Adrien dirigiu tão atordoado que quase atropelou um casal que atravessava a rua. Ele teve que se acalmar passando um tempo dentro do carro antes de entrar na casa da sua mãe, mas nada ajudava.Aquela porcaria de rádio tocando uma música bonita no fundo, o frio que a noite fazia, sua roupa, o seu corpo inteiro impregnado ainda ao perfume dela...
Mas o pior de tudo, era ainda sentir o sabor dos lábios dela nos seus e toda o tesão acumulado dentro sei, pulsando pelo corpo dela, para fazer amor com ela.
Pôde ver pelo retrovisor que sua boca estava avermelhada pelo batom. Suspirou deixando todo o ar sair de dentro para fora, como se tentasse se esvaziar daquele peso que apertava suas estruturas. Era uma sensação ruim, de angústia que o fazia pensar que tinha feito besteira. Era obvio que sim, a quem queria enganar?
Limpou a boca, olhando para o lado vendo o banco vazio do carona o que só fez pensar - Era isso mesmo que queria? Estar aqui sozinho mais uma noite... amanhã... depois de amanhã... e porque? Aonde pretende chegar assim...?
Já estava saturado. Saiu do carro batendo a porta, apertando a campainha da casa onde aguardou impaciente sua mãe aparecer com um leve ar de preocupação em seu rosto. Ela o questionou pela demora e ele teve que mentir. Não diria que estava com Marinette, não queria que ela soubesse do que tinha ocorrido com os dois e muito menos do passa fora que tinha dado na mestiça. Iria chamá-lo de idiota, pois ele mesmo já se condenava a isso. Então pegou Emma que parecia ter se acalmado um pouco e a levou para casa.
Uma vez lá, a fez tomar mais um banho, esquentou um pouco de mingau e a serviu na cama, sentado-se com ela em seu colo. Enquanto acariciava seus cabelos, mantinha-se com os olhos atentos ao redor.
O quarto vazio, silencioso, os dois mais uma vez na escuridão. A criança já estava acostumada, ela apenas ficava quietinha naqueles momentos. Era como se sentisse o que se passava no coração do seu pai, que especificamente, naquela noite se encontrava muito mais pesado do que nos dias comuns.
Adrien novamente olhou para seu lado visualizando o lado da cama vazio. De forma que aos poucos, sua mente foi criando uma ilusão no qual ele mesmo sabia que se tratava de mais uma peça da sua cabeça louca.
Pôde ver Marinette sentada ali, da maneira que ele mesmo se encontrava, com as costas recostadas na cabeceira. Ela sorriu alegre, como sempre, aproximando-se para acariciar os cabelos de Emma e lhe dar um beijo. Logo em seguida, elevou seu rosto próximo ao dele, dando-lhe um beijo nos lábios devagar. Depois afastou-se e linda até o fim o encarou profundamente.
- Eu amo você... - sua boca se moveu sem emitir som algum e novamente ela sorriu.
Sua imagem foi aos poucos sumindo até que ele piscasse mais uma vez e não visse mais nada. Não havia ninguém ali e agora Marinette se encontrava mais longe do que nunca, ela provavelmente não iria querer mais nada com ele. O que deveria lhe trazer tranquilidade afinal, não era isso que queria? Protegê-la de si mesmo, dos seus medos, das misérias que cercavam sua vida?
Ainda que no fundo, bem no fundo... a merda do "e se" viesse a tona lhe mostrando várias e várias vezes que poderia ser feliz com ela. Se tivesse lhe dando uma chance, não estaria sentado naquela cama remoendo sua decisão contrária. Na verdade, ela poderia estar ali com ele, quem sabe? Não através de uma miragem ridícula, ou de pensamentos infundados de um idiota! Uma babaca, um imbecil, um frouxo, um... covarde!
Comprimiu os olhos relaxando todo o corpo, apenas seu braços se mantiveram "rígidos" em torno de Emma que já apresentava sinais de sono. Ele deixou que ela terminasse de mamar, a colocou na sua cama, tomou um banho.
Nem comeu nada, não estava com a mínima fome indo dormir logo em seguida, mantendo Emma ao seu lado daquela vez. Pois não queria acordar no meio da noite tomado por pensamentos ruins e não ver um rosto reconfortante... um rosto que o amasse.
Sofrendo por algo que não conseguia mais deixar de se perguntar... Era para ser assim? Era para ter SIDO assim?
A mesma coisa na qual Marinette se perguntava.
Voltou para casa sozinha, indo direto para o banheiro e tomar uma ducha quente, não queria passar frio de jeito nenhum, bastava seu coração, a própria solidão que carregava consigo. Entretanto, a lembrança dos momentos anteriores insistiam por atormentá-la.
Ah Céus... aqueles lábios, aquele beijo que trocou com Adrien, o segurando tão forte, o sentindo perto de si. Ele era tão alto que a fazia se sentir menor, mas não menos importante, presente. Conseguiu retribuí-lo no beijo da mesma maneira e sentia que poderia ser assim, quando fizessem amor... Ela não o deixaria sozinho. Iria dar a ele todo o prazer que buscava ter em troca no seu corpo. Iria permiti-lo acariciar sua pele, a retirar seu vestido, a despindo sobre os lençóis que tanto desejou compartilhar com ele. Perfumados de alfazema, amor e luxúria. Só os dois, a noite inteira, seria magnífico.
Mas infelizmente o coração de Adrien não se encontrava nessa mesma sincronia. Ele vivia e pertencia à outro mundo, no qual não permitiu sua entrada, trancando-se de vez em uma prisão envolta dele mesmo. O que até certo ponto, o entendia, mas não lhe dava razão.
Porque ele não lhe deu uma chance de se quer tentar, julgando com a sua própria cabeça confusa que os dois estavam fadados a não darem certo! Por Deus, como ele poderia pensar assim?
Se no próprio beijo que trocaram, nos seus olhos, poderia ver que todas aquelas coisas que havia dito era mentira. Estava se enganando, tentando afastá-la, quando ele mesmo sabia que não era isso que seu coração sentia.
Mas Adrien deveria aprender uma lição. Ele deveria entender que tentar reter sua vida da felicidade que só se encontra no amor correspondido, muitas das vezes traz mais infelicidade do que um amor esquecido, abandonado. Talvez, se ele compreendesse isso... poderia abrir seus olhos.
Por tanto Marinette resolveu que iria aguardar. Ela não estava disposta a desistir tão fácil assim, e não poderia fazer muita coisa para tentar se conter pois ela o queria, e até que ele fosse o pior para o seu coração, não iria abrir mão de querer estar com aquele bobo cabeça-dura! Nem que demorasse um pouco, ou até mais do que deveria... Ela iria tentar mais uma vez.
Uma única vez.
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Looking into your eyes
RomanceQuando você menos espera. Quando o seu coração se encontra cansado e abandonado, sozinho, sem esperanças. O amor pode aparecer pelas vias mais prováveis e se mostrar na sua frente, com um belo sorriso no rosto. [Adrientte] x [Lukanette]