𝟶𝟺

11.1K 879 568
                                        

Jeon on

Não queria ficar nem mais um minuto ao lado dela, sabia que não daria certo. Procurei qualquer coisa nas estantes que me distraísse e a deixei fazendo os exercícios. Eu não podia me envolver assim, me abrir assim...

Maldita hora que eu fui ser bonzinho.

Folheei o livro antes de voltar pra mesa e a vi concentrada, com a caneta na boca. Droga, ela não fazia ideia do quão sexy estava. Que isso? No que estou pensando? Enlouqueci, só pode. Balancei a cabeça e segui.

— Conseguiu?

— Falta só a quarta questão. Esse termo...

— Ah...o processo de carcinogênese, ou seja, de formação de câncer, em geral dá-se lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa origine um tumor detectável.

— Entendi. - me encarou. - Obrigada. - fechou o livro e colocou na bolsa.

— Nada...- fomos até a saída e chovia tanto, percebi ela travar. - Vai a pé? Na chuva?

— É o jeito. - deu de ombros.

— Te dou carona. - falo simplista e se surpreende.

— Se não se importa...

— Nem um pouco. - andamos até a garagem, entramos e eu diria que o espaço fechado contribuiu para que aquelas sensações aumentassem.

— Tem certeza de que não vou te atrapalhar?

— Tenho. - sorrio. - Fique tranquila. Onde mora? - liguei o carro.

— Vou colocar no GPS e ele te guia, ainda sou nova nisso de morar sozinha. - sorriu.

— Oh...

Liguei o rádio e vejo que cantava baixinho. O trânsito estava livre e eu quis me concentrar nisso.

— Por que é tão bom comigo?

— Não sei. Acho que o seu jeito frio me fez perceber que eu precisava mudar. - dei de ombros.

— Hm. - me olha. - Quando eu entrei na faculdade, me disseram que você era uma pessoa reservada. Talvez você só tenha medo de se abrir.

— Medo não. A verdade é: professores não podem se misturar. Todos que fizeram uma hora foram demitidos. Esse emprego é tudo pra mim, logo não vale a pena o risco.

— O risco...- repetiu e olhou pela janela.

— Inclusive te dar carona é um risco.

— Ah é? - sorriu divertida.

— Claro. Se descobrirem que eu fiz isso, vão pensar que tenho preferência por você. Uma coisa leva a outra e...

— E...? - paramos atrás de um carro. Ótimo, vamos ficar assim um tempo.

— Você me entendeu.

— Hm...não. - nos encaramos.

— Há alunos que procuram passar por meio de ações nada invejáveis.

— Isso já aconteceu com você? Achei que meus amigos só estavam exagerando...

— Acontece sim. É bem ridículo porque a pessoa normalmente está desesperada pra passar. - expliquei.

— Entendo. Deve ser chato mesmo. Você vê o aluno no semestre seguinte e lembra do que ele disse.- assenti.

— Mas eu não me abalo com isso. É indiferente.

— Ah...- encosta a cabeça no banco e fecha os olhos. - Que sono. - sorrio.

— Pode dormir se quiser.

𝚃𝚎𝚊𝚌𝚑𝚎𝚛'𝚜 𝚙𝚎𝚝Onde histórias criam vida. Descubra agora