- É, é mesmo. - agora é a Ana. - Cadê a Cecília?

- 'Tá esperando a gente lá no quarto com o Bruno.


      

  

Ágape (2° Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora